Capítulo 27 - De volta ao Limbo

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O som das ondas quebrando suavemente contra a areia era o único ruído que cortava o silêncio da manhã.

O porto de Lattes estava quieto, com poucos pescadores se preparando para mais um dia de trabalho.

As gaivotas sobrevoavam o céu cinzento, piando em meio ao vento leve que soprava do oceano.

Eu caminhava pela praia, com meus passos lentos, cada um afundando na areia fria e úmida.

Havia horas que eu vagava, completamente perdida em meus próprios pensamentos.

As palavras de Levi ainda ecoavam na minha mente, repetindo-se incessantemente como uma maré que nunca recuava.

Ele tinha dito que eu podia ir, que estava livre.

E eu fui.

Fiz exatamente o que ele pediu.

Mas agora, aqui, sozinha, enquanto o vento brincava com as pontas do meu cabelo, a sensação de vazio era esmagadora.

Eu não sabia para onde ir, ou o que fazer.

A minha vida parecia ter se fragmentado em pedaços que eu não conseguia mais juntar.

Cada passo que eu dava era pesado, como se o peso do oceano estivesse em meus ombros.

O porto à minha frente estava mais movimentado, com pessoas que vinham e iam, alheias ao caos que me consumia.

Eu via os barcos atracados, os mastros balançando de um lado para o outro com o vento, como se me chamassem para fugir, para deixar tudo para trás e seguir adiante.

Mas para onde eu iria?

A verdade era que eu não sabia.

Tudo que me restava era o eco de uma noite que mudou tudo, e a dor insuportável de ter sido rejeitada por quem eu mais desejava.

A safira no pingente pendia sobre o meu peito, pesando como um lembrete cruel de Levi, de tudo o que ele representava e de tudo o que eu havia perdido.

Eu parei por um momento, olhando para o horizonte distante, onde o céu encontrava o mar. Talvez fosse aqui que eu deveria começar de novo.

Ou talvez o oceano pudesse levar embora o que restava de mim.

Caso restasse alguma coisa...



~



Horas mais tarde, eu me encontrava trancada em um quarto de hotel à beira da praia.

As cortinas pesadas bloqueavam quase toda a luz do dia, deixando o ambiente em uma penumbra melancólica.

O som distante das ondas quebrando na areia, que normalmente trazia uma sensação de paz, agora era apenas um ruído abafado, quase irrelevante.

Eu estava sentada na beira da cama, com os braços em volta de mim mesma, como se pudesse, de algum modo, aliviar o peso esmagador que apertava meu peito.

Era uma dor surda, constante, que me tirava o ar, como se algo estivesse tentando me sufocar de dentro para fora.

O hotel era simples, quase impessoal.

Um lugar que me oferecia um refúgio temporário, mas não resolvia o turbilhão de emoções que se acumulavam em minha mente.

Cada vez que eu fechava os olhos, via o rosto de Levi, ouvia sua voz fria e determinada me dizendo para ir embora, como se eu não significasse mais nada.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora