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Por volta do meio-dia eles estarão na minha nova casa na Aldeia dos Vitoriosos.

Os repórteres, as equipes com as câmeras, até mesmo Effie Trinket, minha antiga acompanhante, terão se dirigido ao Distrito 12, vindos da Capital.

Cinna, meu estilista e amigo, que desenhou o esplêndido traje que fez com que a audiência reparasse em mim pela primeira vez nos Jogos Vorazes.

Se pudesse escolher, tentaria esquecer por completo os Jogos Vorazes. Mas a Turnê da Vitória torna isso impossível.

Esse ano eu terei de viajar de distrito em distrito para aparecer diante das multidões entusiasmadas, que secretamente me odeiam, para olhar bem nos rostos dos familiares cujos filhos eu matei...

Uma neve branda começa a cair enquanto me dirijo à Aldeia dos Vitoriosos. Fica a mais ou menos um quilômetro de caminhada da praça no centro da cidade, mas o local parece um mundo completamente diferente.

É uma comunidade separada construída ao redor de um lindo campo verde repleto de plantas e flores.

São doze casas, cada qual suficientemente grande para acomodar em seu interior dez casas iguais àquela em que fui criada.

Nove estão vazias, como sempre estiveram. As três que estão em uso pertencem a J'onn, Kara e eu.

As casas habitadas pela minha família e pela de kara possuem um aconchegante brilho de vida.

Paro na frente da casa de J'onn, preparando-me para entrar, ciente de que será uma experiência desagradável, e em seguida entro.

Torço o nariz de puro nojo. J'onn se recusa a deixar que alguém entre para fazer uma limpeza e o que ele faz para resolver o problema sozinho não adianta de nada.

Ele está sentado à mesa da cozinha, braços esparramados na madeira, o rosto em cima de uma poça de álcool, roncando em alto e bom som.

Cutuco o ombro dele.– Levanta! – grito bem alto, porque sei que não existe um jeito sutil de acordá-lo. Seu ronco para por um momento, como se ele estivesse avaliando a situação, e em seguida recomeça.

Eu o empurro com força. – Acorda, J'onn. Hoje é o nosso dia! – Abro a janela, respirando bem fundo o ar puro que vem de fora.

Meus pés remexem o lixo no chão, desenterro uma cafeteira de cobre e a encho na pia.

O fogão ainda não se apagou completamente e consigo acender uma chama a partir de alguns carvões.

Despejo um pouco de pó de café na xícara, o suficiente para garantir uma mistura boa e forte, e coloco a cafeteira no fogo.

J'onn continua morto para o mundo.

Como nada mais funcionou, encho uma bacia com água gelada, derramo em cima da cabeça dele e saio da frente correndo.

Um som gutural e animalesco sai de sua garganta. Ele dá um salto, chutando a cadeira para trás, segurando uma faca.

Esqueço que ele sempre dorme agarrado a uma faca. Devia ter arrancado o objeto de sua mão, mas minha cabeça já está cheia demais.

Vociferando um monte de blasfêmias, ele dá alguns golpes no ar antes de voltar a si. Enxuga o rosto na manga da camisa e volta-se para o parapeito da janela onde fico empoleirada para o caso de precisar sair rapidamente.– O que você está fazendo? – ele explode.– Você pediu pra lhe acordar uma hora antes das câmeras chegarem – respondo.– O quê? – diz ele.

A ideia foi sua – insisto. Ele parece estar se lembrando.

– Por que estou todo molhado?

– Não consegui acordá-lo de outro jeito – digo. – Escute, se você queria ser tratado como um bebê era melhor ter pedido a kara.

Lena Luthor - Part 2 - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora