Encaro a mim mesma no espelho, frustrada. Maldito cabelo, que simplesmente não me obedece, e maldita Katherine Kavanagh que resolveu ficar doente e me submeter a essa tortura. Eu deveria estar estudando para as provas finais, que são daqui a uma semana, mas estou tentando amansar meu cabelo com a escova. Não devo dormir com ele molhado. Não devo dormir com ele molhado. Recitando várias vezes esse mantra, tento, mais uma vez, escová-lo até domá-lo. Reviro os olhos, exasperada, e fito a garota pálida de cabelo castanho e olhos azuis grandes demais para o rosto que me devolve o olhar, e desisto. Minha única opção é prender o cabelo rebelde num rabo de cavalo e torcer que eu esteja mais ou menos apresentável. Kate é a garota com quem divido a casa, e ela escolheu logo hoje para ser vencida pela gripe. Portanto, não pode fazer a entrevista que conseguiu, com um megamagnata industrial de quem nunca ouvi falar, para o jornal da faculdade. Então ela me convocou como voluntária. Preciso meter a cara para as provas finais, tenho um ensaio para terminar e devia trabalhar hoje à tarde, mas não: vou dirigir duzentos e setenta quilômetros até o centro de Seattle para encontrar o enigmático CEO da Grey Enterprises Holdings, Inc. Como empresário excepcional e principal benemérito de nossa universidade, seu tempo é extraordinariamente precioso — muito mais precioso que o meu —, mas ele concordou em falar com Kate. Uma grande conquista, diz ela. Malditas atividades extracurriculares de Kate. Ela está encolhida no sofá da sala. — Ana, me desculpe. Levei nove meses para conseguir essa entrevista. Vou levar mais seis para remarcar, e a essa altura nós duas já estaremos formadas. Como editora, não posso cancelar tudo. Por favor — Kate implora, com a voz rouca por causa da dor de garganta. Como ela faz isso? Mesmo doente, está graciosa e muito bonita, o cabelo louro-avermelhado no lugar e os olhos verdes luminosos, apesar de um pouco congestionados e lacrimejantes. Ignoro meu sentimento inoportuno de solidariedade. — Claro que vou, Kate. E você deve voltar para a cama. Quer um remédio para gripe? Ou um Tylenol? — Um remédio para gripe, por favor. Aqui estão as perguntas e o meu gravador. Basta apertar esse botão. Tome notas, eu transcreverei tudo. — Não sei nada sobre ele — murmuro, tentando em vão conter meu pânico crescente. — As perguntas vão ajudá-la. Vá. A viagem é longa. Não quero que se atrase. — Tudo bem. Estou indo. Volte para a cama. Fiz uma sopa para você esquentar mais tarde. — Olho para ela com carinho. Só por você, Kate, eu faria isso. — Vou esquentar. Boa sorte. E obrigada, Ana. Como sempre você está salvando a minha vida. Pego minha mochila, lanço-lhe um sorriso irônico e depois saio para pegar o carro. Não posso acreditar que Kate me convenceu a fazer isso. Mas Kate consegue convencer qualquer um a fazer qualquer coisa. Ela vai ser uma jornalista excepcional. É articulada, forte, persuasiva, sabe argumentar bem, é bonita — e é minha melhor e mais querida amiga. * * * AS RUAS ESTÃO VAZIAS quando saio de Vancouver, Washington, em direção à Rodovia Interestadual 5. É cedo, e não preciso estar em Seattle antes das duas da tarde. Felizmente, Kate me emprestou sua Mercedes esportiva CLK. Não sei bem se com Wanda, meu fusca velho, eu chegaria a tempo. Ah, a Mercedes é gostosa de dirigir, e os quilômetros deslizam à medida que piso fundo no acelerador. Meu destino é a sede da empresa global do Sr. Grey. Trata-se de um prédio comercial de vinte andares, todo de vidro e aço, um desses projetos arquitetônicos excêntricos, com o nome GREY HOUSE escrito discretamente em aço em cima das portas de vidro da entrada. São quinze para as duas quando chego e, com grande alívio por não estar atrasada, entro no saguão imenso — e, para ser sincera, intimidante —, todo de vidro, aço e arenito. Atrás da mesa maciça de arenito, uma jovem loura muito atraente e bem-arrumada sorri para mim com simpatia. Está vestida com o mais elegante conjunto de terninho cinza e camisa branca que já vi. Parece imaculada. — Estou aqui para falar com o Sr. Grey. Anastasia Steele da parte de Katherine Kavanagh. — Um momento, Srta. Steele. Ela ergue a sobrancelha ligeiramente quando paro sem jeito à sua frente. Começo a desejar ter pedido emprestado um dos blazers formais de Kate em vez de ter vindo com minha jaqueta azul-marinho. Fiz um esforço, e vesti minha única saia, minhas botas até o joelho e um suéter azul. Na minha opinião, isso já é elegante. Ponho uma das mechas rebeldes do meu cabelo para trás da orelha, fingindo que ela não me intimida. — A Srta. Kavanagh está sendo aguardada. Assine aqui, por favor, Srta. Steele. É o último elevador à direita, vigésimo andar. — Ela sorri gentilmente para mim, sem dúvida se divertindo, enquanto assino. Ela me entrega um crachá com a palavra “visitante” estampada com firmeza na frente. Não consigo conter um sorrisinho. Está na cara que só estou de visita. Não me encaixo aqui de jeito nenhum. É sempre a mesma coisa, suspiro internamente. Agradecendo-lhe, vou até os elevadores passando por dois seguranças, ambos muito mais bem-vestidos que eu com seus ternos pretos bem-cortados. O elevador me leva zunindo, em alta velocidade, para o vigésimo andar. As portas se abrem e estou em outro amplo saguão — novamente de vidro, aço e arenito branco. Deparo com outra mesa de arenito e outra jovem loura, dessa vez impecavelmente vestida de preto e branco, que se levanta para me receber. — Srta. Steele, poderia aguardar aqui, por favor? — diz, apontando para uma área de espera com cadeiras de couro brancas. Atrás das cadeiras brancas, há uma ampla sala de reuniões com paredes de vidro e uma mesa igualmente ampla de madeira escura que tem ao redor pelo menos vinte cadeiras iguais. Além da mesa, há uma janela que vai do piso ao teto com vista para a cidade de Seattle. É uma paisagem incrível, e fico momentaneamente paralisada com a visão. Uau! Sento-me, pesco as perguntas na mochila e as leio, xingando Kate mentalmente por não ter me fornecido uma breve biografia. Não sei nada sobre o homem que estou prestes a entrevistar. Ele poderia ter noventa anos ou trinta. A incerteza é mortificante, e fico de novo com os nervos à flor da pele, o que me deixa agitada. Nunca me senti à vontade com entrevistas cara a cara, prefiro o anonimato de uma discussão em grupo onde posso me sentar sem ser notada no fundo da sala. Para ser franca, gosto mesmo é de ficar sozinha, lendo um romance inglês clássico, encolhida numa cadeira na biblioteca do campus. Não toda contraída de nervoso sentada num prédio colossal de vidro e pedra. Reviro os olhos para mim mesma. Controle-se, Steele. A julgar pelo prédio, que é asséptico e moderno demais, acho que Grey está na faixa dos quarenta anos: forte, bronzeado e com cabelo claro, para combinar com seus funcionários. Outra loura elegante e bem-vestida sai de uma grande porta à direita. Qual é a de todas essas louras impecáveis? Parece a reunião das mulheres perfeitas. Respiro fundo e me levanto. — Srta. Steele? — a última loura me chama. — Sim — grasno, e pigarreio. — Sim. — Pronto, esse soa mais seguro. — O Sr. Grey já vai receber a senhorita. Posso guardar sua jaqueta? — Ah, por favor. — Tiro a jaqueta com dificuldade. — Já lhe ofereceram algo para beber? — Hum, não. — Ai meu Deus, será que a Loura Número Dois está ferrada? A Loura Número Três fecha a cara e olha para a jovem à mesa. — Gostaria de chá, café, água? — pergunta, voltando novamente a atenção para mim. — Um copo d’água. Obrigada — murmuro. — Olivia, vá buscar um copo d’água para a Srta. Steele, por favor. Sua voz é severa. Olivia se levanta depressa e corre para uma porta do outro lado do saguão. — Peço desculpas, Srta. Steele, Olivia é nossa nova estagiária. Sente-se, por favor. O Sr. Grey a atenderá em cinco minutos. Olivia volta com um copo de água com gelo. — Aqui está, Srta. Steele. — Obrigada. A Loura Número Três marcha até a grande mesa, o clique dos saltos no chão de arenito ecoando no ambiente. Ela se senta e ambas continuam seu trabalho. Vai ver o Sr. Grey insiste em só ter funcionárias louras. Estou me perguntando se isso não é ilegal quando a porta do escritório se abre e um negro alto, bem-vestido e atraente, com dreads curtos, sai lá de dentro. Definitivamente, escolhi a roupa errada. Ele se volta para a porta e diz para o lado de dentro: — Golfe esta semana, Grey? Não escuto a resposta. Ele se vira, me vê e sorri, os olhos escuros franzindo nos cantos. Olivia já se levantou e chamou o elevador. Ela parece ser especialista em se levantar de um pulo. Está mais nervosa que eu! — Boa tarde, senhoras — diz ele ao entrar no elevador. — O Sr. Grey vai recebê-la agora, Srta. Steele. Pode entrar — diz a Loura Número Três. Estou imóvel e bastante trêmula, tentando controlar os nervos. Pego a mochila, abandono o copo d’água e me encaminho para a porta entreaberta. — Não precisa bater, basta entrar. — Ela sorri com simpatia. Empurro a porta, tropeço em meus próprios pés e caio estatelada no escritório. Merda: eu e meus dois pés esquerdos! Caio de quatro no vão da porta da sala do Sr. Grey e mãos delicadas me envolvem, ajudando-me a levantar. Que vergonha, maldita falta de jeito! Tenho que me armar de coragem para erguer os olhos. Caramba... ele é muito jovem. — Srta. Kavanagh. — Ele estende uma mão de dedos longos quando já estou de pé. — Sou Christian Grey. A senhorita está bem? Gostaria de se sentar? Muito jovem. E atraente, muito atraente. É alto, está vestindo um belo terno cinza, camisa branca e gravata preta, tem o cabelo revolto acobreado e olhos cinzentos vivos que me olham com astúcia. Custo um pouco a conseguir falar. — Hum. Na verdade... — murmuro. Se esse cara tiver mais de trinta anos, eu sou um mico de circo. Aturdida, coloco minha mão na dele e nos cumprimentamos. Quando nossos dedos se tocam, sinto um arrepio excitante me percorrer. Retiro a mão rapidamente, envergonhada. Deve ser eletricidade estática. Pisco depressa, no ritmo da minha pulsação. — A Srta. Kavanagh está indisposta, e me mandou no lugar dela. Espero que não se importe, Sr. Grey. — E seu nome é? A voz dele é quente, possivelmente está achando divertido, mas é difícil dizer por sua expressão impassível. Ele parece um pouco interessado, mas acima de tudo educado. — Anastasia Steele. Estudo Literatura Inglesa com Kate, hum, Katherine... hum... a Srta. Kavanagh, na WSU em Vancouver. — Entendi — diz ele simplesmente. Acho que vejo a sombra de um sorriso em sua expressão, mas não tenho certeza. — Quer se sentar? Ele me indica um sofá em L de couro branco. A sala é grande demais para uma pessoa só. Na frente dos janelões que vão do piso ao teto, há uma enorme mesa moderna de madeira escura, ao redor da qual seis pessoas poderiam comer confortavelmente. Ela combina com a mesinha de apoio ao lado do sofá. Todo o resto é branco — teto, chão e paredes —, a não ser a parede ao lado da porta, onde há um mosaico formado por pequenas pinturas, trinta e seis quadrinhos compondo um quadrado. São excepcionais: uma série de objetos corriqueiros pintados com detalhes tão precisos que parecem fotografias. Dispostos juntos, são de tirar o fôlego. — Um artista local. Trouton — diz Grey ao cruzar com o meu olhar. — São lindos. Tornam extraordinário um objeto comum — murmuro, distraída com ele e com os quadros. Ele inclina a cabeça e me olha com atenção. — Concordo plenamente, Srta. Steele — retruca em voz baixa e, por alguma razão inexplicável, me flagro corando. À parte os quadros, o restante da sala é frio, limpo e asséptico. Pergunto-me se reflete a personalidade do Adônis que afunda graciosamente numa das poltronas brancas de couro à minha frente. Balanço a cabeça, perturbada com o rumo dos meus pensamentos, e retiro as perguntas de Kate da mochila. Em seguida, configuro o gravador digital canhestramente, deixando-o cair duas vezes na mesa de centro diante de mim. O Sr. Grey não diz nada, aguardando com paciência — espero — enquanto fico cada vez mais sem jeito e nervosa. Quando arranjo coragem para olhar para ele, ele está me observando, uma das mãos relaxadas no colo e a outra segurando o queixo, passando o esguio dedo médio nos lábios. Acho que está tentando conter um sorriso. — Desculpe — gaguejo. — Não estou acostumada com isso. — Não tenha pressa, Srta. Steele — diz ele. — O senhor se incomoda se eu gravar a entrevista? — Depois de todo esse esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta? Enrubesço. Ele está me provocando? Acho que sim. Pisco para ele, sem saber bem o que dizer, e acho que ele fica com pena de mim, porque cede. — Não, não me importo. — Kate, quer dizer, a Srta. Kavanagh, explicou-lhe para o que era a entrevista? — Sim. Para sair na edição de formatura do jornal da faculdade, já que eu vou entregar os diplomas na cerimônia de graduação deste ano. Ah! Isso é novidade para mim, e fico temporariamente preocupada com a ideia de que uma pessoa não muito mais velha que eu — ok, talvez mais ou menos uns seis anos mais velha, e ok, muitíssimo bem-sucedida, mas mesmo assim — vai entregar meu diploma. Franzo a testa, direcionando a minha atenção rebelde para a tarefa em questão. — Ótimo. — Engulo em seco. — Tenho algumas perguntas, Sr. Grey. — Coloco uma mecha de cabelo desgarrada atrás da orelha. — Achei que poderia ter — diz ele, inexpressivo. Está debochando de mim. Minhas bochechas ficam vermelhas e eu me empertigo na cadeira, esticando as costas para parecer mais alta e mais intimidadora. Apertando o botão do gravador, tento parecer profissional. — O senhor é muito jovem para ter construído um império deste porte. A que deve seu sucesso? Olho para ele. Seu sorriso é enternecedor, mas ele parece vagamente desapontado. — Os negócios têm a ver com pessoas, Srta. Steele, e sou muito bom em avaliar pessoas. Sei como elas funcionam, o que as faz florescer, o que não faz, o que as inspira e como incentivá-las. Emprego uma equipe excepcional, e recompenso-a bem. — Ele faz uma pausa e me fita com aqueles olhos cinzentos. — Acredito que, para alcançar o sucesso em qualquer projeto, é preciso dominá-lo, entendê-lo por completo, conhecer cada detalhe. Trabalho muito para isso. Tomo decisões com base na lógica e nos fatos. Tenho um instinto natural capaz de detectar e promover uma boa ideia, e boas pessoas. No fim, o fator preponderante sempre se resume a pessoas competentes. — Quem sabe o senhor simplesmente tenha sorte. Isso não está na lista de Kate, mas ele é muito arrogante. Uma expressão de surpresa brilha rapidamente em seus olhos. — Não acredito em sorte ou acaso, Srta. Steele. Quanto mais eu trabalho, mais sorte pareço ter. A questão é realmente contar com as pessoas certas em sua equipe e saber direcionar a energia delas. Acho que foi Harvey Firestone que disse: “O crescimento e o desenvolvimento das pessoas é a maior ambição da liderança.” — O senhor fala como um maníaco por controle. — As palavras saem de minha boca antes que eu possa impedi-las. — Ah, eu controlo tudo, Srta. Steele — diz ele sem nenhum vestígio de humor no sorriso. Olho para ele, e ele sustenta meu olhar, impassível. Meu coração bate mais depressa, e meu rosto torna a corar. Por que ele me deixa tão nervosa? Será pela impressionante aparência física? Pelo olhar inflamado que dirige a mim? Pelo jeito de passar o dedo no lábio inferior? Queria que ele parasse de fazer isso. — Além do mais, é possível conquistar um imenso poder quando nos convencemos, em nossos devaneios mais secretos, de que nascemos para controlar — prossegue ele, com a voz macia. — Acha que possui um imenso poder? — Maníaco por controle. — Emprego mais de quarenta mil pessoas, Srta. Steele. Isso me dá certo senso de responsabilidade, ou poder, se quiser chamar assim. Se eu resolvesse não me interessar mais por telecomunicações e vendesse minha empresa, em um mês, mais ou menos, vinte mil pessoas teriam dificuldade para pagar suas hipotecas. Meu queixo cai. Estou estarrecida com sua falta de humildade. — O senhor não tem uma diretoria à qual precise responder? — pergunto, enojada. — A empresa é minha. Não tenho que responder a uma diretoria. — Ele ergue uma sobrancelha para mim. É claro que eu saberia disso se tivesse feito alguma pesquisa. Mas, cacete, ele é muito arrogante. Mudo de enfoque. — E tem algum interesse fora o trabalho? — Tenho interesses variados, Srta. Steele. — A sombra de um sorriso toca seus lábios. — Muito variados. E, por alguma razão, fico confusa e excitada com seu olhar constante. Seus olhos estão iluminados com algum pensamento perverso. — Mas se trabalha tanto, o que faz para relaxar? — Relaxar? — Ele sorri, revelando dentes brancos perfeitos. Prendo a respiração. Ele é mesmo bonito. Ninguém devia ser tão atraente. — Bem, para “relaxar” como você diz, eu velejo, voo, me entrego a várias atividades físicas. — Ele se mexe na cadeira. — Sou um homem muito rico, Srta. Steele, e tenho hobbies caros e apaixonantes. Dou uma rápida olhada nas perguntas de Kate, desejando mudar de assunto. — O senhor investe no setor manufatureiro. Por que, especificamente? — pergunto. Por que ele me deixa tão desconfortável? — Gosto de construir coisas. Gosto de saber como funcionam: o que faz com que funcionem, como construí-las e desconstruí-las. E tenho adoração por navios. O que mais posso dizer? — Parece que é o seu coração falando e não a lógica e os fatos. Ele repuxa o canto da boca, e me avalia com o olhar. — É possível. Embora muitas pessoas digam que eu não tenho coração. — Por que diriam isso? — Porque me conhecem bem. — Ele dá um sorriso irônico. — Seus amigos diriam que é fácil conhecê-lo? — Arrependo-me da pergunta tão logo a faço. Não está na lista de Kate. — Sou uma pessoa muito fechada, Srta. Steele. Esforço-me muito para proteger minha privacidade. Não dou muitas entrevistas... — Por que aceitou dar esta? — Porque sou benemérito da universidade e, em termos práticos, não consegui me livrar da Srta. Kavanagh. Ela não parou de importunar meu pessoal de relações públicas, e eu admiro esse tipo de tenacidade. Eu sei quão tenaz Kate pode ser. Por isso estou sentada aqui me contorcendo embaraçosamente sob o olhar penetrante deste homem, quando deveria estar estudando para as provas. — O senhor também investe em tecnologias agrícolas. Por que se interessa por essa área? — Não podemos comer dinheiro, Srta. Steele, e há muita gente neste planeta que não tem o que comer. — Essa justificativa soa muito filantrópica. É algo que o torna passional? Alimentar os pobres do mundo? Ele dá de ombros, muito evasivo. — É um negócio inteligente — murmura, embora eu ache que está sendo pouco sincero. Não faz sentido. Alimentar os pobres do mundo? Não vejo os benefícios financeiros disso, só a virtude do ideal. Dou uma olhada na pergunta seguinte, confusa com a atitude dele. — O senhor tem uma filosofia? Caso tenha, qual é? — Não tenho uma filosofia propriamente dita. Talvez alguns princípios orientadores. Como diz Carnegie: “O homem que adquire a habilidade de tomar posse completa da própria mente, pode tomar posse de qualquer coisa a que tenha direito.” Sou muito singular, ambicioso. Gosto de controlar, a mim e a quem me cerca. — Então gosta de possuir coisas? — Você é um maníaco por controle. — Quero merecer possuí-las, mas sim, em resumo, eu gosto.
— O senhor parece ser um consumidor voraz. — Eu sou. — Ele sorri, mas o sorriso não alcança seus olhos. De novo, isso não bate com alguém que quer alimentar o mundo, então não posso deixar de pensar que estamos falando de outra coisa, mas não faço a menor ideia do que seja. Engulo em seco. A temperatura da sala está subindo, ou talvez seja só a minha. Quero que a entrevista acabe. Com certeza Kate já tem material suficiente. Olho a pergunta seguinte. — O senhor foi adotado. Até que ponto acha que isso moldou sua maneira de ser? — Nossa, isso é muito pessoal. Olho para ele, torcendo para que não tenha se ofendido. Ele tem o olhar sombrio. — Não tenho como saber. Meu interesse aumenta. — Quantos anos tinha quando foi adotado? — Isso é assunto de domínio público, Srta. Steele. — Seu tom é severo. Droga. Sim, claro, se eu soubesse que iria fazer esta entrevista, teria pesquisado um pouco. Perturbada, prossigo depressa. — O senhor teve que sacrificar a vida familiar por causa do trabalho. — Isso não é uma pergunta — afirma ele, contido. — Peço desculpas — digo, esquiva. Ele me faz parecer uma criança idiota. Tento de novo: — O senhor teve que sacrificar a vida familiar por causa do trabalho? — Eu tenho família. Tenho um irmão, uma irmã e pais amorosos. Não tenho interesse em expandir minha família além desse ponto. — O senhor é gay, Sr. Grey? Ele respira fundo, e eu me encolho, mortificada. Droga. Por que não consigo filtrar de alguma forma o que leio? Como posso dizer a ele que estou apenas lendo as perguntas? Maldita Kate e sua curiosidade! — Não, Anastasia, não sou. — Ele ergue as sobrancelhas, um brilho frio nos olhos. Não parece satisfeito. — Peço desculpas. Está... hum... escrito aqui. É a primeira vez que ele diz meu nome. Minha pulsação se acelera, e minhas bochechas estão esquentando de novo. Nervosa, prendo minha mecha de cabelo desgarrada atrás da orelha. Ele inclina a cabeça. — Essas perguntas não são suas? O sangue se esvai do meu cérebro. — Hum... não. Kate... A Srta. Kavanagh. Ela compilou as perguntas. — Vocês são colegas no jornal dos alunos? Ah, não. Não tenho nada a ver com o jornal dos alunos. Essa é uma atividade extracurricular de Kate, não minha. Meu rosto está em brasa. — Não. Eu divido o apartamento com ela. Ele esfrega o queixo com calma e deliberação, os olhos cinzentos me avaliando. — Você se ofereceu para fazer esta entrevista? — pergunta, a voz mortalmente calma. Espere aí, quem deve entrevistar quem? Os olhos dele me queimam, e sou compelida a dizer a verdade. — Fui convocada. Ela está passando mal — falo com a voz fraca de quem se desculpa. — Isso explica muita coisa. Ouve-se uma batida na porta, e a Loura Número Três entra. — Sr. Grey, desculpe interromper, mas a próxima reunião é em dois minutos. — Ainda não terminamos aqui, Andrea. Por favor, cancele a próxima reunião. Andrea hesita, olhando-o boquiaberta. Parece perdida. Ele vira a cabeça devagar para encará-la e ergue as sobrancelhas. Ela fica toda cor-de-rosa. Que bom. Não sou só eu. — Está bem, Sr. Grey — murmura ela, e sai. Ele franze a testa e volta a atenção para mim. — Onde estávamos, Srta. Steele? Ah, agora voltamos a “Srta. Steele”. — Por favor, não quero incomodá-lo. — Quero saber sobre você. Acho que é muito justo. — Seus olhos estão acesos de curiosidade. Merda. Aonde quer chegar com isso? Ele põe os cotovelos nos braços da cadeira e ergue os dedos na frente da boca. Sua boca causa muita... distração. Engulo em seco. — Não há muito que saber — digo. — Quais são seus planos para depois que se formar? Dou de ombros, desconcertada com o interesse dele. Vir para Seattle com Kate, encontrar um trabalho. Não pensei muito além das provas finais. — Não fiz planos, Sr. Grey. Só preciso passar nas provas finais. — Para as quais eu deveria estar estudando agora, em vez de ficar sentada em sua sala palaciana, pomposa e asséptica, sentindo-me desconfortável com seu olhar penetrante. — Temos um excelente programa de estágios aqui — diz ele calmamente. Ergo as sobrancelhas, surpresa. Será que ele está me oferecendo um emprego? — Ah. Vou me lembrar disso — murmuro, completamente confusa. — Apesar de não ter certeza se me encaixaria aqui. — Ah, não. Estou pensando alto de novo. — Por que diz isso? — Ele inclina a cabeça, intrigado, um esboço de sorriso brincando em seus lábios. — É óbvio, não é? — Sou desastrada, malvestida, e não sou loura. — Não para mim — murmura ele. Seu olhar é intenso, agora desprovido de humor, e músculos desconhecidos dentro da minha barriga de repente se contraem. Desvio a vista de seu olhar examinador e encaro cegamente meus dedos entrelaçados. O que está havendo? Tenho que ir. Agora. Inclino-me para a frente a fim de pegar o gravador. — Gostaria que eu a levasse para conhecer a empresa? — pergunta ele. — Tenho certeza de que o senhor é ocupado demais, Sr. Grey, e tenho uma longa viagem pela frente. — Vai voltar dirigindo para Vancouver? — Ele parece surpreso, até ansioso. Olha pela janela. Começou a chover. — Bem, seria melhor dirigir com cuidado. — Seu tom de voz é severo, autoritário. Por que deveria se interessar? — Conseguiu tudo de que precisava? — acrescenta. — Sim, senhor — respondo, guardando o gravador na mochila. Seus olhos se estreitam especulativamente. — Obrigada pela entrevista, Sr. Grey. — O prazer foi meu — diz ele, educado como sempre. Quando me levanto, ele fica de pé e estende a mão. — Até a próxima, Srta. Steele. — E a frase soa como um desafio, ou uma ameaça, não sei bem o quê. Franzo a testa. Quando nos veríamos de novo? Aperto a mão dele mais uma vez, impressionada com o fato de aquela corrente estranha entre nós continuar presente. Devem ser meus nervos. — Sr. Grey. — Faço um cumprimento de cabeça para ele. Encaminhando-se com ágil graça atlética para a porta, ele a abre completamente. — Só estou garantindo que passe pela porta, Srta. Steele. — Ele me dá um sorrisinho. É óbvio que está se referido à minha entrada nada elegante em sua sala. Fico corada. — É muita consideração sua, Sr. Grey — digo secamente, e seu sorriso aumenta. Ainda bem que me acha engraçada. Faço uma cara feia por dentro, enquanto sigo para o saguão. Fico surpresa quando ele vem atrás de mim. Andrea e Olivia olham igualmente surpresas. — Você veio de casaco? — pergunta Grey. — De jaqueta. Olivia levanta-se de um salto e pega a minha jaqueta, que Grey toma de sua mão antes que ela possa entregá-la a mim. Ele a segura e, sentindo-me ridícula e sem jeito, visto-a. Grey põe as mãos por um momento em meus ombros. Suprimo um grito ao sentir o contato. Se ele notou minha reação, não deu bola. Seu comprido dedo indicador aperta o botão do elevador, e ficamos parados esperando: eu, constrangida; ele, tranquilo e dono de si. As portas se abrem, e entro correndo, desesperada para fugir dali. Eu realmente preciso dar o fora daqui. Quando olho para ele, está encostado no vão da porta ao lado do elevador com uma das mãos na parede. É realmente muito, muito bonito. É enervante. — Anastasia — diz ele se despedindo. — Christian — respondo. E, felizmente, as portas se fecham.
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cinquenta tons de cinza
Non-FictionQuando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desespe...