Anya: "A Magia do Chá"

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O meu pai comprou tudo o que precisava para um bom chá à maneira russa, até compota de frutas, lembrou-se de somar aos outros ingredientes.

Fui dormir cansada, mas com uma leveza tanto no corpo quanto na mente, por saber que estou bem empregada e que o meu pai está animado por mim. Como não amá-lo? Certamente  passarei por vergonha ao ter que falar sobre o samovar para os executivos. Mas o meu otets(pai) está tão contente; fazia tempo que não o via assim.

Ele guardava as dores e preocupações; não me contava, e quando o fazia era porque estava à beira do colapso. Aprendi com os anos que preciso ser paciente, minando-o de perguntas e comentários sobre tudo o que eu poderia achar que era o problema.

Acordei no dia seguinte com o aroma de pão fresquinho e chá. Era tudo o que precisava para alegrar um bom início de dia.

-Ficarei obesa com tanta coisa boa e gostosa que você está fazendo para mim de manhã. Sabe que não sou chata para comer e não precisa levantar de madrugada por minha causa.

-Faço porque te amo, minha malishka(pequenina). Se não fizer isso por você, para quem mais farei? Quero ser útil, pelo menos agora que estou proibido de trabalhar. - Os seus olhos estavam marejados; sinto por ele estar incapacitado de voltar ao emprego.

-Você sabe que é muito útil, principalmente para mim. E para nossos vizinhos que adoram escutá-lo contar sobre a nossa Rússia. E nem pense que está ocioso; era tempo de se aquietar um pouco; trabalhou muito desde que sou pequena. Deixe-me ser a trabalhadora dessa vez, está bem?

Ele me abraçou apertado, senti uma lágrima escorrer pelo meu pescoço. Meu otets sempre foi muito emotivo.

E lá estava eu, a caminho do trabalho, e o ônibus novamente generoso deixou-me mais cedo que o previsto para entrar mais uma vez como funcionária no edifício todo espelhado. Cumprimento com um sorriso gentil a todos que encontro. Vejo correr pelo saguão o Viktor, todo suado e sem folego; deve ter corrido uma maratona.

-Bom dia, secretária! Noto que se salvou do primeiro dia. - Sorri ao dizer de forma lisonjeira.

-Pois é; não vi nada de difícil. Ao contrário, foi muito agradável ontem. - Muitos olhares recaíram sobre mim; até me encolhi encabulada. 

-Você deve ser de outro mundo; todos sentem pavor daqueles três.

- Não gostei da maneira que os tratou – disse sem perceber que estava defendendo-os.

-Os senhores executivos não têm nada do que assustar; são apenas sérios, educados e reservados, ou seja, são introvertidos, principalmente porque estão em um país muito diferente do que estão acostumados.

-Hum…então encontramos aqui uma defensora deles? - Surge um rapaz ao fundo, olhando-me de forma sarcástica.

-Não, apenas sou justa e não gosto de rotular as pessoas de maneira hostil. - A minha sorte foi a chegada do elevador, podendo sair dessa discussão tola. Não gosto de ser o centro das atenções e percebi que, por ser a secretária do andar presidencial, os funcionários me encaravam como se fosse uma alienígena.

-Não ligue para ele, é amargo e, às vezes, um pouco bélico. Não chega a fazer mal a ninguém. - Viktor subiu no mesmo elevador e tentou me tranquilizar, mesmo eu estando calma e confiante que nada disse de errado.

-Estou bem, e acredito que estejam equivocados quanto aos senhores russos. Esquecem que são eles os seus patrões; não podemos morder a mão de quem nos alimenta.

-Você é de outro mundo mesmo! - Ele riu de mim, o que me deixou chateada, como pude demonstrar em meu semblante.

-Hei, não há o porque ficar brava; foi na verdade um elogio. Não há tantas pessoas boas hoje em dia. - A mão dele foi parar em meu braço, e eu imediatamente retirei-me do seu contato.

Aleksei: Amor & Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora