Meu corpo inteiro doía até o ato de piscar, escorrem lágrimas dos meus olhos irritados.
Lembro dos golpes na lateral do meu corpo e tento tocar a área que deveria estar doendo.
“Estou viva”, penso sem ter certeza.
Olho o teto branco com luzes fluorescentes e um cheiro enjoativo de álcool entra nas minhas narinas com esse ar que sai do tubo preso no meu rosto.
— Lois, pela nossa senhora das matérias de sucesso — meu pai suspira e eu me viro à direita, vislumbro seu semblante abatido ele se afasta da mesa de descanso, deixando o laptop de lado — ficamos preocupados.
Vibro meus olhos chorando. Clark também chora de maneira silenciosa, evitando me olhar.
— Papai, eles mataram todo mundo — tento me sentar em histeria — o Jason me matou.
— Querida, não — ele me agarra, apertando meu corpo dolorido — não entendo o que está falando, respire. Ok.
— O time de hóquei pai matou todo mundo, a Regrel, Jaime, todos mortos, todos mortos!
Clark se afasta, olhando com incredulidade, me oferece uma garrafa de água e aperta o botão de emergência em cima da cabeceira da cama.
Fica em silêncio, entendo que ele não sabe como agir nessa situação, me abraça e me orienta, respira devagar e e inspira três vezes.
Logo após, uma enfermeira entra e me questiona, se estou sentindo dores ao respirar, se me lembro do que aconteceu, repito todo o meu trajeto mentalmente e cito tudo que houve: todo o massacre na universidade.
Agora, meu pai sorri.
— É normal, você passou por um evento traumático, ficou inconsciente por muitas horas, acontece do nosso cérebro inverter o ocorrido — ela suspira ao medir minha pressão. — Está estável, senhorita Lest.
— Obrigada. — Agradeço e ela se despede após orientar que logo o médico virá.
É normal que ninguém acredite em mim: não estou louca, foi muito real.
Meu pai a acompanha com os olhos, depois volta sua atenção para mim, termino de beber a água da garrafa, não contenho as lágrimas, um nó se forma na minha garganta e eu choro pensando nos meus amigos mortos.
— Lois, tudo bem, querida?
— Eles estão mortos, papai.
— Não, filha, a enfermeira acabou de falar que você inventou essa história quando estava inconsciente — ele volta para mesa de trabalho e senta na lateral da cama com o laptop em mãos — sua mãe está com o original, cuidando dos outros assuntos. Eu achava que estava descontrolado, mas sua mãe me ganhou.
Fico sem entender.
Ele dá o player em uma gravação de áudio.
— Isso que você está falando é loucura. Valentina! — É a minha voz na gravação, aparentemente nervosa e com resquícios de choro.
— Eu sei, mas você não vai sair daqui, ninguém nessa escola vai sair — Valentina exclamou, me causando um temor — você acha que pode roubar meu namorado e se safar, e todas essas pessoas rirem de mim, não Lois, maldita, ninguém aqui vai sobreviver, queimarei cada canto desse lugar.
— Isso é crime, você vai ser presa a troco de nada, pare com isso.
— Minha ideia inicial era te queimar no palco enquanto você estava cantando com o meu namorado. — Valentina grita — Mas não sou cruel, as últimas salas estão queimando, não vai demorar para o fogo chegar aqui.
Recordo-me da cena, era só eu e ela na sala enquanto a fumaça invadia o cômodo. Pela tensão, fiz uma pequena correria, no entanto, fui impedida e Valentina me empurrou contra a mesa. Toco o recém-ferimento nos meus lábios superiores, ocasionado pelo soco que me deu naquele momento.
Meus gemidos saem no áudio, barulhos de engasgos e tosse, nós travamos uma leve luta onde ela se sobressaia de alguma forma: não sabia que minha ex-amiga sabia lutar.
— Sua vadia, conheço essa fantasia, era você no provador.
