Capítulo 3.

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Nós vamos bombardear uns aos outros
Até que o velho Satanás esteja impressionado.
Matt Maltese - As The World Caves In

— 3. O Acampamento —

Lilo descansa no meu colo enquanto estou sentada na cama, ainda na tenda médica. Nos últimos três dias, Roberto me deixou confinada aqui para a minha recuperação. O médico havia dito que uma das causas da desidratação era o calor. Sendo assim, ele me deixaria nesta tenda, pois era a única que tinha resfriador e conseguia manter uma boa temperatura para eu não transpirar demais.

Não me aventurei muito fora da tenda. Estive lá fora apenas algumas vezes, só para fazer minhas necessidades e tomar um banho. Alguém trazia minhas refeições — Elisa ou Roberto — e, no restante do tempo, eu ficava deitada na cama com Lilo ao meu lado.

Roberto deixou uma grande garrafa de água com açúcar para eu esvaziar até o final do dia, todos os dias. Beber água com açúcar ajudaria a repor os níveis de glicose perdidos. Como não havia sal para fazer soro caseiro, o médico disse que eu teria que me contentar com isso.

Não é como se me importasse muito. Tenho água para beber, comida, e minha recuperação está indo bem. A falta do soro é algo trivial para mim.

Roberto entra na tenda e vem até mim.

— Como está se sentindo hoje?

— Estou bem.

— Algum sinal de fadiga ou tontura? — Nego com a cabeça. — Boca seca ou sede extrema?

— Apenas muita sede.

— Qual a coloração da sua urina?

— Amarela.

— Escura?

Nego com a cabeça.

— Isso é bom. Significa que seu corpo está lentamente voltando a ser reidratado. Possivelmente, a intoxicação com alimentos e água impróprios para consumo agravou seu quadro clínico. Por mais alguns dias, sua dieta ainda será à base de sopa e frutas com alto teor de água. Você pode sair da tenda e conhecer o resto do nosso acampamento, mas evite se esforçar.

— Obrigada, doutor.

Pego Lilo e saio da tenda. O acampamento parece ficar em um local afastado da cidade. A tenda em que estive fica um pouco mais distante das outras. Agora que olho para ela, vejo grandes cabos de energia percorrendo o chão e entrando por baixo dela. Um pouco mais à frente, vejo algumas pessoas sentadas em cadeiras, conversando.

Roberto se aproxima dessas pessoas e chama a atenção delas.

— Pessoal, essa aqui é Alice, a resgatada que Elisa e Felipe encontraram dias atrás. — A atenção dessas pessoas se volta para mim. Fico um pouco constrangida.

— E aí. — Coloco Lilo no chão. Não sei o que dizer, então me limito a um breve cumprimento.

— Como você está? — Elisa pergunta.

Ela gesticula para eu me sentar na cadeira vazia ao lado. Sento-me e olho para os meus pés. Essa situação é tão constrangedora que sinto vontade de desaparecer.

— Eu tô bem.

— Ah, isso é bom. Sabe, estive curiosa nos últimos dias. Você vem de algum outro abrigo ou tinha algum outro sobrevivente com você?

— Não. Estive sozinha por aí. A última vez que estive em um abrigo foi há dois anos, antes de ele ser atacado pelos mortos-vivos. — Omiti a parte em que matei todo mundo.

ECO DOS MORTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora