Na mala do carro tinham muitas memórias... do teu cheiro... da tua voz... de ti... Preciso de destruí-la.
Enquanto pegava no martelo, comecei a relembrar me de tudo que passamos juntos. Cada passo que dava traziam-me muita dor e raiva ao mesmo tempo. Destruir aquela mala significava para mim esquecer-me do passado e continuar a vida como se não tivesse acontecido nada.
Então finalmente com a cara a escorrer lágrimas, levantei o martelo e comecei a marretar a mala do carro. A cada golpe que dava, mais força fazia.
Quando dei por mim destruí a mala por completo e com ela o desejo de esquecer não passava de um desejo. Continuei a lembrar me de tudo.
Olhei entre as cortinas da janela do meu quarto e reparei na frieza da noite. Peguei num casaco e fui em direção à cordoaria. Quando cheguei lá pensei em viver ao máximo e o presente, o amanhã não importa. Vou beber o quanto desejar e fazer o que me vier a cabeça. Entrei no Plub Cascata, passei pelos seguranças e fui em direção da minha amiga Helene. A Helene já tinha começado a beber e estava a flertar com um rapaz sentado no bar. O rapaz não tirava os olhos de Helene e começou a sorrir. Quando eu estava a chegar ao lado dela, uma moça ruiva um pouco mais nova que Helene, levantou-se do canto do bar, perto de lá, e correu em direção a ela.
- TAS MALUCA PUTA? QUERES PROBLEMAS CARALHO? SAI DE CIMA DO MEU NAMORADO.
E do nada só prega uma chapada na Helene e ela vomita para cima dela.
A moça ficou furiosa e gritava enojada. Ia bater de novo na Helene mas eu cheguei a tempo e levei-a embora.
- Helene? Nem me deixaste beber desta vez... disse enquanto a carregava para a casa de banho do Plub.
Ela pareceu ter acordado um bocado então lavou a boca no lavatório. Ela não estava tão suja, a outra moça por outro lado...
Trazê-la para a casa de banho não foi uma boa ideia. Claramente a moça tinha que se limpar depois de levar com aquele vomito todo. Mas desta vez ela parecia diferente, parecia mais calma.
Eu puxei a Helene para dentro da cabine da casa de banho e deixei a porta semi-aberta.
A moça encarou o espelho enquanto limpava o vomito do seu top preto, [felizmente não tinha vomito no casaco verde escuro dela, parecia realmente caro] olhou para os lados para ver se via alguém por perto e por fim tirou o casaco revelando então os seus ombros delicados. O ombro direito dela tinha um sinal pequeno e um pouco a baixo, um pouco à mostra do top dela, tinha uma pisadura não muito recente mas ainda parecia doer.
Helene, ainda bebada, abre a porta da cabine e vai ter com a moça.
A moça põe o casaco rapidamente e olha chateada para Helene.
- Estavas ai escondida o tempo todo? Não tens nada melhor para fazer?
- Estás bem? - pergunta Helene enquanto passa a mão no cabelo dela e olha para ela com olhos carinhosos.
A moça fica um tempo a olhar nos olhos de Helene e depois volta à real.
- Mete-te na tua vida! Eu ia esquecer o facto de estares a flertar com o meu namorado e vomitares me toda pelo simples facto de estares bebada, mas se continuares a chatear-me não vai acabar assim. Grita a moça que acaba por descontrolar-se e deixa cair algumas lágrimas.
Helene desliza a mão devagar em direção ao zipper da sua mala, abre-a e anda com a mão às voltas como quem procura algo.
A moça observa atentamente Helene com uma cara confusa mas triste.
Então Helene tira um pacote de lenços e retira um lenço de dentro. E lentamente leva-o em direção da cara da moça e passa nas lágrimas.
A moça olha nos olhos de Helene confusa mas também agradecida.
- Eu posso fazer isso. Obrigada. Diz a moça timidamente enquanto tira o lenço da mão de Helene.
- LAUREN QUERO IR EMBORA, ouve-se uma voz masculina do lado de fora.
A moça estremeceu e foi em direção à porta enquanto olhava para Helene.
Helene volta a meter a mão na bolsa, retira de lá um cartão da empresa que trabalha e entrega a Lauren.
Lauren pegou no cartão e meteu no bolso e foi se embora.
Dai finalmente sai da cabine da casa de banho e fui ter com Helene.
- Por mim já deu por hoje e nem precisei de beber. Disse lhe enquanto saiamos da casa de banho.
Entrei no carro e fui leva-la a casa na direção oposta da minha. Levei-a para dentro de casa troquei-lhe a roupa e deitei-a.
Estava a voltar para casa quando passei pela cordoaria e vi um moço sentado na berma da estrada. Ele parecia muito bebado. Então sai do carro e perguntei se ele estava bem.