II

76 14 3
                                    

— Você não sabe o quanto eu sou grata por isso, Soraya — disse Simone, com um sorriso sincero.

— Que nada, é o mínimo que eu poderia fazer depois de te dar um banho de lama —  Soraya riu enquanto estacionava o carro. — Sério, eu tô morrendo de vergonha.

As duas desceram do carro, e Simone soltou uma risada suave enquanto olhava para a altura de Soraya. — Vergonha do quê? Foi um jeito único de ser recepcionada pela cidade, sem dúvida!

Soraya balançou a cabeça, rindo. — Único, né? Mas olha, você pode tomar um banho. Eu vou tentar encontrar roupas que... bem, que caibam em você. Porque, sinceramente, você é gigante! Eu pareço uma anã do seu lado.

Simone gargalhou, seu riso ecoando na entrada do prédio. — Ei, não é minha culpa que eu ganhei na loteria genética!

Soraya a olhou divertida, sentindo que a altura de Simone realmente fazia uma diferença engraçada. Enquanto caminhavam em direção ao elevador, ela comentou: — Então, vou ver o que consigo achar. Mas não prometo nada, minhas roupas vão parecer miniaturas em você.

Simone sorriu e, sem perceber, Soraya passou a mão de leve no braço dela. Assim que o toque aconteceu, Soraya sentiu um arrepio, como se um choque elétrico suave a tivesse percorrido. Ela rapidamente disfarçou, rindo nervosa. — Para de ser boba, é o mínimo que eu posso fazer. — disse ela.

Chegando no andar de Soraya, elas saíram do elevador e Soraya abriu a porta do apartamento. — O banheiro fica logo à direita. Segue em frente e você acha.

Simone assentiu, ainda sorrindo. — Valeu de novo. Eu juro que não vou fazer bagunça.

— Já te levo toalhas e roupas limpas! — gritou Soraya, enquanto Simone caminhava em direção ao banheiro.

— Estou no aguardo!” Simone respondeu, brincando.

Assim que Simone desapareceu no corredor, Soraya soltou uma risada abafada, se sentindo boba por estar tão nervosa.

Soraya entrou no quarto e foi direto para o armário, pensando no que poderia servir para Simone. Seus olhos pousaram em um conjunto de moletom preto, bem confortável e estiloso.

— Hm, acho que isso vai funcionar — murmurou para si mesma, tirando o conjunto do cabide. Era composto de uma calça de moletom solta e uma jaqueta de zíper, tudo em um preto elegante. Também pegou uma regata branca para colocar por baixo e peças íntimas novas, porque, claro, não ia deixar Simone sem.

Com as roupas em mãos, ela pegou uma toalha macia do armário de linho e foi até o banheiro. Bateu de leve na porta.

— Simone? Trouxe as roupas e uma toalha!

A porta se abriu um pouquinho, e Simone estendeu a mão para pegar os itens, agradecendo com um sorriso que Soraya mal conseguia ver pelo vão da porta.

— Valeu demais, Soraya. Sério, você tá salvando o meu dia.

Soraya riu, balançando a cabeça.

— De nada, pode parar de agradecer! Eu fico constrangida.

Simone pegou as roupas e a toalha, fechando a porta atrás de si. Soraya ficou parada por um momento, olhando para o espaço vazio, sentindo um sorriso bobo no rosto sem nem saber por quê. Ela deu de ombros e voltou para seu quarto, onde escolheu uma blusa regata rosa curta, de algodão canelado, com um decote quadrado. Pegou um moletom cinza para completar o look e, depois de se trocar, foi para a cozinha.

— Ela deve estar voltando do trabalho, com certeza está com fome —  pensou enquanto pegava os ingredientes. Soraya colocou um bife para assar, temperado com capricho, e começou a preparar uma generosa porção de macarrão com queijo cremoso, acompanhada de brócolis cozidos.

O cheiro de comida tomou conta do apartamento, e, logo, Simone apareceu na cozinha, secando o cabelo com a toalha.

