O Retorno

2 1 2
                                    

O ar na sala estava denso, carregado de uma energia que cortava o ar como um fio de navalha. Valentina, com os olhos vermelhos e o rosto contorcido pela raiva, me encarava como se eu fosse um monstro. Eu entendia a fúria dela. Eu merecia cada palavra dura, cada olhar de desprezo.

"Por que você voltou?", ela perguntou, a voz firme, mas com um tremor quase imperceptível. "Depois de tudo o que aconteceu? Depois de me deixar sozinha? Depois de me abandonar?"

As palavras dela eram como facadas no meu coração. Eu não conseguia olhar para ela, para a dor que refletia em seus olhos. Eu queria gritar para o mundo que eu estava arrependido, que eu amava ela, que eu tinha sido um idiota, mas as palavras não saíam.

"Valentina, eu sei que você está com raiva, e eu entendo. Eu não tenho desculpas para o que fiz. Eu fui um covarde. Eu te abandonei. Eu te machuquei. Mas eu voltei. Eu voltei para tentar consertar as coisas. Eu voltei para pedir perdão. Eu voltei porque eu te amo."

As palavras saíram como um sussurro, quase inaudíveis. Eu sentia as lágrimas ardendo nos meus olhos, mas eu as prendi, tentando manter a compostura.

"Eu sei que você não vai acreditar em mim, mas eu preciso que você me ouça. Quando eu fui para os Estados Unidos, eu tinha muitas oportunidades. Eu estava focado no meu sonho, no meu futuro. Eu não tinha tempo para pensar em você, para pensar em nós. Eu estava perdido, cego pela ambição. E aí, eu conheci outra pessoa. Uma garota que me fez esquecer de tudo, de você, de tudo que a gente tinha vivido. Eu me apaixonei por ela, e eu me afastei de você. Eu me afastei de tudo que me importava."

Eu sentia o peso do meu passado, a culpa me oprimia como um fardo. Eu queria voltar no tempo, desfazer tudo o que tinha feito, mas eu sabia que era impossível.

"Eu não sabia como te encarar, Valentina. Como te dizer que eu estava com outra pessoa. Como te dizer que eu tinha começado a gostar dela. Eu era um covarde. Eu te deixei sozinha, sem nenhuma explicação. Eu fui um canalha."

Eu olhei para ela, os olhos cheios de lágrimas. "Eu descobri por um amigo do tempo do colégio que você teve um filho. Um filho meu. Ethan. Eu fiquei tão feliz, tão aliviado. Finalmente, eu tinha uma chance de ser feliz, de ser pai. Mas eu também fiquei com medo. Medo de você não me perdoar. Medo de você não querer me ver. Medo de você não querer que eu fizesse parte da vida do meu filho. Então, eu fui covarde. Eu fui incompreensível. Eu fui um canalha. Eu te deixei sozinha. Eu te abandonei. Eu te machuquei."

Eu me ajoelhei diante dela, com as mãos tremendo. "Eu sei que você nunca vai me perdoar. Eu sei que você nunca vai me amar de novo. Mas eu preciso que você saiba que eu te amo. Eu te amo mais do que tudo. Eu amo Ethan. Eu quero ser parte da vida dele. Eu quero ser pai. Eu quero ser a família que você sempre quis."

Valentina se levantou, com os olhos cheios de lágrimas, mas com a raiva e a revolta dominando seus pensamentos. "Você não tem o direito de querer ser parte da vida do meu filho. Você não tem o direito de querer ser a família que eu sempre quis. Você me deixou sozinha por vinte e dois anos. Você me abandonou. Você me machucou. E agora você quer voltar como se nada tivesse acontecido? Como se você pudesse simplesmente entrar na minha vida e fingir que tudo está bem? Você é um canalha, Bruno. Um canalha sem coração. Você não merece o perdão. Você não merece o amor. Você não merece nada."

Valentina...

E SE VOCÊ FICASSE?Onde histórias criam vida. Descubra agora