You go away

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Vá em frente e seja livre, sim
Talvez você esteja muito perto para ver
Eu posso sentir seu corpo se mover
Não significa muito para mim
Eu não posso continuar dizendo
a mesma coisa
Apenas você não percebe?
Nós temos tudo
Meu bem, mesmo que você saiba que
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Everytime you go away - Paul Young

[•••]

Sylus segurava o papel dado pela enfermeira, era o local de trabalho fixo da guia que conheceu antes.
Um número, uma rua, um nome e um telefone. Eram as únicas coisas que ele tinha fora da ficha técnica dela como parte da organização contrária a própria.
A fachada era simples, um café com paredes brancas e flores ao redor, uma porta de empurrar em uma esquina de praça com trânsito tranquilo. A mão empurrou a porta e se manteve em pé, ali, por uns minutos.
O interior era todo cor de rosa pastel, desde as paredes até o uniforme usado pelos atendentes.

— Vai passar?
A voz da criança que estava atrás dele o fez sair do caminho e se arrastar até uma mesa.

— Mas que por…
— O senhor já foi atendido? — Uma garota com tranças presas em um rabo de cavalo e pele oliva o olhou com sorriso doce, ela esperou pacientemente como se não se importasse, contando que pudesse observar o rosto do homem bonito.
— Ah, bom, eu queria falar com a Penélope… E um café.
— Qual vai ser a arte do seu café? É feito pela gerente e são incríveis! — Ela apontou a caneta rosa para trás, para o balcão onde estava a figura que veio buscar, entre clientes do sexo masculino e feminino que se apoiavam na borda como se quisessem sua atenção. Sylus sentiu o olhar da garota encontrar o seu e o olhar hostil o encontrou. Ele mordeu a boca, evitando uma série de palavrões e suspirou fundo.
— Um corvo.
Foi o que pensou.

[•••]

A xícara decorada em latte art foi posta na frente de seu rosto, o tirando da inércia de um rosto entediado, trajando preto até o pescoço encostado em sua própria mão em contraste com o cenário rosa e feliz, era como a imagem das duas casas, lado a lado, uma toda preta e uma colorida.

— Certo sr. Líder. O que tanto quer para me seguir até aqui?
— Guia?

Penélope jogou seus longos cabelos para trás, levando a unha longa, agora em uma cor próxima da lilás e puxou sua gola, onde o colar esper estava preso, uma luz verde brilhante estava ali. Era como um semáforo: verde era tranquilo, amarelo atenção e vermelho a ponto de explodir. Era assim que Penélope seguia as regras de como e quando guiar.
Bufando uma lufada de ar, ela segurou a mão que estava sobre a mesa e emitiu ondas de sua orientação. Não por muito tempo, apenas questão de minutos.

— Pronto. Aliás, como você me achou?
— Sua superior me disse. Mas, eu iria descobrir de qualquer forma. Não trabalho certamente dentro da lei, sabe? E ainda assim, tenho a melhor base de espers e guias fora da cidade, como pode ver.
— Sim… E ainda assim veio rastejando feito cobra até mim, interesse seu ponto. Tome e suma, você chama muito atenção. Não se destaque mais do que precisa.

Quando escutou o barulho da cadeira se arrastar, Sylus que estava pensando em como responder, pareceu desesperado, como um filhote perdido que foi deixado em uma creche.

— Espera. Isso foi suficiente? Digo, não preciso de algo mais…
— Não, — Ela o cortou sem tempo para pensar ou reformular a frase que, como guia de alta classe, ela sabia exatamente o que falaria depois de experimentarem uma ressonância consigo. Ela já escutou esse discurso inúmeras vezes e por isso rompia com o esper antes mesmo de ter o perigo de criar um imprinting. — primeiro é, você não precisa de guia além. Uma dor de cabeça não vai te matar, tome um analgésico. Segundo é não vamos transar, Sylus. Uma orientação só vai acontecer quando e como eu quiser. Por tanto, aguarde até o aparelho apitar laranja ou vermelho.
— Por que?

Sua voz fraca e carrancuda não fez parecer menos que uma criança que não ganhava o presente que a mãe prometeu pegar “na volta”. Ela não conseguiu deixar de rir enquanto cruzava os braços frente ao corpo.

— Espers costumam viciar em orientação. E uma medida para não acontecerem acidentes é o esper obedecer. Sabe quão perigoso pode ser para um guia estar submetido a um esper viciado?
— Eu não faria isso, sou criminoso em certas formas, nunca faria algo sem permissão!
— Entenda seu lugar, Sylus. Você não deixa de ser homem e esper. Você ainda tem que entender o nível de perigo que oferece, fora seu poder ser extremamente raro e difícil de lidar quando descontrolado. Como você vivia sem mim?
— Eu realmente me pergunto. Talvez esperando a morte. Não costumava usar tanto poder e ter guias com compatibilidade baixa e uso de suplementos.
— Certo, se você teve tudo, se não for me ajudar, não me atrapalhe e espere no complexo.
— Ajudar? Pra que quer minha ajuda?

Um sorriso inundou os lábios vermelhos como se o mordesse e mastigasse. Porra, ele estava hipnotizando, agora entendia o quão fácil era se viciar, mas ele tinha dúvidas se era realmente a respeito de guia esse sentimento.

[•••]

— Sério? Mesmo?
— Você está  uma graça. Sorria, você é bonito e trará dinheiro para o meu bolso. Pague sua orientação.

Penélope amarrou o nó do avental rosa com um pequeno bicho fofo em seu estômago. Era rosa como os demais e tinha um tamanho maior para comportar o corpo robusto. Penélope até tentou fazê-lo usar uma tiara, como uma maid, e foi recusada categoricamente com xingamentos, ela sorriu e não insistiu embora a tiara estivesse guardada em seu bolso.
Único objetivo era distraí-lo a ponto dele desfocar da energia da ressonância e ter a guia em seu campo de visão, liberando assim, a ansiedade após ser guiado, um efeito colateral de espers com rank alto possuíam.
Ele só precisava anotar pedidos e, com o tempo, ele passou a colocar cada um nas respectivas mesas por vontade própria. Algumas mães estavam analisando o corpo grande que tinha as mangas arregaçadas para os antebraços, suspirando.
Penélope observava enquanto fazia os pedidos na máquina e tinham garotas que, assim como os clientes, de quaisquer gênero, babavam na visão de um homem desses ser usado como combustível visual para quem estava cansado ou estressado. Ela riu, afinal, ela poderia entender bem o motivo de fazerem isso quando ela mesma sorria alegre pela empolgação no rosto infantil do platinado, a mesma usava-o da mesma maneira, não que fosse admitir algo em voz alta.

Algumas senhoras idosas sentavam e conversavam com Sylus de forma carinhosa, como quem trata um neto que veio de longe para visitar. Elas lhe davam doces, gorjetas e tapinhas nas costas da mão.

Ao fim do dia, todos estavam tirando o avental enquanto Penélope fechava o caixa.
O dinheiro extra fora colocado na caixinha de doação ao lado da caixa registradora, dando um tapinha para que as cédulas não ficassem para fora.

— Estou pagando pela orientação, senhorita.

— Ora ora, bom trabalho, garotão. Você fez muito bem, um bom garoto, bom garoto!

Ela definitivamente o estava tratando como um cachorro, coçando seu queixo e dando elogios baratos. Sua mão deu leves tapinhas na nádega masculina que pulou, não esperando o contato.
Penélope já estava distante e por isso, não percebeu quando o rosto do rapaz tomou uma coloração igual a de suas orelhas, um vermelho suave que era visível com uma observada mais ligeira, mas quando ele se virou, deixando o avental no lugar originário, se encontrava normal, como se nada tivesse acontecido.
Seguiu para fora e ajudou a puxar a porta de metal sem esforço e trancando o dia como realizado com sucesso.

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⏰ Última atualização: Oct 21 ⏰

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