I.

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Saio de casa batendo a porta da frente, carrego em minhas costas uma mochila que deveria estar pesada com matérias escolares mas, esta com as poucas coisas que eu tenho e é tão leve que quase não a sinto pesar nos meus ombros. Do lado de fora contínuo escutando meus pais gritarem, ou melhor, especificamente meu pai gritar e minha mãe chorar.

Eles são, sem sombras de dúvidas, demasiadamente problemáticos.

Olho para os lados e alguns vizinhos olhavam e escutavam a cena, alguns curiosos e poucos preocupados. A realidade é que nenhum deles realmente se importavam, houve várias chances de ajudar e eles preferiram apenas olhar de longe.

— Fofoqueiros. — Concluo, andando pela calçada.

Coloco meus fones de ouvido e continuo caminhando, já estava a duas quadras da minha casa quando virei a esquina e vi meu namorado vindo na direção contrária a minha, ia passar direto mas, é claro que ele não me deixaria seguir o meu caminho.

— Ta indo aonde com essa pressa toda? Tava indo lá na sua casa agora, docinho de coco. — Falou entrando na minha frente, com um sorriso nojento.

Minhas vontade é de vomitar bem na sua cara, eu odeio esses apelidos ridículos, blearghh.

— Eu não to com paciência agora, Henrique. — Tento passar e ele entra na minha frente de novo, dessa vez segurando meus braços.

— Qual foi, Ana Paula? To falando com você tranquilo, quem você acha que é pra' ta sendo grosseira assim comigo, porra? