Conexão silênciosa- Nagireo

cap 1

O sol começava a se pôr lentamente sobre o horizonte, banhando o campus do colégio em uma suave luz dourada. Nagi Seishiro e Reo Mikage haviam terminado o treino mais cedo do que o habitual, e agora caminhavam em direção ao dormitório, aproveitando a tranquilidade do fim de tarde. A rotina de treinos, competições e pressões era intensa, mas momentos como esse, simples e silenciosos, eram os que Reo mais valorizava.

Reo olhou para o lado, observando Nagi enquanto caminhava, com as mãos nos bolsos e os olhos fixos no céu, como se estivesse em outro mundo. Nagi sempre parecia calmo, quase desligado do que acontecia ao seu redor, mas Reo sabia que por trás daquela fachada apática, havia alguém que prestava mais atenção do que parecia.

- Sei - Reo começou, quebrando o silêncio que se estendia entre eles -, o que você acha de fazermos algo diferente hoje à noite?

Nagi o encarou por alguns segundos, sem mudar sua expressão tranquila.

- Tipo o quê? - ele perguntou, o tom de voz preguiçoso, mas interessado.

Reo sorriu de leve. Ele sempre ficava feliz em ver qualquer sinal de curiosidade no olhar de Nagi, por menor que fosse.

- Eu estava pensando em pedir alguma coisa para comer e assistirmos a um filme. Só nós dois - sugeriu Reo, enquanto andava mais perto de Nagi, roçando os ombros.

Nagi piscou lentamente, como se estivesse processando a ideia. Ele não era do tipo que planejava ou se importava muito com o que faziam no tempo livre, contanto que não fosse algo que exigisse muito esforço. Mas, se era algo com Reo, ele não via problema.

- Pode ser - Nagi respondeu - Contanto que eu não tenha que escolher o filme.

Reo soltou uma risada suave.

- Não se preocupe, eu cuido disso - ele disse, satisfeito com a resposta simples de Nagi.

A relação deles sempre fora assim, marcada por uma simplicidade natural. Desde o momento em que se conheceram, Reo sentiu que Nagi era diferente, e isso o atraía de uma forma que ele não sabia explicar. A indiferença de Nagi para com quase tudo o fazia parecer inatingível, mas quando estavam sozinhos, Reo sentia que havia algo mais. Era como se ele pudesse ver camadas de Nagi que ninguém mais conseguia.

Chegando ao dormitório, os dois entraram no quarto que dividiam. Era espaçoso, arrumado por Reo e levemente bagunçado pelas coisas de Nagi, que nunca se preocupava em organizar suas coisas. Reo tirou o celular do bolso e começou a olhar opções de restaurantes para pedir comida, enquanto Nagi se jogava no sofá, pegando o controle da TV com uma mão e mexendo no celular com a outra.

- Você realmente não cansa de ser tão preguiçoso, não é? - Reo comentou, divertido, enquanto olhava para Nagi esparramado no sofá.

- Não - respondeu Nagi sem rodeios, sem tirar os olhos da tela. - Pra que se esforçar mais do que o necessário?

Reo balançou a cabeça, sorrindo, mas ao mesmo tempo sentindo uma onda de carinho por Nagi. Ele sabia que, apesar da preguiça e da indiferença aparente, Nagi fazia mais por ele do que por qualquer outra pessoa. Eles estavam juntos não porque Reo o forçava a ser diferente, mas porque, de alguma forma, Nagi tinha escolhido estar ao seu lado, mesmo à sua maneira.

- Ok, eu vou pedir pizza - Reo anunciou, guardando o celular. - E você vai assistir um filme comigo, sem dormir no meio dele.

Nagi levantou os olhos da TV, com uma expressão levemente intrigada.

- Não posso prometer isso -

- Você vai assistir - Reo insistiu, se aproximando e sentando-se ao lado de Nagi no sofá. - Eu não aceito menos do que sua atenção completa.

Nagi olhou para Reo por alguns segundos, como se estivesse considerando o pedido. E então, sem dizer nada, ele se inclinou para frente, pousando sua cabeça no colo de Reo e fechando os olhos.

- Se for assim, talvez eu consiga - Nagi murmurou, sua voz suave e baixa.

Reo sentiu seu coração acelerar com o gesto simples. Nagi não era do tipo que demonstrava afeto de forma óbvia, mas quando o fazia, eram momentos como esse - sutis, silenciosos, mas cheios de significado. Reo passou a mão pelos cabelos brancos de Nagi, fazendo um carinho leve, apreciando a tranquilidade daquele momento.

Eles ficaram assim por um tempo, sem pressa, apenas aproveitando a presença um do outro. Para Reo, esses eram os momentos que faziam todo o esforço valer a pena. Mesmo que Nagi fosse preguiçoso e desinteressado em quase tudo, ele sabia que o sentimento entre eles era real, algo que não precisava ser verbalizado o tempo todo. Estava ali, na forma como Nagi confiava nele, na forma como ele se deixava ser cuidado e, de certa forma, também cuidava de Reo.

- Sei - Reo chamou suavemente, ainda acariciando os cabelos dele. - Eu sei que você não gosta de muitas coisas, mas... sabe que eu estou feliz, não sabe?

Nagi abriu um olho, olhando para Reo de baixo para cima, e deu um pequeno sorriso, um daqueles sorrisos raros, mas genuínos.

- Eu sei. Eu também estou - ele respondeu, antes de fechar os olhos novamente.

E era só isso que Reo precisava ouvir.