Capítulo um.

14 6 9
                                    

Musa🍇

A vida é cheia de altos e baixos, mas parece que a minha tá sempre lá embaixo, sabe? Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 13 anos. Minha mãe, na tentativa de recomeçar, achou que o único jeito era sair de São Paulo. Então, a gente se mudou pro Rio, pro Complexo da maré, onde minha tia morava. Eu odiava essa ideia, mas não tinha escolha.

Chegando aqui, nada foi fácil. Minha mãe, que já tava com os nervos destruídos, começou a se entupir de droga, e minha tia foi junto nessa. As duas no vício pesado, e eu e minha prima, Penélope, na responsa, tentando dar um jeito. A gente ainda era nova, mas tinha que estudar e procurar um trabalho, porque o que elas ganhavam não dava nem pro básico; tudo ia na droga. A coisa tava feia, faltando pouco pra gente ser despejada.

Arrumei um emprego cuidando de uma menina. Ela era uma fofura, tinha só oito anos. Eu só tinha que dar banho, alimentar ela e segurar as pontas até os pais chegarem. Isso me ajudou por um tempo, durou uns dois anos, mas as coisas começaram a desandar.

Quando eu fiz 15, minha vida desabou de vez. Minha mãe teve uma overdose e foi nessa que minha tia sumiu no mundo. Até hoje eu acho que ela devia grana pra alguém e foi cobrada. Logo depois disso, a mãe da menina que eu cuidava me mandou embora, disse que não precisava mais de mim. Me senti perdida, sem chão.

Eu tava lascada, correndo atrás de trampo e nada aparecia. A Penélope também tava tentando segurar a barra, mas a situação era crítica. Foi aí que uma colega minha, que já tava na vida errada, me deu um toque. Eu tava desesperada, e ela me abriu uma porta. Sem pensar muito, me joguei. Eu não tinha noção do que me esperava.

O trampo que a Vitória tinha me arrumado era de aviãozinho pra bandido. No começo, fiquei assustada, mas com o tempo a gente vai se acostumando. E o que eu não esperava era que o emprego da Penélope era isso também.

Mas, trampo que segue, cada uma com seu corre. Fui ganhando moral, passei pra cobrança, ia atrás dos caras que não pagavam. As coisas começaram a melhorar, terminei a escola, mas me afundei cada vez mais nessa vida. O tempo que não tava no corre, eu fazia boxe e sempre cuidando do meu corpo.

Inclusive, sempre fui apaixonada por boxe. Desde quando fiz 16 anos, prático boxe.

Nunca tinha falado com o dono do morro. O famoso Alemão era difícil de ver. Mas quando eu vi ele pela primeira vez... fiquei maluca. O filha da puta era um gostoso por completo, deixa qualquer mulher louca. E por sorte, a gente começou a se envolver.

Bom, faz uns três meses que saí da casa onde morava com a Penélope e fui morar com o Alemão, porque ele vivia no meu pé, querendo que eu ficasse mais perto. Mas olha, se arrependimento matasse, eu já teria morrido. A gente briga pra caralho, mas tem dia que tá de boa. Vai entender.

Atualmente virei gerente da boca, e a menina que eu cuidava, a Liz, voltou pro morro uns tempinho atrás. Tenho um apego grande por ela, ainda vejo ela como criança, mesmo sabendo que já cresceu faz tempo.

Eu sei que errei pra caramba, entrei em um caminho totalmente sem volta. Mas fazer o quê? Agora é seguir em frente.

___
🥊

Os Envolvidos no Tráfico.Onde histórias criam vida. Descubra agora