Nua, Crua e Brutal

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(Personagens fictícios)

No início daquela manhã, o céu estava tingido por uma luz fraca e fria, um prenúncio de um dia difícil que aguardava Lily. O sol parecia incapaz de atravessar a grossa camada de poeira e fuligem que cobria a cidade, deixando tudo em tons de cinza, quase como se o mundo inteiro estivesse preso em um eterno crepúsculo. O ar carregado tinha um gosto metálico, áspero e incômodo, mas era o único que ela conhecia. Naquela época, respirar era um ato de resistência.

Mesmo em meio a um cenário tão desolador, Lily mantinha uma expressão serena enquanto caminhava pelas ruas estreitas e sujas do bairro. Os edifícios em ruínas, cujas paredes descascadas e janelas quebradas contavam histórias de uma grandeza há muito esquecida, formavam corredores de escuridão e abandono. As calçadas eram cobertas por escombros, restos de vidas que um dia prosperaram, mas que agora não passavam de memórias. Pessoas cabisbaixas e abatidas passavam por ela sem notar, com olhares vazios, presos a um ciclo de sofrimento e resignação. Aquelas ruas eram um campo de batalha silencioso, onde cada passo era uma luta para continuar.

Lily, porém, era uma exceção. Em meio à pobreza extrema e à desesperança, ela ainda conseguia sorrir, oferecendo um aceno gentil às poucas crianças que ousavam brincar no canto de uma viela, pulando entre pedaços de tijolos e metal enferrujado. Era quase irônico, mas também bonito, o jeito como ela conseguia enxergar beleza mesmo naquilo que outros consideravam apenas ruínas e miséria.

A caminho do mercado central - uma série de barracas improvisadas e cercadas por entulho - ela passava todos os dias pelos mesmos rostos, pessoas que conhecia de vista, mas que raramente falavam mais do que o necessário. Mesmo assim, Lily fazia questão de cumprimentar a todos.

- Olá, senhora Willians! - acenava com um sorriso, recebendo de volta um olhar cansado, mas que às vezes respondia com um aceno tímido.

- Bom dia, senhor Oliver! - dizia para o homem que vendia ovos podres e vegetais murchos, esperando que ele a ignorasse, como sempre fazia. E mesmo assim, a cada manhã, ela insistia.

A bondade e a pureza de Lily eram um mistério para todos. Em um mundo onde a desconfiança e o egoísmo tinham se tornado comuns, ela parecia manter uma fé inabalável na bondade humana. Sua mãe costumava dizer que Lily tinha uma alma pura, incapaz de ver o mal, mesmo quando o próprio Diabo estava bem diante de seus olhos. Talvez fosse isso que a fazia resistir, pois a esperança que carregava em seu coração a ajudava a suportar o peso de cada dia.

Chegando ao mercado, ela ajudava os pais com a pouca comida que conseguiam juntar, carregando pequenas sacolas de pano com restos de pão e vegetais que muitas vezes mal duravam a semana. Era uma rotina de sacrifício, mas Lily mantinha o olhar calmo e o coração leve, disposta a dividir o que fosse necessário para ajudar sua família a sobreviver.

Ao fim do dia, após horas de trabalho forçado que os irmãos e o pai precisavam suportar, a família se reunia em casa. Mesmo que houvesse apenas um pedaço de pão seco ou um punhado de grãos, eles comiam juntos, compartilhando o pouco que tinham. Era uma refeição silenciosa, e embora o peso da fome estivesse sempre presente, aquele breve momento de união dava a Lily uma razão para sorrir. Naquela noite, no entanto, havia algo diferente, uma espécie de inquietação que se espalhava por todos como um presságio.

Mais tarde, quando a noite finalmente envolveu o casebre em um manto escuro, os passos pesados que vinham de fora ecoaram como um trovão dentro da pequena casa. A porta foi violentamente arrombada, e o grupo de mercenários invadiu sem qualquer aviso, como uma rajada de vento impiedosa que destrói tudo em seu caminho. Lily sentiu o coração disparar, enquanto seus irmãos tentavam desesperadamente intervir, mas foram imobilizados sem piedade. O pai ergueu as mãos em um gesto de desespero, a voz trêmula e suplicante.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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