Um

54 8 4
                                    

Odeio a minha escola.

Não odeio as minhas aulas porque eu me saio bem em todas e sempre fico entre os primeiros da turma. Não sou uma gênia, mas também não sou burra. Além disso, não tem como eu ser ruim na escola passando tanto tempo estudando como passo por causa da minha avó. O que eu odeio mesmo é o restante da escola. Odeio as pessoas, as políticas de boa convivência e a pressão constante de adolescentes por todos os lados.

E eu os odeio porque eles também me odeiam.

Talvez eles não me odeiem tanto assim, mas com certeza não gostam de mim também. Acho que seria um eufemismo dizer que não tenho amigos. Cresci com a maioria dessas pessoas, moro nesta cidade desde os cinco anos e passei a maior parte dos meus anos iniciais de alfabetização no colégio com o mesmo grupo de colegas de classe. Claro, algumas pessoas vão e vêm, mas ainda somos do mesmo grupo.

E desde os meus cinco anos, eu sou aquela garota que todos evitam. Não que eu possa realmente culpá-los por isso. Eu não sou excluída intencionalmente da convivência com eles. Certamente não foi uma escolha feita por mim, foi a escolha dela, assim como tudo que acontece na minha vida. Tudo tem que ter a permissão dela. Até para comer biscoitos.

Uma vez eu comi alguns biscoitos. Alguém na escola me deu três biscoitos. Lembro vagamente que foi uma experiência muito agradável, mas, de alguma forma, ela descobriu e eu fiquei de castigo por três dias. Um dia para cada biscoito comido.

De qualquer forma, o primeiro dia de volta às aulas após as férias de verão é quase pior do que qualquer outro. E eu esperava que o último ano do ensino médio tivesse uma melhora, que todos meus colegas tivessem amadurecido um pouco, mas minhas primeiras impressões provaram o contrário.

Como em toda escola, temos nossos grupinhos. Ah, como eu amo os grupinhos!

Existem os excluídos, mas não me refiro aos genuinamente excluídos como eu, que ninguém realmente fala, olha, gosta ou admite que vivem entre eles. Me refiro ao... bem, eles são uma espécie de cruzamento entre os Emos e os Góticos, e eu não consigo realmente dizer a qual grupo eles pertencem. São pessoas que gostam de ser militantes, sempre estão protestando contra alguma coisa. Eu acho que não suportaria conviver com eles.

Há o grupo dos estudiosos, acho que é mais educado dizer assim do que chamá-los de nerds. São as pessoas que dirigem o clube de ciências, de audiovisual e todos os outros clubes imagináveis. E eles ainda sentem a necessidade de fazer piadas de cálculo o tempo todo. Eles também não gostam de mim, principalmente porque eu costumo superar metade deles com as minhas notas e nunca entro em seus amados clubes. Eu simplesmente não faço parte desse grupo. Além disso, não sei usar um computador muito bem.

Depois, há os verdadeiramente descolados. Quero dizer, os que escutam as músicas do momento, se vestem de acordo com a moda e dizem o que pensam. Eu não os chamaria de populares, esse título pertence aos atletas e líderes de torcida. Os integrantes desse outro grupo tendem a estar próximos de serem populares. São aqueles que realmente não ligam para o que pensam deles. Pelo menos eles não são malvados comigo. Claro, eu sou completamente invisível para eles, mas pelo menos não são cruéis.

Antes de chegar ao último grupo, ainda tem os arruaceiros. Não tenho certeza se eles realmente contam como um grupo coeso, porque, primeiro, isso exigiria esforço, e, segundo, nunca mais de cinquenta por cento deles estão na escola ao mesmo tempo. Eles variam de simples idiotas viciados em drogas até alguns delinquentes. Acho que é seguro assumir que não temos nada a ver uns com os outros.

E o último grupo é o que eu mais odeio: os populares. Este é o grupo dos atletas e líderes de torcida. Eu os odiaria menos se Natasha Romanoff não estivesse no meio deles. E, com certeza, eu os odiaria menos se eles não me fizessem parecer uma completa idiota sempre que chego perto de algum deles, parando bem na frente de Natasha, onde ela pode me ver.

Natasha nem é a abelha-rainha do colégio porque esse título pertence firmemente à Carol Danvers. E Natasha é a melhor amiga de Carol.

De certa forma, Natasha pertence ao grupo dos "verdadeiramente descolados", porque ela realmente é descolada. Sei que ela tem muitos amigos. E eu gostaria de poder dizer que ela é legal comigo. Mas ela não é. No entanto, posso dizer que ela também não é má comigo.

Natasha simplesmente não sabe que eu existo.

Se ela sabe que eu existo, certamente não demonstra. Acho que, levando em consideração o tipo de pessoa com quem ela anda, isso é uma coisa boa. Porque tenho certeza de que se Natasha dissesse qualquer coisa sobre mim, meu pequeno coração partiria em dois.

Tenho quase certeza de que Natasha não sabe que eu sou completamente apaixonada por ela. Isso com certeza faria minha avó ter um AVC. Mas ela jamais vai descobrir o que sinto por Natasha.

E Natasha é tão incrivelmente linda que faz meu peito doer, dificultando minha respiração. Seus cabelos loiros caem perfeitamente em ondas por suas costas, não importa como ela os arrume. Seus olhos verdes são suficientes para derreter as calotas polares. Seu corpo... Oh, meu Deus. Eu já vi o abdômen de Natasha durante uma aula de Educação Física e quase morri. Acho que, se eu tocasse um mero dedo em sua pele, a maciez seria suficiente para me deixar louca pelo resto da vida.

Quando está feliz, Natasha costuma franzir o nariz. Quando sorri, ilumina seu rosto inteiro. Quando ri, os anjos morrem de felicidade. Juro que é verdade. E eu nem existo. Não no mundo dela. Algo tão imperfeito como eu nunca sobreviveria no mundo de Natasha Romanoff.

Mas está tudo bem. Pelo menos eu ainda posso ir à escola cinco dias por semana só para sentir meu coração bater tão forte, ameaçando quebrar meu peito ao vê-la. Posso me banhar na atmosfera pura que é estar perto dela. Bem, a cinquenta metros de distância dela.

Eu sei o nome completo dela, sua data de nascimento. Conheço seu rosto. Essas são algumas das coisas preciosas que eu sei sobre Natasha Romanoff.

Céus, eu estou tão apaixonada por ela.

[EM PAUSA] Precious ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora