É serio isso, S/n???

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S/n pov.

A vida aos 17 anos não é fácil, mas eu já estou acostumada. Escola pública de manhã, os gritos da minha mãe e do meu padrasto à tarde, e meu irmão caçula de 7 anos sempre pedindo atenção. Ele é a única coisa boa em tudo isso. Eu me sinto presa, como se estivesse assistindo à minha própria vida passar sem poder fazer nada. Às vezes eu só queria... sumir.

Hoje, enquanto eu estava jogada no chão do quarto, como sempre, rolando a timeline do Twitter, uma coisa me fez parar: **"realidade desejada"**. Nunca tinha ouvido falar disso antes. Cliquei no tweet, meio por curiosidade, meio por tédio, e fiquei encarando o que as pessoas estavam dizendo. Elas falavam sobre "shifting", como se fosse possível criar a própria realidade e ir para lá. Como assim?

“Realidade Desejada? Isso existe mesmo?” sussurrei para mim mesma. As ideias pareciam tão absurdas, mas eu não conseguia desviar os olhos da tela. Imagine só, eu em outra vida, sem esses problemas...

Foi aí que mostrei o celular pro Matheus. Ele estava jogado no sofá, mexendo no celular, como sempre, provavelmente planejando algum novo conteúdo para seu canal no YouTube. Matheus é magro, com um cabelo castanho que ele vive ajeitando, sempre usando roupas descoladas que ele acredita que o farão famoso algum dia. Ele quer tanto essa vida de fama que até quando falamos de coisas sérias, ele tenta transformar tudo em piada.

“Olha isso aqui, Matheus. Já ouviu falar de realidade desejada?” perguntei, curiosa para saber o que ele pensava.

Ele olhou pro meu celular, fez uma careta, e depois começou a rir, bem do jeito exagerado dele. “S/n, você tá de brincadeira, né? ‘Realidade desejada’? Sério mesmo que você acredita nisso?” Ele se jogou de volta no sofá, rindo tanto que quase derrubou o celular. Eu sabia que Matheus sempre ria das coisas quando estava desconfortável ou nervoso. Ele é assim. Até hoje, não se assumiu como gay, mesmo eu sabendo que ele luta com isso todos os dias. Acho que ele tem medo de como o mundo reagiria, especialmente a família dele.

Eu revirei os olhos. “Você ri de tudo, Matheus. Mas e se for real? E se a gente pudesse... sei lá... escapar daqui, ir pra um lugar melhor?”

“Se fosse real, todo mundo já estaria vivendo a vida dos sonhos. Não existe isso de ‘escapar’. A vida é essa aqui e pronto,” ele disse, ainda rindo, mas eu percebia o toque de amargura na voz dele.

Do outro lado do quarto, Evelyn estava sentada na cama, as pernas cruzadas, totalmente concentrada em algo no celular. Ela é o tipo de pessoa que parece estar sempre tranquila, quase como se o mundo não pudesse atingi-la. Evelyn tem o cabelo castanho-claro preso em um rabo de cavalo solto, uma jaqueta jeans e uma atitude de quem não se importa com nada. Ela é minha amiga desde sempre, mas às vezes parece que nada é capaz de tirá-la da zona de conforto.

“Evelyn, o que você acha?” perguntei, sabendo que ela provavelmente nem tinha prestado atenção na conversa.

Ela nem tirou os olhos do celular. “Ah, S/n, sério que você tá dando bola pra essas coisas da internet? Não me importo com isso, não. Vai ver é só mais uma besteira que vai sumir daqui a algumas semanas.”

Suspirei, me sentindo meio sozinha na curiosidade. “Eu sei que parece loucura, mas… e se não for? E se a gente realmente puder fazer isso? Tipo, viver outra vida por um tempo?”

Evelyn deu de ombros, sem muito interesse. “Ah, sei lá. Eu tô de boa aqui. Se você quiser acreditar nisso, tudo bem.”

Matheus ainda riu mais um pouco, mas me olhou diferente dessa vez, como se algo tivesse despertado uma pequena dúvida. Ele balançou a cabeça, voltando a olhar pro celular. "Boa sorte com isso, S/n. Só não esquece de me mandar uma lembrancinha da sua nova vida quando você voltar."

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Entre realidades, um amor proibido. (You / Angelina Jolie)Onde histórias criam vida. Descubra agora