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O amor entre Sena e Chaeun era uma coisa íntima, como uma velha melodia que ambas conheciam de cor. Elas haviam construído sua vida juntas com pequenos gestos e olhares que diziam mais do que palavras poderiam expressar. Quando Sena acordava antes de Chaeun, fazia questão de preparar o café do jeito que ela gostava, deixando a xícara ao lado da cama. Chaeun, por sua vez, organizava os livros de Sena, mesmo sabendo que ela gostava de espalhá-los pela casa. Era assim que seu amor funcionava, uma dança cotidiana, uma coreografia precisa de cuidado e familiaridade.

Mas havia algo ali, uma pequena falha na sinfonia. Uma batida que faltava, um vazio que elas não sabiam como preencher. Não era falta de amor, mas talvez uma falta de novidade, de descoberta. Elas não comentavam sobre isso, mas a sensação pairava no ar, um silêncio que elas carregavam como um segredo compartilhado.

Em uma tarde de outono, o destino decidiu que era hora de mudar essa história. O parque estava coberto por um tapete de folhas douradas, caindo suavemente ao ritmo da brisa. Sena e Chaeun caminhavam de mãos dadas, como sempre faziam, aproveitando o frescor da tarde. Os raios do sol filtravam-se pelas árvores, lançando sombras delicadas sobre o caminho. Era uma cena tranquila, quase idílica, que combinava com o jeito sereno delas de estar no mundo. Mas, naquele dia, havia algo diferente no ar.

Entre as árvores e as folhas que dançavam ao vento, surgiu Mira. Ela vinha caminhando com seu cachorro, um sorriso despreocupado nos lábios e uma expressão de quem não tinha pressa. Seus olhos escuros brilharam quando ela avistou Sena e Chaeun, como se as conhecesse de algum sonho esquecido. Ela não parecia se destacar por nada em particular, e, ao mesmo tempo, havia algo nela que era impossível ignorar. Talvez fosse o jeito como os cabelos caíam sobre o rosto, ou como ela parecia se mover em harmonia com a paisagem, pertencendo àquele cenário como uma peça perfeita de um quebra-cabeça.

Sena e Chaeun também notaram Mira. No momento em que seus olhos se encontraram, algo se acendeu. Não era um choque, não era paixão à primeira vista, mas uma faísca de curiosidade, uma sensação de reconhecimento. Elas não comentaram sobre isso, mas ambas sentiram. Continuaram caminhando, tentando ignorar a sensação estranha de que aquela tarde nunca seria esquecida.

No dia seguinte, Sena sugeriu voltarem ao parque.

— Para uma caminhada. — ela disse casualmente, e Chaeun assentiu, sem questionar.

Era incomum que voltassem ao mesmo lugar dois dias seguidos, mas naquele dia parecia a coisa certa a fazer. E lá estava ela, novamente, Mira, com o mesmo sorriso e o mesmo cachorro. Dessa vez, quando elas se cruzaram no caminho, o cachorro foi o primeiro a romper o silêncio, puxando Mira para perto de Sena e Chaeun, como se quisesse apresentá-las.

— Ele gosta de vocês. — disse Mira, rindo enquanto segurava a coleira. O sorriso dela era aberto e caloroso, como se encontrá-las ali fosse a coisa mais natural do mundo.

Sena e Chaeun se entreolharam, e, por um momento, todos os pensamentos sobre rotinas e monotonia se dissiparam. Conversaram sobre o cachorro, sobre o parque, sobre o clima agradável de outono. A conversa era simples, mas parecia nova, como se uma janela tivesse sido aberta e um ar fresco começasse a entrar em suas vidas.

Depois desse encontro, Sena e Chaeun voltaram ao parque por vários dias seguidos, sempre na esperança de ver Mira novamente. Havia algo nela que despertava uma nova curiosidade, uma sensação de que elas poderiam descobrir algo que não sabiam que estavam procurando. Quando, finalmente, seus caminhos se cruzaram outra vez, a conversa se aprofundou. Ela contou sobre seu trabalho, sua rotina, seu amor por caminhadas vespertinas com o cachorro. E cada detalhe parecia fasciná-las de uma forma que elas não esperavam.

Ao longo das semanas, as três se viram cada vez mais frequentemente. O parque se tornou um ponto de encontro não declarado, onde todas podiam relaxar e se esquecer das preocupações cotidianas. A companhia de Mira era como uma brisa suave, trazendo uma nova energia para o que antes era apenas familiar. Sena e Chaeun começaram a se sentir mais leves, como se a presença dela trouxesse algo que faltava em suas vidas.

Com o tempo, perceberam que Mira não era apenas uma nova amiga. Havia algo a mais. As conversas não eram apenas sobre trivialidades; havia olhares trocados, toques ocasionais e sorrisos que se prolongavam um pouco além do habitual. A curiosidade inicial transformou-se em uma atração silenciosa, um desejo que nenhuma delas ousava nomear.

Era como se uma nova melodia estivesse começando a tocar, e Sena e Chaeun, que já tinham sua própria dança, estavam descobrindo novos passos para acompanhar o ritmo. E, pela primeira vez em muito tempo, elas não sabiam como a música iria terminar.

Kissing Heart | SaMiChaeng | Extendida Onde histórias criam vida. Descubra agora