dois.

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O que começou como uma amizade casual logo se transformou em algo mais profundo, mais complexo. Sena, Chaeun e Mira se encontravam quase todos os dias no parque, e a presença de Mira na vida das duas não era mais um mero acaso. Ela se tornara parte da rotina delas, uma adição inesperada que parecia ter sempre pertencido ali. Os encontros no parque passaram a incluir conversas prolongadas em cafeterias, risadas durante passeios à noite, e até jantares onde elas cozinhavam juntas, experimentando receitas e criando novas tradições.

Sena e Chaeun sentiram que algo estava mudando, mas a mudança não era desconfortável. Pelo contrário, parecia natural, como se Mira estivesse preenchendo um espaço que existia ali sem que elas sequer soubessem. Chaeun costumava ser a mais reservada das duas, mas percebeu que com Mira conseguia falar sem medo, sem precisar medir palavras. Sena, por sua vez, se via atraída pela leveza de Mira, pelo jeito despreocupado com que ela encarava a vida, algo que contrastava com sua própria necessidade de ter tudo sob controle.

Em um desses encontros, sob a luz suave de um café pouco iluminado, Mira compartilhou uma história pessoal. Falou sobre a solidão que às vezes sentia, mesmo rodeada de pessoas, e sobre como caminhava com o cachorro para organizar seus pensamentos. Sena e Chaeun ouviram atentamente, e naquela noite, quando Mira riu de algo que Chaeun disse, havia uma sinceridade nos olhos dela que fez Sena se perguntar se era possível amar alguém assim, tão fácil e suavemente.

A princípio, ambas tentaram ignorar a atração crescente. Era algo sutil, que se manifestava em pequenos gestos: um toque de dedos que durava mais do que o necessário, um olhar que continha mais do que palavras poderiam dizer. Mas quanto mais tentavam ignorar, mais a sensação se intensificava. Era como um segredo compartilhado, um jogo silencioso onde todas sabiam o que estava acontecendo, mas ninguém queria ser a primeira a dizer em voz alta.

E então houve uma tarde que mudou tudo. Sena, Chaeun e Mira decidiram sair para um piquenique. O dia estava ensolarado, e o céu, limpo, parecia convidá-las a relaxar e esquecer de tudo. Estenderam uma toalha no gramado, tiraram sanduíches e frutas das cestas e passaram horas deitadas, conversando e rindo. Mira estava deitada entre Sena e Chaeun, e os braços delas se tocavam ocasionalmente. Quando a conversa foi interrompida por um silêncio confortável, Mira virou a cabeça para Sena e sorriu, um sorriso que pareceu penetrar as defesas dela.

Era um momento simples, mas algo dentro de Sena mudou. Ela percebeu que queria aquilo — queria Mira ali, sempre, não só como uma amiga. Seus sentimentos por Mira não diminuíam o amor que tinha por Chaeun; pelo contrário, pareciam ampliá-lo, como se ter Mira em suas vidas trouxesse à tona novas formas de amar. Quando olhou para Chaeun, viu que ela também estava observando Mira, e havia uma doçura no olhar dela, um entendimento silencioso.

Depois do piquenique, enquanto guardavam as coisas, Mira se afastou para brincar com o cachorro. Sena e Chaeun se entreolharam, e pela primeira vez, não houve necessidade de esconder o que sentiam.

— O que acha dela? — Sena perguntou, e Chaeun sorriu, um sorriso que parecia carregar todas as respostas.

— Acho que ela é especial. E acho que nós duas sentimos isso.

Era a confirmação que Sena não sabia que precisava, e, ao mesmo tempo, um novo desafio que elas teriam que enfrentar juntas.

O relacionamento entre Sena e Chaeun sempre fora marcado pela honestidade. Nunca esconderam nada uma da outra, e isso as unira ao longo dos anos. Mas agora, havia uma nova camada em sua relação — a atração por Mira, que parecia inevitável. As duas passaram noites conversando sobre o que aquilo significava, se era justo incluir alguém em algo que parecia tão perfeito entre elas. O que concluíram, no entanto, foi que seu amor não era uma barreira; era um campo aberto, onde havia espaço para mais.

Nos dias que se seguiram, Sena e Chaeun se permitiram explorar esses sentimentos de forma mais aberta. Quando encontravam Mira, já não tentavam evitar o toque, os olhares prolongados. A atração mútua era palpável, como uma energia que corria entre elas, e Mira parecia sentir isso também. Um dia, depois de um longo passeio, elas se despediram no portão do parque. Era tarde, e a luz dourada do sol poente banhava o rosto de Mira. Chaeun hesitou antes de falar, e então, com uma suavidade que a surpreendeu, convidou-a para jantar na casa delas, dizendo que seria bom passar mais tempo juntas. Mira aceitou o convite, o sorriso dela iluminando o momento.

A noite começou com vinho e risadas, e continuou com histórias compartilhadas. Cada vez que Mira se inclinava para mais perto, Sena sentia seu coração acelerar, e via que Chaeun experimentava o mesmo. Quando finalmente decidiram ir para a varanda, onde uma brisa leve agitava as folhas, Mira estava entre as duas, e as mãos delas se tocaram casualmente. O toque não era apenas um toque; era um convite, uma pergunta silenciosa sobre o que viria a seguir.

Sena e Chaeun sabiam que estavam no limiar de algo novo, algo que poderia mudar tudo. A conexão com Mira, que até então parecia ser uma dança suave de olhares e gestos, estava prestes a se transformar em algo maior, mais tangível. Mira olhou para elas, como se esperasse uma resposta, e por um momento, o mundo pareceu parar.

Era claro que o amor que Sena e Chaeun sentiam uma pela outra não havia diminuído. Pelo contrário, a presença de Mira parecia fortalecê-lo, como se trouxesse novas cores a uma pintura que elas já amavam. E, pela primeira vez, as três perceberam que talvez o amor pudesse ser uma coisa expansiva, algo que crescesse para além das fronteiras que haviam estabelecido. O toque de Mira, o brilho nos olhos dela, a forma como se encaixava entre elas sem esforço — tudo sugeria que, talvez, houvesse espaço para mais do que elas haviam imaginado.

Quando a noite terminou, não havia palavras suficientes para expressar o que todas sentiam. Havia, no entanto, a promessa de algo novo, uma trilha que todas estavam dispostas a seguir, mesmo que ainda não soubessem exatamente onde ela as levaria. As mãos se soltaram com relutância, e, ao se despedirem, um novo entendimento pairou no ar. Não era o fim de nada; era apenas o começo.

Kissing Heart | SaMiChaeng | Extendida Onde histórias criam vida. Descubra agora