Úrsula observou o rapaz à sua frente e não pôde deixar de notar a impressionante semelhança que ele tinha com o jovem Sung Hoon que conhecera a muitos anos atrás. A confusão de seu irmão era justificável; de fato, a aparência de Jimin trazia lembranças dolorosas do passado a ele. Contudo, isso não justificava os atos de Yongwang. Jimin claramente não era um homem de mais de 40 anos; ele era apenas um rapaz, provavelmente não mais velho que 20, talvez até um mais novo que seu sobrinho, Taehyung.
Enquanto refletia sobre isso, Jimin se aproximou dela, expressando sua gratidão por ter contido o tritão. Seu jeito era respeitoso, como de costume, mas também carregava um calor que se destacava. A sinceridade em suas palavras fez com que um sorriso se formasse nos lábios de Úrsula. Ela sempre gostara do rapaz, não apenas por suas maneiras gentis, mas porque, ao longo dos dias, observando-o através dos olhos de seus espiões, ela o viu cuidar de Taehyung com carinho e zelo. E, nos momentos que estava sozinho, Jimin desenhava Taehyung, capturando cada detalhe com uma atenção que revelava algo mais.
Ver essa dedicação tocava o coração de Úrsula de um jeito que poucas coisas faziam. Talvez, ela pensou, Taehyung precisasse de alguém assim ao seu lado, e o destino dos dois rapazes parecia estar entrelaçado. Decidida a entender mais, Úrsula ofereceu alguns lanches a Jimin, que a olhava com curiosidade, até que ela soltou:
— Tá, fala logo, rapazinho, o que você quer me perguntar? — A sereia não resistiu à sua própria curiosidade.
Jimin hesitou por um momento, um brilho de apreensão nos olhos, antes de deixar escapar a pergunta que o corroía:
— O Taehyung vai poder me visitar?
Úrsula sorriu, inclinando-se levemente para ele.
— Ah, sim, logo ele vai aprender a mudar da forma de tritão para a humana sem precisar de feitiços, porque é mestiço. Ele pode te visitar sempre que quiser.
Os olhos de Jimin se arregalaram.
— Ele é realmente mestiço?
— Sim, filho do meu irmão com a Yuna. E, a propósito, você fez um ótimo trabalho em encontrar a família dele na superfície. Parabéns.
A confusão se estampou no rosto de Jimin, que franziu o cenho.
— Mas... como você sabe disso? Eu não te contei nada...
Úrsula riu, um som baixo e misterioso que ecoou pelas águas.
— Ah, eu não ia deixar meu sobrinho na terra sem supervisão, não é? Fiquei de olho nele e em você.
Jimin ficou impressionado e, ao mesmo tempo, um pouco desconcertado.
— Como você fez isso?
Úrsula sorriu de forma enigmática, os olhos brilhando de um jeito suspeito.
— Pelos olhos dos peixes, das aves e até dos cavalos. Eles são meus olhos espiões por toda parte, vivos ou mortos.
A resposta de Úrsula fez um arrepio percorrer a espinha de Jimin. Aquela sereia era ainda mais poderosa e enigmática do que ele poderia ter imaginado. Ele tentava processar essa revelação quando a porta da casa de Úrsula foi empurrada com força, e Taehyung entrou, o rosto marcado por uma expressão de fúria contida, os ombros tensos.
— [Tia, eu já sei de tudo] — sinalizou ele, nos olhos uma irritação que não tentava esconder.
A expressão de Úrsula ficou mais séria.
— Me desculpa, eu não sabia o que fazer naquele dia — começou, sua voz, embora firme, revelava um tom de pesar. — E eu pensei que, no futuro, quando você tivesse noção das coisas, ele te contaria a verdade e te levaria para conhecer sua família da terra, mas... ele não queria abrir mão de você nem por dia.
Taehyung soltou um riso amargo e sua garganta doeu mais estava começando a se acostumar. Jimin percebe mas fica em silencio.
— [Eu fui condenado a viver infeliz e solitário! Isso é tão egoísta, ele me trata como se eu fosse um boneco!] — Suas mãos tremiam de frustração os sinais ficavam um pouco confusos. — [E agora ele quer me enfiar em um casamento como um acordo de paz! Não é justo, ele está tentando me prender de novo, me deixar sem escolhas!]
Jimin observava em silêncio e a lembrança do beijo recente voltou à sua mente junto com os dias que passaram juntos. Agora, saber que Taehyung poderia ser forçado a um casamento o feriu profundamente, trazendo à tona também o seu próprio futuro. E ele percebeu que o que realmente desejava era uma vida feliz ao lado de Taehyung, mas sabia que aquilo era impossível.
Taehyung, alheio à batalha emocional de Jimin, continuava:
— [Ele não vai me prender mais, eu vou voltar para a superfície com o Jimin e sei lá... viver com minha família] — disse, dirigindo-se a Úrsula com uma firmeza recém-descoberta. — [Ele que se case pela paz, ainda é um tritão saudável.]
— Eu... bem, acho que não tenho direito de te pedir para ficar, já que também tenho culpa nisso tudo, mas seu pai pode voltar a atacar a superfície com sua partida— Úrsula falou, sua voz carregando um misto de preocupação e resignação.
— [Você é mais forte que ele e a irmã mais velha! Contenha-o, e os outros reinos não vão aceitar algo assim que pode acabar expondo a nossa existencia] — Taehyung olhou para Jimin e percebeu que estava muito alterado, então respirou fundo, tentando se acalmar. — [E eu volto para te visitar, mas se ele atacar a superfície, eu sumo de vez.]
Jimin encarou Taehyung, sentindo uma mistura de alívio e desespero. A ideia de Taehyung em terra firme perto de si era reconfortante, mesmo que não do jeito que ele ansiava. Úrsula, em silêncio, ponderava as palavras do sobrinho, ciente de que as correntes do destino eram mais imprevisíveis do que ela imaginava.

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Destiny
FanfictionNos confins do oceano e no coração de um reino terrestre, dois mundos colidem através de um amor proibido. Jimin, o príncipe herdeiro de um reino humano, luta contra a opressão de um rei cruel e os perigos de uma corte cheia de intrigas. Por outro l...