Lembro do soco repentino, da queda ao chão, das minhas vistas turvas, ela se erguendo e indo em direção à saída.
— Sua morte vai ser bem rápida, Olga.
Clark fecha o notebook, visualiza meu semblante atônito, estou me sentindo meio enjoada e acabo deitando.
— Sua mãe está resolvendo os assuntos burocráticos. Valentina fugiu e outra aluna foi apreendida — papai inspira — não sabíamos desse lado tenebroso de Valentina.
Minha amiga de infância tentou me matar por ciúmes, não foi à toa que minha mente ocultou o ocorrido e agora estou dolorida por dentro. Apesar de todas as coisas que ela me fez, eu não sentia que poderia acarretar uma tentativa de homicídio.
— Como estão meus amigos? — questiono, afastando minha melancólica.
— Regrel queimou a mão, já foi liberada, Jaime está perfeitamente bem. — Meu pai puxa o celular do bolso. — Seu namorado está no quarto ao lado.
— Namorado?
— Isso mesmo, se ele pensa que vai tirar a virgindade da boca da minha filha e se safar, está muito enganado — ele encosta o celular na orelha. — Sua mãe diz que estou maluco, porém Jason está numa espécie de jogo comigo. Salvou sua vida do incêndio. Está com muitos pontos na minha escala.
Clark caminha em direção à porta e atravessa sem se despedir.
“Me salvou?”
Dispenso o tubo de oxigênio e desse quarto frio.
Entro no quarto privado, não o vejo, a cama está arrumada e tem uma pequena mala no centro. O barulho do chuveiro me pega de surpresa, descido, esperá-lo sentada na poltrona no canto inferior do quarto.
Não muito depois, o som é silenciado seguido de alguns insultos.
Tento não rir envergonhada, ele passa a porta enrolado em uma toalha de banho, já o vi sem camisa muitas vezes, mas seu corpo robusto, molhado com gotas escorrendo e constrangedor.
— Jason — limpo minha garganta, buscando tirar o constrangimento, agora vejo seu lado direito coberto por curativo que vai do maxilar próximo ao olho são apenas gases, para evitar que o ferimento seja molhado, isso me causa uma raiva momentânea me sinto culpada — Você sabe que a culpa é toda sua por estar com esse rosto ferido, né? — as palavras saem flutuando da minha boca.
Tremo meu corpo, ele salva minha vida, deveria ser agradecida, “como o odeio por me sentir dessa maneira, vulnerável”.
Jason levanta uma sobrancelha, surpreso.
— Minha culpa? Como assim?
— Se você não tivesse sido tão heroico e me salvado, você não estaria com essa cicatriz — aponto para o curativo no rosto dele.
Jason sorri, balançando a cabeça e jogando gotas de água por toda parte. Seus passos são ligeiros, se aproximando da minha direção e me encurralando.
— Ah, então é assim? Salvo sua vida e agora você invade meu quarto me acusando? — solta um sorriso travesso.
— Exatamente, sua namorada queria me matar, entrelaço os braços e evito encarar seus olhos cintilantes. — E agora tenho que encontrar uma maneira de retribuir. Tudo por sua culpa, diga logo o que você quer em troca?
Jason parece estar pensando por um momento, fingindo estar sério. Isso não é uma brincadeira, sinto-me encurralada, penso que não deveria ter entrado nesse quarto.
Seu sorriso desdenhoso não me ajuda a tirar essa tensão dentro de mim, fico mais nervosa a cada instante.
— Bem, vai ser difícil arranjar uma namorada, com essa cicatriz no rosto. Talvez você possa me ajudar com isso?
— Ah, então você quer que eu seja sua casamenteira agora? — reviro meus olhos — não seja dramático, não parece tão feio.
— Por que não? Afinal, você me deve uma. — Ele deu de ombros, gargalha e caminha até a cama. — Quero me desculpar por te colocar nessa posição. Valentina, o incêndio, me perdoe, Lois, não precisa me retribuir, sério!
Ele solta a toalha e premedito fechar os meus olhos, porém a curiosidade me faz olhá-lo desnudo, sua bunda robusta, inclino minha cabeça, decorando cada milímetro da cena que me impressiona.
O fato de Jason não ter nenhuma timidez, se vira segurando uma cueca azul.
— Aí, meu senhor — oculto minha visão com as mãos, abro os dedos, vendo sua masculinidade exposta — você é louco?
— Não, quem está no meu quarto sem ser convidada? Babando sobre minha bunda? — ele veste a peça íntima.
Isso é verdade, pois entrei e comecei a acusá-lo sem nenhum pudor. Nos últimos dias, ele me fez ficar assim impulsiva, envergonhada e apaixonada.
“Isso é tudo por causa dele”.
— Diga logo o que você quer, para eu ir logo para meu quarto, não quero te dever nada. — Imploro nervosamente.
— Se você quer tanto retribuir — ele retira os gases do rosto. A queimadura está enrugada e avermelhada com uma mistura amarelada, creio que seja gordura facial ou resquícios de tratamento — faça o curativo do meu rosto. Até ele sarar, demorará, pois, até a face da minha alma está queimada.
Ergo-me da poltrona, organizo a bata hospitalar no meu corpo, ele senta-se no leito e depois deita.
— Você é tão dramático — revirou meus olhos — ferimento na alma — solto uma risada sincera, segurando um algodão e soro limpo e retiro a fina camada de pomada.
Após secar a área e aplicar mais do creme, termino com um curativo hidrocoloides da cor de sua pele, não é tão horrível quanto parece. A todo momento, ele ficou de olhos fechados, colo o final do adesivo.
Aprecio sua boca rosa se mover.
— Você entendeu o que eu quis dizer? Lois.
— Sim, logo mais sua ferida está curada — continuo brincando com o seu drama — não é tão simples cuidar de um moribundo.
Ele segura minha mão com ternura e encosta no ferimento, minha palma aberta toca a área gelada.
— Seja minha namorada, Lois? — ele faz um bico e abre seus olhos me hipnotizando — estou pedindo formalmente, seu pai disse que somos namorados, porque desonrei sua família.
— Não ligue para o Clark, ele é um hipócrita — dou uma risada — é um péssimo exemplo de honra.
— Então, você não aceita?
Puxo minha mão do seu rosto.
— Pare de besteira, não precisa ter medo do meu pai, você é um ratinho por acaso?
— Lois continue me odiando por acabar com a sua amizade, — sua expressão é sincera. — Sei que você está sentindo isso agora, mas o fato de você estar quase morta naquela sala me deixou assustado. Essa semana foi toda estranha e senti como se estivesse perdendo algo muito importante.
Mordo meu lábio inferior, recordando-me das situações esquisitas com Jason e até dos meus sonhos eróticos, puxo a cadeira sentando próximo à cama.
— Eu queria realmente me livrar de você e da Valentina, — escondo uma mecha do meu cabelo que continua tingido de preto — não vou conseguir me livrar de você, Jason?
— Espero que não, Lois — ele esboça um sorriso.
Suas pernas pendem para fora da cama, suas mãos agarram meu rosto, tirando o ar dos meus pulmões. Meu consciente me diz que terei que me acostumar com seus atos impulsivos, ao me beijar para sempre, desejo que o ferimento da sua alma nunca se cure.
Ele se afasta, me observa, fazendo minhas bochechas arderem e novamente inicia sua tortura, enfiando a língua macia em minha boca.
— Se o seu pai aparecesse agora, me arrasaria de cueca para notário público.
— Não, brinque com isso. — digo, afastando seu rosto de perto de mim.
(…)

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Jason (um halloween universitário).
FanfictionOlga, uma estudante universitária, sonha em se tornar uma grande jornalista. Como editora-chefe do jornal da universidade, ela está determinada a publicar sua matéria mais impactante antes de se formar e deixar a TCCONY. E nada mais justo do que apr...