1. Garçonete

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Agatha caminhava pelas ruas de Echo Park, os passos leves, mas o peso no peito era imenso. O som de seus tênis contra o asfalto sujo parecia ecoar em sua mente, tão caótica quanto às preocupações que a atormentavam. Na sacola plástica que balançava em sua mão, os remédios que comprara para sua mãe pareciam mais pesados do que o habitual, talvez pelo fato de que ela não sabia por quanto tempo mais conseguiria pagar por eles.

A história da família de Agatha começou a desmoronar quando seu pai, antes um homem de negócios respeitado e dono de uma pequena empresa local, foi lentamente consumido por seu vício em drogas. Ela lembrava de como as coisas haviam mudado, quase sem que percebesse no início. No começo, eram apenas pequenas mentiras — desculpas sobre cheques que não tinham sido descontados ou reuniões importantes que foram adiadas. O pai sempre tinha uma justificativa para os problemas financeiros que surgiam na empresa.

No entanto, com o tempo, as desculpas deram lugar a comportamentos erráticos e longas ausências. A empresa, que havia sido o sustento da família, então de classe média alta, começou a declinar rapidamente. Agatha lembrava-se das reuniões tensas entre seu pai e seus sócios, das noites em que ele chegava em casa embriagado ou sob o efeito de drogas, incapaz de olhar nos olhos da mãe. O homem que uma vez fora uma figura de autoridade e orgulho para ela estava se desmanchando diante de seus olhos.

A situação piorou quando as dívidas começaram a se acumular. O vício do pai consumia tudo ao seu redor, inclusive o dinheiro da empresa. Ele pegou empréstimos para manter o negócio de pé, mas ao invés de investir no futuro da empresa ou da família, gastava grande parte do dinheiro alimentando seu vício. Os funcionários começaram a reclamar de salários atrasados, clientes importantes desapareceram, e, em pouco tempo, a empresa foi à falência.

A falência da empresa foi apenas o começo do pesadelo. Com o negócio destruído, o patrimônio da família foi dissolvido em meio a dívidas. A única coisa que restou à família foi a casa em Echo Park, transferida para o nome de Agatha por decisão do pai. Mais tarde, ele tentou reverter essa escolha, mas Agatha se recusou a permitir. O que restava de sua antiga vida confortável foi reduzido a nada. A mãe, já fragilizada pela doença, piorou consideravelmente com o estresse e a dor de ver seu marido se destruir. Ela começou a depender de cuidados médicos caros, e, de repente, tudo recaía sobre Agatha, que mal havia terminado o ensino médio.

O que antes era uma vida estável e cheia de expectativas, com Agatha se preparando para realizar seu maior sonho — estudar Artes na faculdade —, se transformou em uma batalha diária para sobreviver. Desde criança, ela sonhava em seguir carreira artística, e cada etapa de sua educação havia sido um passo em direção a esse desejo. A ideia de viver entre telas, pincéis e inspirações era o que a fazia suportar os desafios da adolescência. Contudo, com o colapso da família, aquele sonho que parecia tão próximo desmoronou. Com o pai morto e a mãe doente, Agatha se viu sozinha, obrigada a adiar indefinidamente sua paixão e lutar apenas para garantir o mínimo de segurança financeira para ambas.

As noites em que ela se permitia pensar no passado eram as mais difíceis. A dor da traição — porque era assim que ela via o que seu pai fizera — ainda queimava em seu peito. Ele não estava mais por perto, e, mesmo se estivesse, Agatha sabia que nunca mais seria capaz de olhar para ele da mesma maneira.

Há meses, a situação financeira que já era ruim vinha se deteriorando mais ainda. O tratamento da mãe e os custos diários. Agatha tinha apenas 22 anos, mas carregava responsabilidades que pareciam pertencer a alguém muito mais velho. Trabalhar meio período como ajudante em uma lavanderia não era suficiente para cobrir todas as despesas. Não odiava, não fazia muito além de recolher trocados e auxiliar os clientes em como utilizar as máquinas. Limpava sempre que podia e ia embora antes do começo da tarde. As contas, empilhadas em cima da mesa da sala, lembravam diariamente da insuficiência de seus esforços.

Plaything | Agathario [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora