Capítulo 1: Ecos do Passado

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Esse é o único caso que nunca consegui solucionar. E não, não estou me gabando de ser um grande detetive. Naquela época, eu já tinha anos de experiência e uma longa lista de criminosos presos graças a mim. Mas esse caso... ele era diferente. O assassino parecia um fantasma. Sem voz, sem quase nenhuma pista, sem rastro. Cada pista me levava a lugar nenhum. Bom, acho que está na hora de te contar os detalhes.
Era uma sexta-feira à noite. Eu estava dentro da viatura, terminando a ronda e ansioso para ir para casa. Naquela época, eu tinha entre vinte e sete e vinte e nove anos. Já passava das onze da noite quando o rádio da viatura interrompeu o silêncio.
---Viatura próxima à Avenida Ivo Silveira, favor comparecer ao local.
---Detetive Patrick a Caminho, respondendo à ocorrência da Central.
---F-04, repito, F-04. Cadáver de adolescente encontrado à beira da estrada.
Ao chegar, fui recebido pela cena trágica. Um jovem, provavelmente envolvido com a pessoa errada naquela noite. Tinha entre dezesseis e dezessete anos, cerca de um metro e setenta e dois de altura, porte físico médio. O corpo havia sido encontrado por volta das dez e cinquenta por uma senhora que voltava de bicicleta para casa. A vítima estava nua. Imediatamente, solicitei um exame de corpo de delito para verificar possíveis sinais de abuso sexual. Não havia sinais de agressão visíveis, o que indicava que ele provavelmente fora dopado antes de ter suas roupas e pertences roubados. Tudo levava a crer que se tratava de um latrocínio, roubo seguido de morte. Um caso complicado, sem nenhuma pista clara no local. Pedi que os policiais verificassem todos os clubes e festas nas proximidades e ordenei que o corpo fosse levado ao necrotério. O que parecia ser uma simples ronda acabou se tornando uma jornada por festas lotadas de adolescentes bebendo e se drogando.
Passei a noite toda pulando de balada em balada, sem encontrar nada que me ajudasse a identificar o jovem assassinado. As milhares de câmeras que verifiquei não mostraram qualquer sinal dele. Foi então que cheguei ao Aveny Club. Uma jovem se aproximou ao ver meu distintivo, desesperada por ajuda para encontrar seu irmão, que havia desaparecido. Seu nome era Eloise, tinha cerca de vinte e dois anos, um metro e setenta de altura, e era tão bela que parecia uma modelo internacional. Ela me contou que seu irmão se envolveu em uma discussão com alguns caras que a estavam assediando. Se os seguranças não tivessem intervindo, com certeza uma briga teria acontecido, logo após, Eloise contou que havia ido ao banheiro e, quando voltou, seu irmão não estava mais na mesa. Ele havia desaparecido como num passe de mágica, e ninguém mais o tinha visto. Eu sentia que ela falava do mesmo jovem encontrado morto. Mas antes que eu pudesse dizer algo, meu celular tocou. Era Larissa, minha ex-namorada e médica responsável pela autópsia no necrotério.
---Oi, Larissa, pode falar. Estou ouvindo.'
---Detetive, você poderia vir ao necrotério? Quero te mostrar a autópsia do corpo que vocês me mandaram hoje.'
---Ok... já estou indo.'
Não podia contar a Eloise sobre seu irmão ainda, mas também não podia deixá-la naquele local. Pedi que me acompanhasse. Ela estava visivelmente nervosa dentro do carro, então perguntei como era seu irmão.
---Bom, o Patrick... Quer dizer, o Derek, ele era muito superprotetor, mesmo eu sendo a irmã mais velha. Sempre estava ao meu lado, me protegendo de tudo. Ele fazia jiu-jitsu, então não era muito de baladas e bebidas. Cuidava bastante do corpo, detetive. Por favor, me ajude a encontrá-lo. Não sei o que faria se algo tivesse acontecido com ele.
Infelizmente so pude acenar com a cabeça, mas ela se acalmou tanto ao falar sobre seu irmão que acabou adormecendo durante o trajeto. Ela mencionou que Derek não queria ir à festa, notando que ele estava assustado com algo. Mas acabou ignorando. Afinal, as únicas brigas que ele se metia eram para proteger a irmã. Aparentemente, ele era um bom adolescente. Pedi para que puxassem a ficha dele. Sem antecedentes, jovem, inteligente, saudável, com um futuro promissor na educação física, cujos sonhos foram interrompidos por ter cruzado o caminho da pessoa errada, ao chegar no necrotério, Larissa me aguardava, como sempre, com sua atitude curta e direta, evitando qualquer conversa mais pessoal desde que terminei com ela para focar na minha carreira.
---Como sempre, atrasado, né, Patrick?" Ela disse, um tanto exasperada. "Enfim, não importa. Me acompanhe até o necrotério.
---Oi para você também, Larissa. Seja rápida, estou com a irmã do rapaz que foi assassinado na viatura.
---Para pegar o depoimento dela ou para pegar ela?
---Primeiramente, estou em serviço. Em segundo lugar ela não faz o meu tipo. O que você tem para mim?
---Bom, pelo estado do corpo, o rapaz morreu por volta das nove horas. Isso confirma a teoria de que o corpo foi movido de lugar após a morte. Temos rastros de bebidas no sangue, que indicam que ele estava na balada. Nas unhas dele, encontramos traços de pólvora. Provavelmente ele portava uma arma e atirou em alguém ou em seu assassino. Também há traços de tecido, o que sugere que ele lutou com o assassino depois de ser desarmado, então, aparentemente, houve uma briga.
---Exatamente. Como sempre, você foi minuciosa nos detalhes. Para mim, tinha sido só mas um caso de latrocínio!
---Bom, já sei onde foi o local, se ele realmente for irmão da menina que está no meu carro.
---Obrigado pelo elogio, mas isso não é tudo. Como posso dizer? É bizarro. A língua dele foi arrancada. A boca parece ter sido queimada. Provavelmente, ele ingeriu algum tipo de substância cáustica.
---Que crueldade. Não estamos lidando com um simples assassinato, então. Eloise disse que seu irmão vinha tendo atitudes estranhas há meses e não contou nada. Talvez estivesse sendo ameaçado pelo assassino, de uma coisa temos certeza: estamos lidando com um profissional. Provavelmente, um assassino em série. Bom, Lari, quando posso trazer Eloise para identificar o corpo e ver se realmente é o irmão dela?"
---Primeiro, não me chame de Lari. Não somos mais íntimos. Em segundo lugar, ela está nos observando pela janela da porta há algumas horas. Pode pedir para ela entrar.
---Ok, vou buscá-la.
---Eloísa, preciso que você mantenha a calma agora. Algumas horas antes de eu aparecer na balada, recebi uma chamada de uma senhora que estava caminhando pela rua. Ela ligou para a polícia porque havia encontrado o corpo de um jovem. Quero que você veja se é o seu irmão. Você consegue fazer isso?
---Sim, consigo!
Após entrar na sala, Eloísa confirma que era seu irmão mais novo, Derek. Ela se manteve firme, mas assim que Larissa a abraçou, desabou em lágrimas. É triste saber que ela terá que consolar a mãe quando a notícia chegar. É triste saber que uma família foi destruída por causa de um maluco qualquer.
Mas eu prometi a Eloísa que encontraria esse desgraçado e traria justiça para a sua família. Porém, como resolver algo sem pistas? Havia apenas pontos brancos em meio a uma grande escuridão, e eu precisava conectá-los antes que mais vidas fossem perdidas. Então, resolvi voltar à balada. Foi lá que tudo começou e espero que me entreguem uma nova pista. Espero que não seja um beco sem saída.

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