O início

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Há 8 anos atrás...

Tudo começa com um simples copo se quebrando ou um erro bobo, até se transformar na maior discussão entre pais e filhos que pode se pensar. Brigas familiares eram frequentes na propriedade dos Karven. Um pai constantemente estressado, uma mãe aparentemente desprovida de emoções e um garotinho que implora por atenção. Essa era a vida da família.
-Você não entende, garoto idiota? Não entende o quanto é inútil aqui? O quão pesado é ter que aguentar carregar você como fardo para a vida toda? É CLARO QUE VOCÊ NÃO ENTENDE, VOCÊ NUNCA ENTENDE NADA.- Dizia o pai para seu filho de 5 anos. Parece estupidamente ridículo você estar discutindo com uma criança de cinco anos. Stefan é estúpido.
-Me desculpe, papai! Eu prometo fazer melhor da próxima vez, prometo ser um filho melhor.- Disse o garotinho com os olhos mareados.
-Promete mesmo? VOCÊ SEMPRE VAI PROMETER, E SEMPRE VAI ESTRAGAR ALGUMA COISA, GAROTO. VOCÊ É UM IMÃ DE DESASTRES. Saía dessa casa.
-Mas papai, eu não tenho para onde- O garoto é cortado no meio de sua fala por seu pai.
-NÃO ME IMPORTA, SAÍA, AGORA!
-Saía de casa, criança. Volte ao por do Sol, Yuk.- Dizia a mãe de Yuk, olhando com um olhar frio e penetrante para Stefan.
Yuk saiu correndo pela porta da frente, se segurando para não derramar lágrimas na frente de seus pais. Bateu a porta e correu para qualquer direção, longe de casas e pessoas. O garotinho, assustado, chorava em quanto corria, percebia as lágrimas escorrendo pelo seu rosto rapidamente, e as enxugava na mesma velocidade que escorriam.
-Não, não posso chorar, não posso. Tenho que dar orgulho pro papai e para a mamãe.- Disse o pequeno Yuk, enxugando seus olhos com a camisa, ainda correndo. O menino diminuiu a velocidade, olhava para trás, e percebia que correu demais, devia estar a 40 minutos de casa, e só sabia como voltar porque correu em linha reta. Yuk se senta debaixo de uma árvore, no meio da imensidão do nada. O garoto via o horizonte limpo, observava o Sol "tocando" o chão e o céu mudando de cor, conseguiu sorrir. Yuk olha ao seu redor, e vê outra criança, provavelmente da idade dele, com cabelos escuros e olhos castanhos, e um curativo no canto da testa, como se tivesse caído e se machucado. O garoto se aproxima lentamente da criança.
-Ei, está perdido?- Disse Yuk, com a voz mais doce que qualquer um poderia escutar.
-Ah! Você me assustou!- Disse o garotinho de olhos castanhos. As crianças riram.
-Desculpe! Você está bem? O que é isso na sua cabeça?
-Ah, eu caí, caí da escada da escola.- Yuk olhou para o garoto com uma feição estranha, como se não soubesse o que aquilo significava, e realmente não sabia. Seus pais nunca o colocaram na escola, ele aprendia sozinho, sem amigos ou alguém para ensinar.
-"Escola", O que é isso?- O garoto olhou para Yuk, surpreso.
-Você não sabe o que é uma escola? De onde você veio?- Yuk parou e pensou um pouco sobre a pergunta de seu novo amigo, e percebeu que não sabia responder, não sabia responder de onde vinha porque nunca saiu de casa. Não conhecia nada de sua cidade, muito menos do mundo.
-Eu não sei, não sei de nada.
-Eles te trancaram no porão?- Bom, seja lá quem o garotinho quis se referir com "eles", Yuk não era trancado no porão, mas sim preso dentro de sua própria casa, apenas com a luz do sol entrando pela sua janela nas manhãs.
-Não, mas me trancam em casa.- Respondeu Yuk. Os garotos ficaram em silêncio por um tempo.
-Meu nome é Jake, e o seu?
-O meu é Yuk.
-Yuk... que nome legal! Parece nome de espião! - Yuk sorriu. Jake estava realmente se tornando seu amigo, era a primeira criança que ele conversava desde seu nascimento, e era estranho, para ele, mas também achava incrível.
-O seu também é muito legal, Jake. Você tem nome de super-herói com identidade secreta!- Jake riu.
-Vamos brincar de duelo!- Exclamou Jake. Yuk era muito bom em duelos, sua agilidade era de invejar qualquer adulto. Yuk já havia duelado antes, duas vezes, uma com um manequim e a outra com Stefan, quando foi obrigado a lutar com seu próprio pai. Ele não venceu, mas conseguiu cansar seu pai por um ótimo tempo, desviando e acertando alguns golpes com força. Os garotos pegaram dois gravetos de tamanhos semelhantes e começaram a lutar. Jake tentou acertar um "golpe" com o graveto na barriga de Yuk, mas Yuk desviou rapidamente. Yuk girava para desviar e fazia uma posição diferente com os pés para atacar, pé direito na frente, pé esquerdo pro lado, rodar, atacar, recuar, e esse padrão tornava a se repetir quando ele não inventava outros para atacar e recuar.
-Nossa, você é muito bom! Você parece um guerreiro do exército bruxo ou algo assim!- Yuk olhou para Jake, surpreso, por ter chamado ele de "guerreiro" e também por tê-lo chamado de "bruxo". Como assim bruxo? Existiam outras espécies de seres sobrenaturais no mundo? Seus pais eram lobisomens, e isso já era demais para o pequeno cérebro do garoto processar, agora descobre outros seres mágicos, e ele achava isso incrível.
-Guerreiro bruxo?- Questiona Yuk
-Sim! Toda a minha família e amigos são bruxos! Meu pai era um guerreiro quando mais novo. Ele era demais!- Contou Jake. Ser bruxo parecia de fato muito mais interessante do que ser um cara com audição aguçada que se tranformava em lobo na Lua cheia para Yuk. Yuk percebia que nunca havia se transformado nas Luas cheias, nunca ganhara presas ou pelos, e também não era como seu pai (agradecia por isso). Sempre notou algo de errado em si mesmo, como se não pertencesse ao lugar que nasceu.
-Puxa, como eu queria ser um bruxo!- Disse Yuk. Jake o encarou de forma estranha.
-O que você é?- Pergunta ao garoto, em tom curioso.
-Meus pais são lobisomens, e eu... Não sei bem o que sou.- Falou Yuk, aparentando decepção. -Como não sabe o que é? Você não se tranforma? Não sente dor?- Sentir dor. Essa frase assustou Yuk, não sabia do que Jake estava falando, e definitivamente não queria sentir dor, seja lá como.
-Nunca me transformei, mas meus pais são lobisomens, então devo ser um, certo?
-Não, acho que não. Você é legal demais para ser um lobisomen.- Falou Jake. Yuk riu. Isso explicaria as ações de seu pai. Yuk não sabia, mas via isso todos os dias. Não é da natureza dos lobisomens a bondade, já que a pessoa que deu origem a sua linhagem também não foi muito "bondosa".
-Não sei o que você é, mas sei que é meu amigo agora.- Disse Jake, animado. Pobres crianças, mal sabiam que não se veriam de novo tão cedo.
O sol estava se pondo, e Yuk tinha de voltar para casa rápido, assim como sua mãe mandou. Yuk se despediu de Jake com tristeza e não olhou mais para trás.

Yuk Karven, O Herdeiro do Poder AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora