Capítulo 1

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Rosa pov.

A última semana de férias estava sendo um verdadeiro desfile de festas e celebrações. Depois de meses intensos de treinos e competições, eu estava pronta para relaxar. As baladas, cheias de amigos e risadas, me permitiam esquecer as responsabilidades que logo voltariam a me cobrar.

Em uma dessas noites, enquanto a música tocava e as luzes dançavam ao meu redor, conheci uma mulher. Ela aparentava ter 25 anos, seus olhos brilhavam com uma intensidade que me atraiu imediatamente, havia algo na confiança dela que me fascinava. Conversamos e, em um impulso, decidimos ir para um hotel, deixando a festa para trás.

O quarto escuro e acolhedor se tornou um refúgio temporário, nos entregamos à intensidade da noite, criando memórias que eu sabia que não lembraria completamente ao amanhecer. Quando o sol entrou pela janela, trazendo a realidade de volta, acordei, encarei a mulher de bruços ao meu lado e ela era linda, mas era meu costume sair sem deixar rastros, como uma sombra que desaparece ao amanhecer.

Depois de me vestir, fui embora, pensando em como era fácil desconectar-me das pessoas, mesmo em momentos tão intensos. Ao chegar em casa, uma mistura de adrenalina e nostalgia me acompanhava, mas a vida seguia e eu tinha treinos para retomar.

No dia seguinte, o clima na concentração da seleção estava tenso, as jogadoras murmuravam sobre as novidades, mas não entendi bem até Betinha chegar ao meu lado e começar a falar.

— Você sabia disso? — olhei confusa.

— O Zé vai se aposentar e quem vai ficar no lugar dele é a filha.

— O Zé tem outra filha? — conhecíamos a família dele e nenhuma filha iria assumir a seleção.

— Sim, ela morava na Itália, voltou ao Brasil a convite da CBV.

As palavras de Betinha ecoaram na minha mente, o Zé sempre foi um pilar na nossa equipe, e a ideia de sua filha assumir esse papel tão importante era, no mínimo, intrigante. Eu não conseguia imaginar como seria treinar sob a liderança dela.

— Você sabe como ela é? — perguntei, tentando conter a curiosidade.

— Não muito, mas ouvi que ela estava como auxiliar técnica já em um clube top lá fora. Tem muito potencial.

Um misto de ansiedade e expectativa começou a crescer dentro de mim, e se sua chegada mudasse a dinâmica do time? O que isso significaria para mim?

Nos próximos dias, a notícia se espalhou como fogo em palha seca, o treino parecia mais intenso, cada uma de nós se esforçando para se destacar. Eu queria mostrar que ainda tinha meu lugar, mas a verdade era que a insegurança começava a se infiltrar em minha mente.

Naquela noite, após o treino, voltei para casa exausta, mas com um peso extra no coração, olhei para o espelho e pensei na mulher que conheci na festa, como uma fuga temporária das incertezas da vida. Era fácil se perder na intensidade dos momentos, mas e quando a realidade exigisse mais de mim?

Decidi que precisava me focar, o campeonato estava se aproximando e, com ele, as escolhas que determinariam nosso futuro. E, quem sabe, talvez a chegada da filha do Zé fosse a mudança que eu precisava para me reerguer.

No dia seguinte, enquanto me preparava para o treino, minha mente ainda girava em torno da nova técnica, eu precisava conhecê-la melhor, entender sua visão, e quem sabe até me inspirar na confiança que ela poderia trazer. A competição estava a apenas algumas semanas, e eu estava determinada a dar tudo de mim.

Com o coração acelerado, entrei no ginásio, as risadas e conversas ecoavam, mas eu mal conseguia prestar atenção. Todos estavam ansiosos para conhecer a nova treinadora, e eu também. Quando as portas se abriram e ela entrou, a sala silenciou, seus olhos brilhavam com a mesma intensidade que eu lembrava da noite anterior.

Destino - RosamariaOnde histórias criam vida. Descubra agora