EIGHTEEN ( Dezoito )

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 O som dos meus passos acelerados, era o único barulho a quebrar o assustador silêncio da rua,  não queria correr o risco de abrandar e ficar aterrorizada com os meus próprios pensamentos sombrios sobre o que poderia ou não estar atrás de mim. Provavelmente nada. Mas melhor mesmo é não procurar, para não encontrar. Lembro-me de ouvir esta frase algures por aí, na boca de alguém.

 - Ai! - guinchei com o susto do meu próprio telemóvel a tocar. - Mãe, olá. - atendi.

 - Parabéns Ana. Dezoito anos, meu deus como o tempo passa. Onde estás? Espero que a chegar, ate já. 

 Como um disparo, é assim que a minha mãe fala, apressadamente. Sem tempo de lhe puder dar uma resposta, ela mesma responde as suas perguntas. E, embora eu nunca lhe admita, é um traço da sua personalidade que eu acho bastante divertido. 

 Dezoito anos. Hoje entrei legalmente na vida adulta, e digo legalmente pois não é por fazer dezoito anos, que isso faz de mim uma pessoa preparada para um mundo em que deixam de olhar para mim como alguém dependente e passam a querer que um simples número me traga responsabilidades para as quais ainda não estou preparada. Talvez nunca ninguém esteja preparado para toda essa responsabilidade e expetativas criadas sobre nós, tenhamos dezoito, trinta, ou quarenta. Acredito que a pressão social me vá acompanhar a vida toda, vejo isso ao meu redor todos os dias, e quanto mais penso que não é assim que eu quero ser mais me aproximo de o ser, ainda que despropositadamente. A minha mãe por exemplo, a dona de casa perfeita, a secretária perfeita de um escritório de advogados ( deve ser daí que vem todos aqueles discursos politicamente corretos ), mãe a tempo inteiro, ou pelo menos no tempo que ela tem disponível para o ser, a esposa ideal e calada a todas as mentiras óbvias do meu pai sobre o porquê de ser tão ausente, o porquê de todos os jantares de trabalho, e viagens de divulgação de produtos. Um homem da indústria de cosméticos, rodeado de mulheres mas com tão pouco tempo para as que tem em casa. 

 E nem hoje, o dia em que a filha mais nova, eu, faz dezoito anos ele tem tempo para um telefonema. A minha mãe por outro lado, com o seu exagerado esforço, está á minha espera para um jantar de família e um cantar de parabéns apressado, como sempre foi desde que tenho idade para recordar. 

 Todos estes pensamentos parecem me ter feito chegar a casa mais rápido, e nada preparada para o que vem a seguir. Abri a porta, e entrei para um cenário completamente fora do que estava na minha cabeça ser o costume nos meus aniversários. Não havia balões, não havia pessoas que nem sequer conheço.  Em frente a mim, sentadas no sofá, a minha irmã mais velha, Maria e a minha mãe olhavam-me com os olhos repletos de lágrimas, pareciam cansadas, como se o choro já durasse pelo menos á mais de uma hora.

 - Ana. O p.. pai... o pai... ele... - a minha irmã tomava a iniciativa de começar a dizer algo que a parecia sufocar, entre soluços  - ele morreu... 

Do nada um vazio. 

Um silêncio insuportável ocupava todo o espaço daquela sala. Por momentos, o meu cérebro não conseguia comandar qualquer movimento motor ao meu corpo, as minhas pernas tremiam incapazes de dar algum passo, e por muito que quisesse dizer algo, nada parecia adequado depois da notícia que acabava de receber. 

- Mas mãe... - o ínicio de uma frase inacabada mas que transmitia aquilo que as palavras não conseguiam expressar.

 A minha mãe como se de repente ganhasse coragem começou a caminhar na minha direção de braços abertos, envolveu-me num abraço apertado e junto do meu ouvido como um sussurro, fez-se ouvir um simples. - Não sabemos.- 


 Nunca ninguém está realmente preparado para encarar mais um ano da sua vida, o tempo passa rápido demais e nós vamos de arrasto com ele. Não há como parar o crescimento até ao dia que morremos. E para onde vamos depois disso? De que vale tudo que fazemos durante a nossa vida, se de um momento para o outro ela pode acabar? E o que levamos nós daquilo que conquistamos enquanto por aqui andamos? Será o nome, a reputação que dura uns dias, meses ou na melhor das hipóteses anos, mas que eventualmente acabarão por ser esquecidos? Será quem amamos, que em algum momento irão nos substituir, por muito que digam que nunca o farão? Ninguém é eterno, na verdade é muito mais fácil do que pensamos nos esquecer. E depois de uma vida inteira, nós somos NADA.

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⏰ Last updated: Oct 26 ⏰

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A nada incrível vida de Ana.Where stories live. Discover now