O Refúgio Proibido

I

POV. AMBER

Cresci; E é nisso que a família não interveio. Cresci como os gatos e as magnólias, muito mais inquieta que uma magnólia, e muito menos apegada que um gato. E agradeço por isso, pois se eu deixasse de ser uma mulherzinha e vivesse como uma magnólia, ficaria raivosa e rabugenta se não soubessem me regar corretamente e encharcassem minhas raízes; e se fosse um gato odiaria ser apática ao ponto de dormir por um dia todo sabendo que perderia o café da manhã, o chá da tarde em Londres, o pôr do sol no fim do dia, e o arco-íris que passa pela janela de vidro nos domingos de sol. Sem contar que os gatos que vivem em Londres são os seres mais azarados, é impossível tirar um cochilo sereno por mais de uma hora sem que aquele grande monumento turístico que marca as horas cujo nome é conhecido os perturba ao longo do dia, desse modo, eu odiaria ser uma gata preguiçosa e apática.

- Não é meu bem? - digo isso enquanto faço um carinho na cabeça da minha gata, esperando que algum dia ela responda todas as perguntas que faço com voz de criança. Enquanto isso não acontece ela é autentica o suficiente para me olhar de canto de olho se lamentando o sono que perdeu antes do relógio bater mais uma vez. Se gatos pudessem falar, tenho certeza que ela me mandaria procurar um garfo sem dentes.

Subitamente escuto uma batida em minha porta. Chego a estranhar pois o carteiro chega sempre durante a manhã, e agora faltam pouco mais de algumas horas pro sol se pôr. Não é final do mês para cobranças de luz, ou água. E honestamente, se fosse alguém que já me conhece, e conhece minha casa também, saberia que tem uma campainha atrás da planta na varanda. Depois dessa rápida análise que deve ter demorado mais de um minuto, penso que o indivíduo que estava na porta pode ter tomado outro rumo e desaparecido, então me apresso e abro a porta. Deveria ter feito o sinal da cruz antes, e se for um bandido? Deus me proteja.

- Aqui é a casa de Amber Lovelace?

Deus estava ao meu favor, o homem que, ainda estava na porta para minha surpresa, não tinha feição e nem modo de dar a entender que era um bandido. Ele era alto, sim, cabelos longos e castanhos penteados para trás, usava um suéter azul escuro amarrotado e calças jeans que caíam muito bem nele. Em uma mão ele tinha um papel parecido com um envelope, mas era bem antigo devido ao estado que estavam os cantos dele, e na outra uma mala de rodinhas. Dali em diante comecei a ficar realmente confusa, nunca havia sequer visto esse homem em minha vida e em um dia em meados de janeiro ele aparece em minha casa sabendo meu nome.

- Sim, pois não? Quem seria o senhor, receio que nunca nos encontramos antes. - falei calmamente.

- Sou Josh Beaufort, por suposto que não nos conhecemos mesmo, a senhorita mora aqui? Tenho alguns assuntos que são do seu interesse sobre essa casa.

- Sim, o senhor gostaria de entrar se o assunto é muito longo? - Fiz a boa samaritana, estava frio lá fora, o vento não era tão agradável e carregava algumas partículas de neve que em contato com a pele derretiam e molhavam. Definitivamente nada agradável para quem parecia estar chegando de viagem. 

- Seria ótimo, não quero tomar muito do seu tempo, mas tenho certeza que seria indispensável o seu conhecimento sobre o que está acontecendo. - com isso comecei a ficar apreensiva, não havia feito nada de errado nesses últimos meses ou dias que pudessem me encrencar com a justiça ou sei lá pra quem esse homem trabalha.

- Fique a vontade, por gentileza me dê seu casaco que eu guardo no hall. - ele me entrega e agradece sutilmente - O senhor parece estar voltando ou chegando de viagem pela mala que carrega, estou certa? 

- Decididamente, senhorita. Venho da Austrália, estava passando as festividades de final de ano com minha família e só consegui um voo de volta para Londres ontem.