Capítulo 1: Diferente.

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A vida é cheia de mudanças. Mudar faz parte da vida. Em seu curso natural, tudo muda, tudo se modifica, tudo ganha um novo fluxo.

Para alguns, as mudanças são mais fáceis e aceitáveis do que para outros. Quando elas acontecem por acaso e por ordem natural das coisas, pode ser até divertida e empolgante. Mas quando acontecem por meio de tragédias e na tentativa inesperada de sobreviver a uma ocasião demasiadamente desesperadora, certamente será a coisa mais indesejável no momento.

Para Ginny Weasley, as mudanças nunca foram favoráveis. Aquilo que era estável, era o que mais valia. Em ordens naturais, as mudanças que ocorreram no último verão já seriam desgostosas por si só, no entanto, devido a calamidade mais devastadora de sua vida até o presente momento, as últimas mudanças eram mais que indesejáveis: se tornaram, na verdade, o seu pior pesadelo.

— Eu estou com raiva, Ronald! – cochichou ao irmão enquanto esperava sua grade de horários ficar pronta no balcão da silenciosa secretaria de seu novo colégio. Rony costumava ser leal e companheiro, mas na mesma proporção era intrometido e sem noção. É claro que ela não estava tendo um dia bom e tampouco se sentia bem ou feliz; sua expressão corporal despretensiosa servia como uma armadura para esconder a carga sentimental negativa e frustrada dentro dela. Rony sabia disso pois acompanhara de perto os dias mais tenebrosos do último verão. Todavia, parecia ser mais confortante e esperançoso para o garoto sempre questionar se ela estava bem. — É claro que eu não estou bem! Faz tempo que eu não estou bem! Eu odeio esse colégio, eu odeio estar aqui! Olha para esse uniforme, quem usa uniforme nos dias de hoje?! As pessoas estão vestidas para um casamento enquanto estudam matemática! Me sinto em uma taverna medieval com essas luzes baixas e essas paredes envernizadas! Como vocês gostam desse lugar?

A expressão levemente assustada de Rony denunciou que fora pego de surpresa.

— Ei, foi mal – ele ainda tinha esperanças de que a irmã lhe desse uma resposta positiva e confiante ao menos na quinta vez que lhe questionasse. — Eu só estou querendo ajudar...

Ginny não saberia dizer como voltou a enxergar depois de virar tanto seus olhos.

Rony se afundou em seus braços cruzados. Sua expressão frustrada tomou conta do menino, mas se misturou com certa irritação controlada. Se fosse antes do verão, certamente a deixaria ali, sozinha e perdida naquele colégio gigante para lidar com essa nova personalidade emburrada e irritada. Hoje em dia, não possuía coragem nenhuma para fazer isso – até porque bem sabia que antes do verão, Ginny também não possuía aquela personalidade.

— Me desculpa – disse a garota. Quando Rony a encarou novamente, ela parecia tão arrependida quanto ele de perguntar cinco vezes se ela estava bem. — Foi mal, Ron. Sério. Você está sendo ótimo, muito obrigada por se preocupar! Sei que cuida de mim – seu meio sorriso parecia buscar ser convincente, mas sempre com pouco êxito. — Sei que quer meu bem, também. Sei que está feliz porque estou aqui... Você sempre quis que eu estivesse aqui.

Rony se contorceu.

— Não precisa exagerar...

A pequena risada genuína de Ginny recompensou a piada. Ela lhe deu um leve tapa no braço. Rony ficou mais aliviado.

— Eu vou ficar bem...

— Você não precisa dizer isso só pr...

— Eu não estou dizendo isso só para te confortar, Rony – não tinha muita certeza dessa afirmação. — Ano novo, vida nova. Ainda que esta vida nova seja neste colégio de gente chata que usam roupas de casamento para estudar matemática – o suspiro de lamentação funcionou minimamente para recuperar suas forças após sua tenebrosa reflexão. — Eu vou ficar bem, ok?

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⏰ Última atualização: Oct 13 ⏰

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