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Era uma tarde quente de verão, e o perfume suave das flores do jardim misturava-se com o aroma de chá fresco e doces finamente preparados. A jovem Leticia, filha do Duque de Alencourt, sentava-se ao lado de sua mãe, a Duquesa Éveline, com a coluna ereta, os dedos delicadamente pousados sobre o colo. Ao redor delas, no exuberante salão de vidro da residência da Marquesa de Villeroy, as damas nobres conversavam em voz baixa, trocando comentários sobre a última moda e as intrigas da corte. Havia um ar de leveza, como se todos tentassem disfarçar os problemas que se escondiam por trás das cortinas de luxo.

Leticia não se sentia à vontade. O sorriso que sua mãe exibia enquanto conversava com as outras senhoras parecia tenso, quase forçado. Sabia que, por trás daquele verniz de elegância, a realidade era muito mais amarga. As finanças da família estavam em ruínas, um segredo que a Duquesa mantinha desesperadamente oculto, tentando preservar o orgulho de sua linhagem. O Duque, seu pai, já não conseguia administrar as terras, e os dias de prosperidade pareciam distantes. A cada dia, mais dívidas eram acumuladas, e ainda assim sua mãe insistia em manter as aparências.

—Veja, Éveline! — disse a Baronesa de Montreau, com um sorriso radiante, enquanto exibia algo na palma da mão.

—Acabei de adquirir este espelho de mão, uma maravilha moderna, não acha?

O espelho era pequeno, mas lindamente ornamentado com prata polida e pedras preciosas incrustadas. Era uma das últimas novidades entre a nobreza, um símbolo de status e riqueza.

A Duquesa Éveline inclinou-se à frente, os olhos brilhando de desejo ao observar o objeto nas mãos da Baronesa.

—É realmente magnífico... Não é, Letícia? — disse, com a voz doce e quase infantil. Ela olhou para a filha com um brilho sonhador, um pedido silencioso, um desejo que não poderia ser realizado.

Letícia sentiu o sangue ferver. Conhecia aquele olhar – o mesmo que sua mãe lançava a joias e vestidos caros que não podiam mais comprar. Era como se sua mãe estivesse presa em uma ilusão, ignorando o abismo financeiro sobre o qual se equilibravam.

—Quanto custou, minha querida? — perguntou a Duquesa, sorrindo para a Baronesa, já imaginando-se com um espelho idêntico.

Letícia apertou os punhos. Não podia acreditar no que estava prestes a testemunhar.

—Éveline, querida, uma verdadeira barganha! — respondeu a Baronesa com um risinho afetado.

—Apenas algumas centenas de libras. Mas vale cada centavo.

As palavras ecoaram na mente de Letícia como um trovão. Centenas de libras. Algo que sua família simplesmente não podia mais se dar ao luxo de gastar.

—Eu preciso de um desses, Letícia. — sussurrou sua mãe, se voltando para ela com um olhar ansioso, quase infantil, que a fez perder toda a paciência.

—Poderíamos comprar um, não seria um problema, certo querida?

—Não! — A palavra escapou dos lábios de Letícia antes que pudesse se conter, sua voz alta o suficiente para fazer com que todas as cabeças se voltassem para elas.

O salão caiu em um silêncio pesado. Os olhos das damas fixaram-se na jovem, chocados com sua ousadia.

A Duquesa ficou boquiaberta, sem entender a explosão repentina da filha. —Letícia... — começou ela, mas Letícia já estava de pé, os olhos brilhando de raiva e frustração.

—Não, mãe! Não podemos comprar isso! Você ainda não entendeu? Estamos falidos!

O grito ecoou pelas paredes de vidro como um golpe, o impacto de suas palavras atingindo cada pessoa presente como uma onda de choque.

A Princesa Herdeira É Uma Cadela Onde histórias criam vida. Descubra agora