Cap 5- Se talvez...

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Com toda correria da semana, o fim de semana já havia chegado. Caitlyn levantou-se mais tarde que o abitual. Como sempre, estava sozinha em casa, já que sua mãe estava fora a trabalho, algo muito comum para a Kiramman.

Tomou seu café da manhã, vestiu-se e logo saiu de casa. Pois hoje seria o dia que se encontraria com Mel, uma de suas melhores amigas.

-E depois de tudo isso, ela não se tocou?! -Mel disse indignada enquanto levantava o zíper que ficava na lateral do vestido.

-Pois é! Vou esperar até três dias antes do baile, se ela não me convidar, eu vou com outra pessoa ou só.

-Ai amiga, você nunca foi ao baile sozinha, desta vez seria um falatório.

-Eu sei, mas não me importo.

-Por que você mesma não convida ela? -Agora Mel se admirava no espelho, o vestido amarelo dourado tomara-que-caia servia perfeitamente bem, amarelo era definitivamente sua cor.

-Não. Eu nunca convidei ninguém antes, e não vai ser agora que vou começar.

-Pra tudo existe uma primeira vez, Cait. Você não pode ficar esperando por ela, e se ela também estiver esperando por você? -Disse em um tom compreensível.

-Será que está?

-Não sei, me diga você.

-Hum! Pois que espere sentada.

-Cait! -Mel não podia negar que sentiu a rudidez na frase de sua amiga.

-Não foi o que eu quis dizer! Ela merece que eu faça isso... Mas é que seria tão clichê se ela me pedisse... -Respondeu dando ênfase no "Ela".

Acontece que os garotos que convidavam Cait para o baile sempre eram muito chatos e aproveitadores. Eles só queriam sua companhia se ela viesse acompanhada de outra coisa no fim do baile. Nunca rolava nada, mas todos os anos ela era convidada por muitos.

-Amiga, você não tá num conto de fadas. Talvez ela só não queira nem ir, talvez essa tal química que rola entre vocês seja coisa da sua cabeça.

-Você pode estar certa.

Mel deu um sorriso doce.

-Acha que Jayce vai gostar?

-Quem? -Cait não podia esconder o rosto de surpresa.

-Jayce, nosso professor, ele te dá aula desde o ensino médio.

-Merda! Você tá saindo com o professor?!

-Hmm.. Digamos que sim. Não importa, você quer dar pra uma mulher que parece que saiu pouco tempo da cadeia, porque não posso dar pro nosso professor?

Cait gruniu em reprovação. Não por sua amiga estar saindo com seu professor, afinal, ambos já eram bem adultos. O incômodo era por saber que Mel tinha razão. Ela queria dar para a mulher que parecia ter saído de uma prisão.

-Ele vai gostar. -Aceitou a derrota.

Após fazerem compras a tarde inteira e ainda se darem ao luxo de um dia de beleza, cada uma seguiu caminho para suas casas.

O silêncio na residência Kiramman era familiar. Sozinha, em uma grande casa, os empregados estavam de folga ou em seus afazeres distantes dalí, era um bom momento para barulho.

Ligou a Caixa de som no último volume, jogou todas as roupas para fora do guarda roupas e começou a organizar. Já estavam todas organizadas, mas não havia mais nada que pudesse fazer.

A noite caiu e junto com ela, Violet ainda parecia melancólica.

-Quer me contar o que aconteceu? -Seu pai sentou-se ao lado dela numa cadeira de balaço na varanda, esticando para a mesma uma garrafa de cerveja.

-Apenas responsabilidades da vida adulta, nada de mais. -Pegou a garrafa já aberta e deu um gole na bebida, suspirando profundamente.

-Eu sou seu pai, Violet. Eu te conheço tanto quanto conheço Jinx, e eu sei que tem algo realmente te incomodando. Estou aqui a qualquer momento que precisar, eu sempre vou estar.

Um silêncio confortável se instalou alí. Pai e filha tomando uma cerveja na varanda de casa e observando o céu.

-Eu sou mulher.

-Sim, disso eu sempre soube.

-Eu gosto de outras mulheres.

-Isso também não é novidade. -Ambos riram fraco.

-Não, pai. Eu gosto de uma mulher, gosto dela.

Os olhos de Vander caíram sobre ela, que observava o céu azul escuro com um sorriso tristonho.

-Minha filha está apaixonada?

-Paixão é uma palavra muito forte. Nos conhecemos a pouco tempo.

-Tempo não é nada quando existe química.

O semblante de chateação ainda estava no rosto da garota, não havia diminuído nem um pouco sequer.

-Tem mais alguma coisa ou estou ficando louco?

-Eu não sei. As vezes me sinto mal por gostar de garotas. Não posso convidar ela pro baile, ela foi indicada a rainha, não pode ter duas rainhas.

-E por que não?

-Porque é assim que funciona.

-Ela não quer que você a convide?

-Não sei, ela parecia mal-humorada hoje, então nem conversamos muito. Ela deve estar naqueles dias.

-Perdeu a chance de mimar ela e fazer com que ela queira ir ao baile com você.
Querida, não há problemas ter duas rainhas. Se ela também gosta de você, ela irá contigo sem nem pensar.

-É só que... -A voz de Violet parecia falha e arrastada -Às vezes eu penso que seria mais fácil se... -O que Vander mais temia, aconteceu. Sua filha estava enfrentando a dor de uma culpa desnecessária em seu coração.

O sentimento de que tudo seria mais fácil se ela fosse um garoto, pobre menina, pobre Violet.

Logo, a de cabelos rosas desabou a chorar. Sentimento jamais desejado para alguém.

Num impulso rápido, Vander pulou de sua cadeira e foi até Vi, se abaixando ao lado dela, que estava sentada na calçada, e a abraçou.

-Se eu fosse um garoto, não teria problema chamar ela pra ser meu par! -As lágrimas já eram incontroláveis. Elas deixavam os olhos da garota como uma cascata. -Ou se fossemos só amigas... Se eu não fosse lésbica, talvez...-Vander sentia seu coração se partir a cada fala de sua filha.

Logo ele se posicionou em sua frente, retirando os braços da garota que se encontravam em seus olhos. -Ouça Violet, não há nada de errado com você. Não existe "Se" ou "talvez". Vi -Ele olhou bem fundo em seus olhos -Você sempre será minha menininha perfeita, a perfeita do papai. -Ele a abraçou forte, e logo foi correspondido.

Ver aquela cena, de Vi tão vulnerável,
era de partir o coração de Jinx. A adolescente que estava parada em frente à porta se sentia inútil por não poder fazer nada sobre os sentimentos ruins de sua irmã mais velha.

Ela estava leve. Compartilhar sua dor com o pai era tudo o que precisava. Já estava pronta para se deitar, quando foi apagar a luz, viu uma figura de cabelos azuis e altura média parada na porta do quarto dela. Não pode deixar de sorrir com a cena de sua irmã mais nova de um jeito tímido com um olhar de cachorro pidão em sua frente.

-Você já está bem grandinha pra dormir comigo, não acha?

-Não! -Logo a pose de tímida se foi e ela se jogou na cama de Violet, tomando posse do cobertor dela.

Vi apenas sorriu, apagou a luz e se deitou ao lado da irmã, a abraçando. Ficou uma boa parte da noite refletindo sua conversa com Vander, e tomou uma decisão.

A Presidente EstudantilOnde histórias criam vida. Descubra agora