Capítulo 1

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O salão estava repleto de risos e vozes animadas. Jackie, com sua energia inabalável, corria de um lado para o outro da festa que ela mesma havia organizado, cumprimentando amigos, recebendo elogios e aproveitando cada minuto. Ao seu lado, Hanna permanecia em silêncio, apoiada contra a parede, observando tudo de longe. Vestia-se de preto, como sempre. Seus cabelos vermelhos, soltos sobre os ombros, contrastavam com sua escolha de roupa, atraindo olhares curiosos e admiração por onde passava, embora ela não quisesse.Jackie brilhava como sempre, sendo o centro das atenções. Hanna, por outro lado, preferia a escuridão, invisível aos olhares, protegida do incômodo de ser vista. Enquanto observava a irmã mais nova conversando e rindo, Hanna sentia a habitual melancolia. Apesar do esforço de Jackie para fazê-la se sentir parte do momento, a verdade é que ela se sentia deslocada, perdida. Não era apenas a festa. Era a vida.De repente, a porta se abriu e o tio delas, Michael, entrou com um semblante pálido e severo. Hanna soube imediatamente que algo estava terrivelmente errado. Os risos e a música pareciam diminuir ao fundo enquanto seus olhos encontravam os do tio. Jackie, com sua percepção aguçada, notou a mudança de expressão no rosto de Hanna e se virou rapidamente para ver o que estava acontecendo.O silêncio na sala era quase palpável quando Michael finalmente disse, com a voz vacilante: 

 — Meninas, eu... eu tenho uma notícia. Não sei como dizer isso, mas... seus pais e sua irmã mais velha sofreram um acidente.O mundo de Hanna parou. Jackie ofegou ao seu lado, sem saber como reagir. O choque se instalou primeiro, seguido pela descrença. — Eles... — a voz de Michael falhou, e ele balançou a cabeça. — Eles se foram.

Jackie, visivelmente abalada, começou a chorar. Hanna, por sua vez, sentiu uma dor profunda, mas, ao contrário de Jackie, as lágrimas não vieram. Seu rosto permaneceu inexpressivo enquanto seu coração se despedaçava.

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A viagem ao Colorado foi um borrão para Hanna. Jackie dormiu a maior parte do caminho, exausta do choro e do trauma. Hanna, no entanto, passou todo o tempo em silêncio, os olhos fixos na janela do carro. O horizonte montanhoso do Colorado se desenrolava diante delas, mas Hanna mal registrava o que via.Quando finalmente chegaram à casa dos Walters, foram recebidas por Katherine, uma mulher de sorriso acolhedor, e George, o pai, que era mais reservado, mas amigável. O olhar compreensivo de Katherine oferecia um conforto inesperado, mas nem Hanna nem Jackie estavam prontas para absorver aquilo.

— Vocês devem estar exaustas — disse Katherine, tentando manter a atmosfera leve. — Vamos levá-las para dentro.Assim que subiram as primeiras escadas da entrada, ouviram o som de rodas de skate raspando no asfalto.

 Um garoto passou por elas a toda velocidade, quase as atropelando, antes de parar abruptamente e se virar.

— Desculpa! — ele gritou, desajeitado, com um sorriso meio envergonhado. — Sou Isaac Garcia. E vocês devem ser as novas... irmãs? — Ele fez uma pausa, como se não tivesse certeza de como descrevê-las.Hanna ergueu uma sobrancelha, mas manteve-se em silêncio. Ela já podia sentir que viver ali não seria simples.

Poucos segundos depois, outro garoto apareceu, mais velho e mais tranquilo. Ele sorriu educadamente para as duas.— Sou Danny — disse, com a voz baixa. — Sejam bem-vindas.A apresentação foi interrompida quando Katherine recebeu uma ligação e se afastou rapidamente, desculpando-se. George então assumiu o papel de anfitrião.— Vou apresentar o restante da família — disse ele, com um sorriso leve.

Dentro da casa, duas figuras estavam sentadas na sala, assistindo TV. Um deles, com um olhar focado, levantou-se assim que viu Jackie. Era Alex Walter. Ele não tirava os olhos dela, como se estivesse hipnotizado. A atenção que ele deu a Jackie foi imediata e clara, o que não passou despercebido por Hanna. Por um breve momento, ela se sentiu invisível, e o incômodo cresceu dentro dela. Ela queria que ele olhasse para ela, que notasse sua presença de alguma forma, mas Alex estava completamente enfeitiçado por Jackie.Lee, ao notar o desconforto de Hanna, se aproximou com um sorriso amigável, estendendo a mão.

— Sou Lee — disse ele de forma mais formal agora, tentando aliviar a tensão. — É um prazer conhecê-la.

Foi apenas nesse momento que Alex "acordou" e se dirigiu a Hanna, como se lembrasse de que ela também estava ali.— Oi, eu sou Alex — disse, cumprimentando-a de forma breve, antes de voltar seus olhos para Jackie.

George, notando a situação, pigarreou e pediu ajuda para carregar as malas das meninas até o quarto. Enquanto os garotos ajudavam, seguiram até a cozinha, onde Will, o irmão mais velho, estava preparando algo.

— Ei, meninas, bem-vindas. — Will sorriu. — Ouvi dizer que as coisas estão movimentadas por aqui.Logo depois, Katherine entrou na cozinha com uma expressão preocupada, informando que precisaria sair por causa de uma emergência no veterinário, deixando o restante da visita sob os cuidados de Will.George, por sua vez, saiu em direção ao pomar, seguido por Isaac, que passava de skate, despreocupado. Will fez uma rápida contagem dos irmãos que já haviam sido apresentados quando, de repente, Benny Walter passou correndo pela sala, sem prestar muita atenção.— Certo, ainda tem mais alguns para conhecerem — disse Will, levando-as até o jardim.

No jardim, Hanna viu uma cena um tanto caótica. Um garoto nadava na piscina de maneira exagerada e chamativa, enquanto duas crianças brincavam mais afastadas. Um garoto mais velho, com cerca de 10 anos, segurava uma câmera e rapidamente se aproximou delas, começando a filmar e a fazer perguntas.

— Sou Jordan! Estou fazendo um documentário! — Ele apontou a câmera para os rostos delas sem aviso.Ao lado, uma menina mais nova, Parker, brincava sozinha, imersa em seu próprio mundo. Will as apresentou rapidamente, mas o que realmente chamou a atenção de Hanna foi o garoto na piscina. Ele saiu de forma dramática, como se estivesse tentando impressionar alguém. 

Para Hanna, aquilo foi absolutamente ridículo.No entanto, quando ela olhou para o lado, viu Jackie completamente hipnotizada pela cena.— Cole — chamou Will, claramente envergonhado pela falta de jeito do irmão. — Vai dar uma mão aqui com as coisas das meninas.

Quando finalmente subiram para o quarto, Hanna e Jackie puderam conversar em paz.— O que você achou da casa? — perguntou Jackie, tentando quebrar o silêncio tenso.— Grande. E cheia de... personalidades — respondeu Hanna, sem muito entusiasmo.

No meio da conversa, Cole entrou no quarto abruptamente, jogando as coisas delas no chão com descaso. Hanna se levantou irritada.

— Dá para ter um pouco mais de cuidado? — ela disparou, a voz carregada de frustração.— Relaxa — Cole respondeu com um sorriso desdenhoso. — Vocês se acostumam.

Uma breve discussão começou, mas antes que as coisas pudessem esquentar mais, houve uma quebra no clima. Katherine apareceu na porta, chamando as meninas para o jantar, mas elas, exaustas, recusaram. Tudo o que queriam era dormir e tentar, de alguma forma, entender o caos que suas vidas haviam se tornado.

Alex WalterOnde histórias criam vida. Descubra agora