Só os maus - explicou Holiday a caminho do refeitório, quando Kylie
estremecia toda vez que alguém se aproximava.
Será que Holiday tinha certeza de que não havia criaturas más no
acampamento? Algumas delas pareciam bem desagradáveis. Não que se achasse uma
especialista em distinguir os sobrenaturais bonzinhos dos malvados. Mas devia ser
mais ou menos como ela se sentia em relação a cobras e aranhas: havia as inofensivas
e as perigosas. Entretanto, por uma questão de segurança, evitava todas.
Ah, só esperava não ter que ficar alojada com nenhuma daquelas criaturas!
Sem dúvida, Holiday não esperava que ela dormisse numa cabana ao lado de alguém
que... Talvez se sentisse tentado a matá-la em pleno sono. Que ótimo! Precisaria
então dormir com um olho aberto durante dois meses!
A conversa entre os dois caras de terno preto e as líderes do acampamento
terminou e eles se prepararam para partir. Mas um deles, o mais alto, virou-se e
olhou diretamente para Kylie. E fez aquilo: arqueou as sobrancelhas. Kylie desviou o
olhar, mas sabia que ele continuava lá, de pé no mesmo lugar, ainda espiando e
contraindo a testa. Sentiu suas bochechas arderem.
A porta do refeitório se fechou, mas logo se abriu de novo. Kylie ergueu o
rosto e viu os outros adolescentes entrando. Tentou adivinhar o que cada um deles
seria à medida que desfilavam à sua frente: fada, bruxa, lobisomem, vampiro,
mutante. Haveria outros tipos de sobrenaturais? Iria perguntar a Holiday sobre os
diferentes tipos, inclusive o que significava "descendente dos deuses".
Tentou então classificar os tipos que já conhecia em um destes dois grupos:
sobrenaturais que não consideravam o homem parte da cadeia alimentar e
sobrenaturais que eram de outra opinião.
Derek atravessou a porta e Kylie se perguntou de que tipo ele seria, o garoto
deu alguns passos pela sala e olhou em volta. No momento em que os olhos de Derek
se encontraram com os seus, Kylie não teve mais dúvidas de que ele havia achado
quem estava procurando. Derek estava procurando por Kylie. Mesmo não sabendo o vizinhos, tendo de passar o resto da vida me depilando para vestir um biquíni. Gosto
de gatos e já tentei me depilar uma vez; dói pra caramba - passou a mão por entre
as coxas, lembrando-se do episódio.
Holiday deu uma gargalhada, mas Kylie estava falando sério. A depilação
realmente tinha doído e, desde aquele momento, nunca mais deixou Sara convencê-
la a fazer nada parecido.
- Você acha que vou suportar? - perguntou, com medo da resposta.
- Honestamente, não a conheço muito bem, mas confio no diagnóstico da
Dra. Day.
- O que minha psicóloga tem a ver com isso? - perguntou Kylie, intrigada.