Uma vez, sonhei que estava em uma ilha flutuante. Não me importava onde eu estava exatamente, apenas que eu estava acima das nuvens. O vento batia suavemente em meu rosto, e a calma entrava em mim como uma brisa serena. Eu me sentia aliviado.
Às vezes, um tempo para si mesmo é o remédio que precisamos nos dias em que o peso do mundo parece esmagador. Se eu estivesse certo em tudo o que digo, o mundo já teria acabado há anos. Então, essa é uma solução incerta. Mas o que quero dizer é que passamos tanto tempo nos adaptando aos gostos e modos de vida dos outros que, aos poucos, nos afastamos de quem realmente somos. Cada vez que você esquece algo sobre si mesmo, perde uma parte essencial de sua essência. Não é exatamente o mesmo que mudar... mas é uma desconexão.
Naquela ilha, eu fiquei o que parecia ser uma eternidade. Deitei-me na grama incrivelmente verde e, pela primeira vez em anos, me senti vivo. Não estava apenas sobrevivendo, mas vivendo de verdade. Deixei que meu instinto infantil florescesse novamente. Corri, sorri e ri como se a vida fosse uma grande brincadeira e nada mais. Era pura liberdade, como se as preocupações adultas não tivessem importância. A paz e o prazer que senti são difíceis de descrever, como se as palavras não fossem suficientes. É irônico... ao esquecer um pouco da vida, a gente finalmente consegue vivê-la.
Mas, como toda alegria momentânea, logo percebi a realidade. Pensei que, quando acordasse, teria que levantar, vestir-me e ir atrás de um futuro que me permitisse viver... ou, talvez, apenas sobreviver. O que me esperava era encontrar pessoas que não me fazem bem, e realizar tarefas que cansariam tanto meus braços quanto minha mente.
Inevitavelmente, sem esforço, não há conquistas. Talvez o que estou escrevendo pareça uma desculpa para a preguiça. Mas cabe a você, leitor, tirar o que achar útil daqui. Sou apenas mais um escritor entre milhões. Vivo em um pequeno planeta, em uma galáxia insignificante, cercado por bilhões e trilhões de outras. Quem sabe quantas existem? E quantas mais pessoas estão, agora mesmo, tentando expressar seus sentimentos através de palavras em algum canto desconhecido desses vastos universos?
Comecei a me sentir para baixo. Acho que a maioria das pessoas já se entristeceu ao pensar que tudo o que elas amam um dia vai embora. É como segurar um buquê de rosas no meio de um deserto. Alegra nossa vida, por mais patética que ela seja. Mas... aquelas rosas, tão belas e vibrantes hoje, um dia vão murchar. E eu não encontrarei outras como elas. Pode haver novas flores, mas nunca como as que eu tive. O medo de perder o que amamos é o que torna tudo tão especial. Quem ama de verdade teme que, por um erro mínimo ou por crueldade do destino, tudo se desfaça.
Olhei novamente para a ilha e percebi que ela estava caindo. Será que eram meus pensamentos depressivos que a afundavam? Provavelmente. A ilha descia lentamente, acompanhando o ritmo dos meus sentimentos. E então, colidiu com o chão, com toda a fúria e o ódio que eu sentia de mim mesmo.
Agora, minhas memórias reais de um sonho irreal foram transformadas em palavras. E eu acordei. As lembranças permanecem comigo, agarradas, como cicatrizes que o tempo não apaga. Às vezes, a rotina diária as afasta, mas elas nunca somem de verdade. Elas arranham, ferem, como a saudade. Naquele dia, em que perdi minha mente por um breve momento e decidi aproveitar o tempo comigo mesmo, foi algo marcante... e, ao mesmo tempo, estúpido. Porque continuei sobrevivendo como se nada tivesse mudado. Por dentro, saudades imperavam. Por fora, eu era o mesmo ser humano frágil, preso entre muros de concreto, sem saber como escapar. Essa é a minha realidade.
Você pode se encontrar naquela ilha, em paz. Mas basta um pequeno deslize para que tudo desmorone... Ou para que a destruição interna aconteça por completo. Cuide-se, meu jovem, minha criança, meu adulto ou meu idoso. O mundo lá fora não é fácil... Mas quem disse que dentro de nós mesmos seria?
Lá fora, você enfrenta monstros. Aqui dentro, você luta contra os seus próprios. E essa, talvez, seja a batalha mais difícil de todas.
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A Ilha na Minha Mente
Short StoryEm um sonho irreal, eu me encontro em uma ilha flutuante, longe de meus pensamentos intensos e pesados causados pelo mundo real. Onde apenas a beleza das flores pode ser vista, sentida e imaginada - é aí que mora a calmaria na tempestade, a paz inte...