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Eu nunca vou abrir mão de você
Porque eu já cometi esse erro
Se o meu nome nunca a passou pela sua boca de novo
Eu sei que seria uma tamanha pena
Love Of Mine - 5 Seconds of Summer


Jake se lembrava bem de como as coisas eram naquele mesmo apartamento, naquele piso, naquele prédio, anos atrás.

Ele se lembrava dos dias em que chegava cansado do trabalho como jornalista na década de 60. Se lembrava de como o apartamento sempre cheirava a café e verniz recém aplicado nos móveis de madeira desde quando se hospedou. Mas acima de tudo, de como era solitário.

Talvez seja por isso que foi amaldiçoado, tendo de observar os humanos interagindo entre si. Amor, amizade, carinho, cuidado. Jake nunca teve isso, já que ele mesmo não aproveitou a oportunidade quando esteve ali, décadas atrás. Morrer jovem também não ajudou, conforme o tempo passou, a única coisa que Jake colecionou foram arrependimentos.

Quando vivos, todos acham que o tempo não vai atingi-los com uma manobra brutal. É quase como se ignorassem o tempo, como se a existência dele não fosse tão impactante, tão preocupante. Mas é. É tudo isso, e Jake só se deu conta quando viu o próprio corpo num caixão e ninguém em seu velório. Somente ele ali, sozinho. Ninguém nunca colocou flores em seu túmulo, mas quem ele podia culpar além de si mesmo? Solitude quando vivo, não parece incomodar tanto quanto morto. Porque vivo, você ainda tem a fagulha de esperança de que alguém te vê, mas morto, você enterra ela a sete palmos do chão, literalmente.

As pessoas não deveriam ficar sozinhas, nunca. A solitude é um desprazer e para Jake, notavelmente, um arrependimento. Aproveitar a vida deveria ser uma obrigação. Se apaixonar, se entregar, compartilhar com outras pessoas. Compartilhar.

Jake, na noite anterior, em seu 60° aniversário de morte, resolveu se dar ao luxo de fazer um pedido. Em frente a sua lápide, numa noite fria e escura, onde a luz da lua aparecia somente por poucos instantes, por algum motivo, em um deles, ela iluminou a pedra de mármore com as inscrições do nome e data de falecimento de Jake. Olhando para o céu, com o testemunho somente de uma coruja que cantava, ele olhou para os pés, e fechou os olhos. Desejou que pelo menos uma vez, ele pudesse compartilhar. Somente isso. Compartilhar o que quer que seja. Um olhar, um sorriso, uma palavra. Qualquer coisa. Quando ele voltou a abrir os olhos, os raios de luz já estavam indo embora, e pela primeira vez em muito tempo, ele teve certeza de algo que gostaria de fazer: Visitar o antigo prédio onde viveu, mais especificamente, seu apartamento. É por isso que agora, após horas admirando o local vazio, ele vê um movimento rápido de alguém abrindo a porta, e se vira lentamente para ela.

Talvez por não sentir a sensação de pertencimento, seu instinto foi ir para o canto da sala, por mais que soubesse que ninguém o veria. Ninguém nunca via. Seus olhos captaram alguém com uma pilha de caixas nos braços, e mais algumas na porta. Ele não sabia que era possível que alguém estivesse conseguindo carregar aquela quantidade de caixas sem derrubar…

Cedo demais. No segundo seguinte, o rapaz tropeçou no batente e caiu no chão, amassando algumas caixas e deixando com que um bocado de livros se espalhasse pelo chão. Com um reflexo, Jake arfou e logo em seguida cobriu a boca, por mais que fosse bobeira, e ele soubesse disso, mas é como se não conseguisse se livrar da humanidade que ainda ocupava seu ser.

— Droga! — praguejou o garoto, se jogando de vez no chão, parecendo ter desistido de se levantar. — Começou bem, Sunghoon. Muito bem.

Jake não demorou para entender que Sunghoon falava em terceira pessoa. Ele mesmo fazia muito isso, quase que o tempo todo. Jake queria se esgueirar para ver o rosto do outro, mas seus pés pareciam colados ao chão, então ele não se moveu, por mais que não tivesse certeza do porque não o fez, visto que não tinha problema algum.

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⏰ Última atualização: 12 hours ago ⏰

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FINITUDE, SOLITUDE, PLENITUDE | JakeHoonOnde histórias criam vida. Descubra agora