Mark
Nunca pensei que fosse conhecer o meu futuro sogro desse jeito. Planejei uma noite ao lado da Lindsay para poder me aproximar aos poucos, conseguir um pouco da sua atenção e acontece isso.
A situação é trepidante, não tem como não ser, ele é bandido ou mafioso, não sei, fui sequestrado e é provável que eu passe por alguma tortura por ter admitido ser namorado da sua filha. Só queria demonstrar valentia e deixar Lindsay impressionada, mas ela olha para mim como se fosse louco.
Se ela soubesse que não sou nem metade do que ela conhece, que meu coração está cheio de ódio e sede de vingança e que escondo tudo com uma máscara, tenho a certeza que ficaria surpresa.
Eu perdi a minha mãe aos nove anos e o meu pai aos onze, não tinha ninguém além dos meus tios. Só conheci o irmão do meu pai quando ele morreu, deveria saber porquê nunca o tinha visto antes, ele não presta. Ele sempre teve inveja do meu pai e quis tudo o que era dele.
Meu pai se tornou rico quando casou com a minha mãe. Ele trabalhava para o meu avô e era o único que ele confiava para gerir seus negócios e ficar com a sua filha. Minha mãe sempre me contou a história quando era criança. Com a morte do meu pai, meus tios passaram a morar comigo e fingir que gostavam de mim. Eu fiquei um ano sem pronunciar uma palavra para eles após descobrir suas verdadeiras intenções, enquanto eu lia os livros do meu pai e tentava pensar como faria para me livrar deles. Obviamente, uma criança não podia fazer muita coisa, só tinha que esperar. Quanto mais eu crescia, mas eu sabia das coisas.
Minha tia não me suportava, ela fazia tudo pelos meus primos, mas nada por mim. Às vezes, olhava para mim com desdém. Seu filho da minha idade, ia para as festas, fumava e bebia, dormia com as meninas na minha casa e não era castigado, mas eu era castigado se não respondesse o meu tio.
Eu não era rebelde, simplesmente fiquei obcecado com o meu plano de vingança. Eu esperei pacientemente até ser maior de idade para poder executar o meu plano. Um plano que até hoje não foi concluído, porque eu tenho esperado. Ninguém é mais paciente do que eu.
Meu primo é igualzinho ao pai, ambicioso, malvado, arrogante, egoísta, talvez até seja narcisista, diferente da sua irmã, que é um anjo. Felizmente, agora ela está na faculdade, em Oxford e não poderá assistir a ruína da sua família.
Eu gosto de resolver os meus problemas, eu sempre finjo que estou bem para não preocupar os meus amigos. Eles acham que sempre estou bem, mas eu nem sempre estou. Eu uso uma máscara todos os dias, para esconder a minha tristeza, e felizmente, sou bom nisso.
— Senhor Ozu, o senhor não pode sequestrar a sua filha sempre que tiver vontade. — Começo. — Sei que vai achar que sou muito ousado, mas desse jeito só vai distanciar ela. Desse jeito não vai resolver nada.
— Ah é?
— Sim. Desse jeito não vai conseguir o meu afeto. — Lindsay gesticula, apesar de ter as mãos algemadas.
Ela veste um vestido preto de seda que varre o chão, mostrando suas costas lindas, onde caem seus cabelos pretos e sedosos. Não importa o que ela vista, ela é perfeita, única e maravilhosa.
— O senhor alguma vez já tentou uma abordagem diferente? — pergunto. Lindsay acena a cabeça negando.
— Olha só, um namorado que não gagueja quando fala comigo. Vejamos se é tão valente assim. — Ele sorri. Um sorriso de arrepiar, obviamente.
— Se o senhor fizer alguma coisa com ele, juro que deixarei de ser sua filha! — Lindsay ameaça.
— Você diz sempre isso. — Senhor Ozu dá de ombros. — Que diferença isso faz?
Os seus homens vêm até mim com um sinal dele e começam a me levar pelo corredor. Agora estou mais assustado ainda, mas não posso demonstrar. Simplesmente caminho e permaneço quieto e com o rosto impassível enquanto Lindsay grita com o seu pai.
— PARA! PAI, POR FAVOR!
Entramos numa sala escura que abafa o som. Assim que as luzes se acendem, vejo apenas uma cadeira, várias armas numa mesa e um grande espelho na parede. Desconfio que seja a sua sala de tortura, homens como ele sempre têm uma.
Os homens de terno preto obrigam-me a sentar na cadeira e saem, deixando senhor Ozu entrar em seguida. Lindsay não está por perto, então lanço o meu olhar de ódio para ele. Estou assustado, mas também furioso.
— Eu chamo a essa sala de "sala de manipulação", porque tenho a certeza que não quer saber como deve ser a minha sala de tortura. — Ele cruza os braços.
Senhor Ozu é ligeiramente parecido com Lindsay fisicamente, mas há alguns olhares e gestos que faz, que me lembram dela. Ele tem cabelos pretos como a filha, tem uma tatuagem de cobra que aparece na manga do quimono e parece intransigente.
— Sendo sincero, não estou impressionado. — Fico confortável na cadeira. — E se o senhor pretende me torturar para deixar a sua filha em paz, vá em frente. Eu não me importo, então se realmente quer que eu esteja longe dela, vai ter de me matar.
Ele ri. — Isso é porque ainda não sabe do que eu sou capaz.
— Não. O senhor é quem não sabe do que eu sou capaz. Eu não tenho nada a perder. — Cruzo o pé acima do joelho. — Meus pais estão mortos, meus tios são meus inimigos, a minha empresa está a caminho da falência, tudo o que me resta é a sua filha, que eu tenho a certeza que não irá machucar.
Ele se aproxima de mim e se inclina para frente. — Eu consigo ver a fúria nos seus olhos. Fizeram alguma coisa com você.
— Talvez.
— Mas deveria ter medo de mim.
E tenho. Um pouquinho.
— O senhor pode começar quando quiser.
Ele bate no meu ombro. — É assim que eu gosto!
Senhor Ozu pega num alicate e mostra o instrumento para mim. O suor escorre pela minha testa, mas não demonstro o meu medo. Eu sei que é isso que ele quer, ele só quer me assustar. Que homem mataria ou torturaria o namorado da filha?
— Vamos começar pelos seus dentes.
Suspiro. — Já disse, não tenho nada a perder. Eu não vou me afastar da Lindsay e se puder, irei protegê-la de todos até mesmo do senhor.
Ele parece não ter gostado do meu comentário porque vem até mim, inclina a minha cabeça para trás, coloca o alicate dentro da minha boca e eu fecho os olhos, esperando ele arrancar os meus dentes, mas ele ri e se afasta.
— Quem diria! Finalmente a minha filha encontrou um homem que valha a pena. — Ele deixa o alicate na mesa, ao lado de outras armas.
— O que isso significa?
— Isso é um teste. Parabéns, você é o primeiro homem a passar no meu teste.
Alívio me preenche completamente. Meus amigos não vão acreditar quando eu contar tudo isso. Mais uma prova de que Lindsay e eu somos perfeitos um para o outro.
— Que inesperado!
— Eu quero que a minha filha namore com alguém capaz de tudo por ela e não um idiota medroso. — Ele me ajuda a levantar. — Agora vamos comemorar o meu aniversário.
Saímos da sala e ainda estou confuso. Lindsay está sentada no sofá sem algemas e levanta para me alcançar. Ela olha para mim, preocupada, depois procura por ferimentos no meu rosto. Sua mão toca a minha pele e só tenho vontade de abraçá-la e beijá-la profundamente, mas tudo o que faço é sorrir para ela porque eu sou apenas um amigo. Ela tem um namorado e não sou eu.
Ainda.
— Você não está machucado. — Ela repara.
— Era para eu estar?
Senhor Ozu olha para mim. — Você não me irritou como os outros. — Ele dá outro sinal para seus homens tirarem as minhas algemas.
— O que aconteceu? — Lindsay está confusa com toda a situação.
— Você encontrou um homem de verdade, foi isso. — Senhor Ozu aperta a minha mão. — Pode me chamar de senhor Ozu.
— Está bem. — Digo, apesar de ser assim que o tratei desde que cheguei aqui.
— Você... Você... — Lindsay está cada vez mais confusa.
— Aparentemente passei no teste. Agora podemos ir? — tento a sorte.
— Claro que não. Hoje é o meu aniversário e vou passar com a minha filha. Na verdade, o final de semana inteiro será o meu aniversário.
Lindsay suspira. — Eu tenho um compromisso.
— Mais importante que o seu pai? Lembra que eu estou doente? — ele tosse, mas dá para perceber que finge.
— Por que o senhor não poderia ser normal? — Lindsay cobre o rosto com as mãos, envergonhada talvez.
— Tem bolo de chocolate. E mandei prepararem o quarto para vocês. — Ele caminha para outra sala e seus homens nos empurram para o acompanhar.
Shakespeare tinha razão quando disse que o amor não é fácil.
— Eu avisei a Veronica que fomos sequestrados. — Lindsay sussurra para mim.
— E o que eles vão fazer? Chamar a polícia?
— Não. Era só para não ficarem preocupados.
Entramos na sala grande com imensa comida por cima da mesa baixa japonesa. A sala tem uma parede cheia de espadas, outra com uma estante bem decorada com artigos de ouro e algumas fotos, e também uma parede com um quadro gigante com uma bela pintura do que aparece ser de camponeses.
— A minha mãe não vai gostar de saber que o senhor me sequestrou. De novo. — Lindsay suspira. — E o meu vestido foi caro, eu desperdicei dinheiro que poderia doar.
— Eu também te amo, minha filha. Agora, sentem-se, por favor.
Os homens nos obrigam a sentar e saem da sala, mas sinto a presença deles, tenho a certeza que estão por perto.
— Feliz aniversário, senhor Ozu. — Digo. Tenho que colaborar já que não podemos sair daqui.
Por enquanto.
— Obrigado.
Lindsay respira fundo. — O senhor não pode me obrigar a ficar aqui.
Senhor Ozu ignora. — Vamos comer antes que a comida esfrie.
— Por que o senhor finge que não ouve a sua filha? — pergunto. — Com todo o respeito.
— Por que vocês não se limitam a comer?
Lindsay cruza os braços. — Não tenho fome.
Senhor Ozu suspira. — Se eu tivesse te convidado seria diferente?
— Não sei dizer, você nunca tentou.
Um dos homens engravatados entra na sala novamente, no momento certo porque não quero ouvir brigas de pai e filha. É um pouco constrangedor.
— Senhor Ozu, tem uma ligação importante.
Ele levanta irritado. — Não demoro. Vou resolver alguns assuntos.
Observo ele sair com o homem careca e Lindsay ficar cada vez mais irritada. Eu entendo, nós tínhamos compromissos com os nossos amigos e agora vamos passar o final de semana aqui.
— Você está bem? — pergunto.
— Claro que não. Como eu posso estar bem?
— Eu entendo. Ouve, o que o seu pai fez foi desnecessário e horrível, mas é o aniversário dele e é seu pai. Se chegou a esse extremo talvez se sinta sozinho. — Tento ver um lado positivo nisso, além de dormir no mesmo quarto que ela.
— Eu não pedi para ele escolher essa vida.
— Eu sei, mas ele é seu pai. Talvez só por hoje deveria ser mais branda com ele. Deveria aproveitar que ele está aqui, porque com o trabalho que tem nunca se sabe. E... você não sabe o que eu daria para que o meu pai estivesse comigo nesse momento.
Ela toca a minha mão. — Você tem razão. O que ele fez foi errado, mas deve se sentir sozinho. E eu lamento que seu pai não esteja mais aqui.
— Além disso, estou com fome e duvido que seu pai nos deixe sair daqui.
Ela ri. — E não vai. Não é a primeira vez que isso acontece.
Senhor Ozu regressa minutos depois e senta na mesa. Meus olhos sempre vão para as espadas atrás dele e sei que toda essa situação é errada, mas o que posso fazer? O pai da Lindsay é louco e assustador, mas posso lidar com ele.
— Então, estão servidos. — Ele aponta para a comida.
— Feliz aniversário, pai. — Lindsay diz.
Ele sorri e agradece e nós jantamos juntos como se fosse uma situação normal, mas não é porque ele conta sobre os tipos de armas que ele sabe usar.****
Temos apenas um quarto e uma cama. Um quarto, uma cama, nada de sofá, nada de poltrona ou sequer um tapete e eu não poderia estar mais feliz.
A porta do closet está aberta porque Lindsay procura alguma coisa para dormir mais confortável, mas eu me limito a ficar apenas com a minha calça, deitado na cama porque nem pensar que vou perder essa oportunidade.
Lindsay regressa com uma camisola bege e o cabelo num rabo de cavalo. Raramente vejo ela sem seus saltos altos ou sem maquiagem e acho que estou ainda mais apaixonado.
— Uma cama.
— Parece que sim. — Digo. — Não se preocupe, ela é grande o suficiente para os dois.
— O que meu namorado vai pensar de mim?
— Ele não precisa saber de todos os detalhes. — Bato ao meu lado para que ela deite também.
— Eu...
— Eu sou inofensivo.
Ela ri e deita ao meu lado, cobrindo o seu corpo. — Você parece inofensivo. Eu sinto que seus olhos escondem alguma coisa.
— Isso me tornaria mais interessante?
— Você é interessante porque você é um ótimo amigo, você é muito inteligente, você é forte e ama ajudar as pessoas.
— Deve ser por isso.
Meu telefone vibra e vejo uma mensagem do Justin. Na verdade é uma foto dele e de Alaia com o filho nos braços. A mesma foto é recebida no nosso grupo minutos depois.
— Nosso pequeno Adkins Wallace acabou de nascer. — Lindsay sorri, seus olhos pesados de tanto sono, segurando o telefone.
— Finalmente. Justin já estava louco.
— Não mais do que Alaia. — Ela deixa o telefone no nosso meio.
— Então, como se chama o seu namorado? — pergunto o que eu sempre quis saber. Preciso saber quem é o namorado dela.
Ela boceja. — George, por quê?
Olho para ela, desconfiado. É muita coincidência.
— Eu conheço muitos Georges.
— Aposto que não conheço o meu. — Fica fecha os olhos. — Conhece George Rosberg?
George Rosberg.
Com sua pergunta, percebo que Lindsay não sabe o meu sobrenome, então nunca saberia que George é meu primo.
Não respondo, mas ela não se importa porque adormece, completamente inocente da raiva que cresce dentro de mim.
George é o namorado da Lindsay.
Agora a minha vingança terá um sabor mais doce.

VOCÊ ESTÁ LENDO
DESASTRE [COMPLETO NA AMAZON]
RomansMark Rosberg era amável e agradável, uma pessoa muito boa, mas isso era tudo o que as pessoas viam. Após perder os pais no início da adolescência, seu coração estava com sede de vingança e estava disposto a tudo para recuperar tudo o que é seu. ...