— Hmmm, que cheirinho bom — disse Simone, encostando-se na porta.

Soraya riu e olhou para ela por cima do ombro.

— Tô fazendo algo pra gente comer. Você deve estar morrendo de fome. — Simone sorriu.

— Quer ajuda com alguma coisa?

— Ah, imagina! Você é visita! — Soraya respondeu, mexendo o macarrão, mas Simone insistiu.

— Vamos lá, eu sou a visita mais molhada da história, então me deixa ajudar, vai. — Soraya rolou os olhos, ainda rindo.

— Tá bom, tá bom. Pode arrumar os pratos e os talheres, então. Ficam naquele armário ali, ó — disse, apontando para uma das portas do armário, acima de sua cabeça.

Simone foi até Soraya, ficando bem próxima enquanto esticava os braços por cima dela para pegar os pratos. Soraya sentiu um calor súbito e quase derrubou a colher que usava para mexer o macarrão. Simone, alheia a isso, pegou dois pratos e foi organizar a mesa.

Logo, Soraya apareceu ao lado dela com os talheres.

— Você gosta de vinho? —  perguntou, colocando os garfos no lugar.

— Não seria nada mal —  Simone respondeu com um sorriso travesso.

Elas se serviram e sentaram-se à mesa, aproveitando a comida. Simone ainda estava mastigando quando exclamou:

— Humm... Isso aqui tá muito bom, Soraya — disse, jogando a cabeça para trás com uma expressão de satisfação. — Muito bom mesmo, parabéns!

Soraya corou um pouco, balançando a cabeça.

— Não exagera, Simone. Eu fiz o básico.

— Juro pra você! Se você quiser, pode me dar um banho de lama todo dia, só pra eu vir aqui e provar sua comida! — Simone disse, rindo.

Soraya riu alto, balançando a cabeça.

— Ai, viu Simone? Só você mesmo!

Depois de mais algumas risadas, Soraya perguntou:

— Mas então, o que te fez mudar pra cá?

— Vim a trabalho — Simone explicou, depois de engolir uma garfada de macarrão. — Tô envolvida num projeto de artesanato. Vai ter exposições, competições entre empresas, essas coisas...

Soraya levantou as sobrancelhas, surpresa.

— Sério? A empresa do meu pai também vai participar desse campeonato!

— Ah, então vou ter a honra de competir com você — Simone disse, surpresa e sorrindo.

— A honra é toda minha. — Soraya riu de volta.

Depois de terminarem a refeição, Simone se ofereceu para ajudar com a louça, mas Soraya insistiu que não

— Para de ser chata e vai sentar, deixa que eu cuido disso.

Simone, fingindo indignação, respondeu:

— Você que é teimosa, hein! —  e Soraya abriu a boca, fingindo choque.

— Eu, teimosa?! — disse, batendo de leve no braço de Simone, que levantou as mãos em rendição.

— Tá bom, tá bom. Eu rendo. Mas vou te ajudar, sim, senhora — Simone disse com firmeza, e Soraya acabou deixando.

Elas lavaram e secaram a louça juntas, e, depois, Simone decidiu que já era hora de ir embora.

— Obrigada por tudo hoje, Soraya. De verdade.

— Para com isso, você não precisa agradecer! — Soraya disse, sorrindo.

As duas se abraçaram, e Soraya sentiu aquele choque de novo, uma conexão inexplicável que a fez hesitar um segundo no abraço. Quando Simone se virou e foi para o elevador, Soraya ficou na porta, esperando ele fechar. Simone acenou antes das portas se fecharem, e Soraya suspirou, encostando-se na porta.

“Ai, meu Deus...” murmurou, com um sorriso bobo no rosto.

𝑪𝑼𝑨𝑵𝑫𝑶 𝑴𝑬 𝑬𝑵𝑨𝑴𝑶𝑹𝑶Onde histórias criam vida. Descubra agora