A vingança materna

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O pequeno Yuk havia voltado para sua prisão perpétua. Nada mudou, quadros, portas, sem vidros pelo chão, nada, o que era estranho quando o assunto era deixar seu pai e sua mãe sozinhos por muito tempo, sem a presença de suas empregadas. Tudo aparentava estar bem, exceto pelo sangue nas paredes. Pequenas e enormes marcas de sangue, gotas pelo chão junto a um leve toque de desespero. Yuk não sabia se emoções tinham vibrações ou algo do tipo, mas essa ele definitivamente era capaz de sentir sua presença desde seu nascimento. Yuk sentia seu coração bater mais forte em seu peito, sentia cada parte de seu corpo trêmula, e seu sangue da cabeça descia frio até os pés. Pobre garotinho, apenas cinco anos em suas costas e tinha que se preocupar com sua segurança e com a de seus pais.
Yuk subiu escada a cima com destreza, escondendo todo o medo que estava sentindo. Prestava atenção em cada barulho, em cada eco que era emitido na casa. O menino capitou o barulho de goteira, não seria preocupante se estivesse em uma situação menos tensa, mas dada as circunstâncias, era momento de se apavorar. Apesar do medo, incerteza e desconfiança, o pequeno Yuk Karven seguia vasculhando atentamente o andar de cima de sua residência, ainda com os sentindos aguçados. Resolve abrir a porta de seu quarto, não vê nada além da decoração habitual, sua mesa, sua janela com uma visita nublada, uma cama bem arrumada com lençóis cinzas e travesseiro branco, com almofadas da mesma paleta sem graça de cores para um quarto de criança, exceto por uma, uma almofada de seu herói da Marvel favorito, Homem-Aranha. Sua mãe comprou aquela almofada de presente no seu quinto aniversário, com um bilhete que dizia:

Não permita que seu pai entre em seu quarto, é nosso segredo.

Stefan acreditava que toda criança de seu reino era apenas um homem menor, que não deveria viver uma infância comum, deveria ser treinado brutalmente desde cedo para assumir um lugar na Alcatéia, por tanto, nada de heróis, nada de jogos ou diversão, apenas treino, luta e resistência. Yuk assistia alguns filmes escondido de seu pai, era muito bom em guardar informações. Yuk conseguiu manter o segredo por muito tempo, já se passara 7 meses desde seu aniversário e até hoje, Stefan nunca descobrira. Yuk não ao certo o que Scarlet sentia por ele, sua mãe não demonstrava afeto, mas demonstrava preocupação dos jeitos mais estranhos possíveis.
Yuk sai de seu quarto e continua adentrando outros cômodos da casa discretamente. O quarto de seus pais era a última porta que faltava. O garoto se aproximou lentamente do cômodo e colocou o ouvido direito contra a porta, esperando ouvir alguma coisa. Yuk escuta novamente o barulho de goteira, mas dessa vez, mais intenso e mais rápido. O menino já adivinhara o que causava aquele barulho. Não era uma goteira de água, era um goteira de sangue, e provavelmente humano. Ele afasta lentamente a cabeça da porta e
pressiona a maçaneta. Pensando em recuar, com o cérebro incapacitado de processar tudo com muita clareza, o garoto se dá alguns comandos simples:
-Agora você vai respirar fundo, Yuk. - Ele obedece o primeiro comando.
-Agora, você vai mover a maçaneta para baixo, Yuk. - Tem uma certa dificuldade em obedecer esse comando, mas o executa.
-Agora, você vai abrir a porta, Yuk. - O garotinho estava imóvel, com a maçaneta pressionada para baixo e a porta fechada. O barulho havia aumentado. Sentia que seu coração sairia pela boca na próxima vez que respirasse fundo demais, mas por sorte, não aconteceu.
-Você consegue Yuk, vai, abra a porta. - Disse o garoto, se auto-incentivando.
Até que em fim, Yuk consegue obedecer o próprio comando, e fica completamente em choque com a imagem que estava vendo. Obedecer seu comando foi a pior coisa que já fez em toda sua vida, não conseguia mais respirar em um padrão uniforme, não conseguia acreditar no que seus brilhantes olhos azuis estavam vendo. Ele se aproximou da cama de seus pais, encharcada por um líquido vermelho de cheiro familiar, sangue. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando uma gota de sangue pingou da cabeceira da cama de seus pais diretamente em seu cabelo. Seu cabelo era tão escuro que talvez ninguém percebesse que era sangue se observasse de longe, mas ele com certeza sabia o que era aquilo. O sangue estava quente, ou seja, o crime havia sido cometido a pouco tempo. Yuk percebeu um volume por baixo dos lençóis cobertos de sangue. Não queria acreditar que poderia haver uma pessoa decapitada ali em baixo. Sentiu seu estômago revirar. O garoto estendeu sua mão sobre a coberta, querendo não obedecer o próximo comando de seu cérebro, mas era inevitável descobrir o que havia causado aquele sangue. Ele engole em seco e puxa o cobertor com rapidez. O garoto fechou seus olhos com força em seguida, desejando nunca ter visto aquilo. Era Stefan, com a garganta cortada por dentes. Não estava morto, mas com certeza estaria em breve se não fosse socorrido a tempo. No corpo de Stefan haviam outras marcas, marcas de garras e de mordidas não profundas por seu corpo, marcas de sujeira que Yuk não sabia exatamente da onde vieram, a não ser que Scarlet tenha arrastado Stefan escada a baixo e obrigado ele a subir novamente. Yuk sentiu vontade de vomitar, mas resiste ao impulso. Sua mãe havia quase matado seu pai por que brigara com ele, o que ela seria capaz de fazer com o próprio quando crescesse?
Nunca sentira tanto medo na vida quanto agora, que estava vendo seu pai sangrando uma quantidade anormal, que mataria qualquer ser humano comum, mas por sorte, ele era um lobisomem e se recuperaria mais cedo ou mais tarde. A mordida de outros lobisomens tinha uma cura demorada, por volta de 1 dia, se fosse algum tipo de ferida superficial, mas naquele caso, para se recuperar totalmente demoraria provavelmente 1 semana por ser um Alpha, se não morresse antes disso. O pai de Yuk estava na sua frente, desacordado e completamente incapaz de demonstrar qualquer tipo de autoridade, era como um novo beta na Alcatéia. Era estranho ver Stefan desse jeito. Apesar de Yuk não gostar nada de seu pai, o temia e demonstrava respeito por ele, e não pensou duas vezes antes de ajudá-lo. Tinha experiência com curativos, afinal, foi treinado para isso um dia qualquer lá pelos seus quatro anos. Yuk correu até a gaveta mais alta da cômoda de seus pais, se apoiou levemente em outra gaveta para alcançar a gaveta certa com os equipamentos. Deu um salto para trás e subiu na cama. O ferimento era pior que o esperado, um corte profundo de aproximadamente dez centímetros de comprimento e com uma aparência horrível. Percebia a respiração de seu pai instável, e também que suava frio, estava ardendo em febre. Yuk desinfeta o ferimento com soro fisiológico e algodão com agilidade, passando com cuidado sobre a pele de seu pai. O garotinho sabia que aquilo provavelmente estava doendo, pois seu pai contraiu o lábio em um tipo de reflexo, mesmo estando desacordado.
-Desculpe papai. - Disse o garoto. Pegou uma gase de tamanho equivalente ao machucado e presionou levemente, com mais cuidado dessa vez. Pegou também um esparadrapo grosso e o cortou com a tesoura, em seguida, colocou sobre a gase. Fez o mesmo processo de desinfetar com as outras feridas, mas colocando curativos ao invés de gases e esparadrapos, já que são feridas menores. Ao finalizar o procedimento com as feridas, Yuk pegou um pano e molhou com água gelada, escorreu o pano e colocou na testa de Stefan.
-Isso deve fazer você se sentir melhor, papai.- Falou o pequeno Yuk, suavemente. Quando finalizou o processo, o menino parou para raciocinar o quão estranho era ter um kit primeiros socorros naquela circunstância. Stefan era orgulhoso o suficiente para não aceitar ajuda de ninguém, e sua mãe sempre encontrava um jeito de se virar sozinha, o que aquilo estava fazendo ali?
Yuk não sabia responder a própria pergunta com clareza, mas era inteligente o suficiente para raciocinar que alguém havia armado aquilo.

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⏰ Última atualização: Oct 21 ⏰

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Yuk Karven, O Herdeiro do Poder AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora