No ano de 2024, o mundo vivia em um equilíbrio frágil, como uma corda esticada entre duas montanhas, sustentando a paz e a ordem com o esforço de nações, tratados e um ideal coletivo de prosperidade. Porém, sob essa superfície pacífica, algo mais sombrio fermentava. A ganância humana, que sempre se mostrara um veneno para a convivência e o progresso, já corroía as bases desse mundo. Os líderes das grandes potências, cegos pelo desejo de controlar não só seus próprios povos, mas também tudo que estivesse ao seu alcance, conspiravam em segredo, e o equilíbrio que mantinha a civilização de pé começava a vacilar.
Ao redor do globo, as tensões econômicas e políticas aumentavam. Países que antes eram aliados começaram a competir ferozmente por recursos naturais, enquanto o desenvolvimento tecnológico acelerado dava aos mais poderosos uma vantagem desproporcional. A corrida por armas mais letais e precisas, por inteligência artificial e por novas formas de controle de massa ampliava a disparidade entre as nações. A ambição de cada governante tornava-se um fardo para o povo, e a paz, antes tão valorizada, começava a ser tratada como um ideal ilusório. Cada nação desconfiava das intenções da outra, e o medo envenenava o diálogo.
Foi quando uma grande crise econômica devastou os mercados, criando uma reação em cadeia. Os mais pobres e vulneráveis foram os primeiros a sofrer, perdendo tudo o que tinham. As classes trabalhadoras, esquecidas e desprezadas, protestaram em vão. Em resposta, os governantes aumentaram os impostos, e, quando isso não foi suficiente, passaram a confiscar bens de cidadãos comuns para sustentar seus próprios impérios financeiros e ambições políticas. Enquanto isso, corporações se infiltravam nos governos, transformando políticas públicas em benefícios privados.
Assim, o conceito de nação foi se fragmentando, dando lugar a um mundo regido por corporações e líderes desumanizados, onde os interesses pessoais superavam o bem coletivo. As fronteiras nacionais se tornaram campos de batalha para uma guerra que se desenrolava em várias frentes: política, tecnológica, e econômica. No entanto, ninguém, nem mesmo os mais poderosos, imaginava que essa disputa culminaria em um conflito sem volta.
A guerra, quando enfim explodiu, foi avassaladora. No início, ela se desenrolava em terras distantes, nas fronteiras e em zonas rurais, mas rapidamente se alastrou como uma praga por todos os continentes. As cidades começaram a ruir, primeiro pelas mãos dos invasores, depois pelos próprios governantes, que achavam mais fácil destruir do que compartilhar. Em apenas alguns anos, o mundo que antes conheciam tornou-se irreconhecível. As cidades vibrantes, centros de cultura e esperança, agora eram escombros, e as luzes que iluminavam as noites deram lugar à escuridão da destruição.
E com o colapso das infraestruturas básicas, a fome e a doença se alastraram. Sem água potável, sem energia e sem esperança, as pessoas passaram a lutar umas contra as outras. O conceito de humanidade começou a perder o sentido, e a compaixão, antes uma virtude essencial, foi lentamente substituída pela brutalidade e pelo instinto de sobrevivência. Aqueles que ainda possuíam recursos foram forçados a se esconder, construindo fortalezas e se isolando da realidade caótica que tomava o resto do mundo.
Os poucos que sobreviviam na superfície tornaram-se sombras do que um dia foram, lutando por migalhas e retalhos de uma vida passada. A cada dia, o mundo continuava a decair. Na medida em que as estações passavam, a natureza começou a recuperar o que fora destruído, mas a marca da guerra, a mancha da ganância e do egoísmo humano, nunca poderia ser apagada. O futuro era incerto, e o passado, uma lembrança distante de uma paz que jamais retornaria.
Com o colapso dos governos e a fragmentação da sociedade, as leis deixaram de ser respeitadas, e a violência emergiu como nova e cruel forma de ordem. A cada cidade devastada, a presença de homens armados se intensificava. Esses mercenários, muitos deles soldados que haviam abandonado seus postos ou criminosos em busca de uma oportunidade, logo assumiram o papel de novos "governantes" das áreas em ruínas, onde já não havia quem se opusesse a eles. Para esses homens, a ética e a compaixão eram conceitos descartáveis. O que restava era a lei da selva: o mais forte dominava, e o mais fraco tornava-se vítima.
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Os Nove Círculos Do Inferno
General FictionO Inferno de Dante, parte da Divina Comédia, é uma das obras-primas da literatura mundial escrita pelo poeta italiano Dante Alighieri no século XIV. Dividida em três partes - Inferno, Purgatório e Paraíso -, a obra apresenta uma alegoria da jornada...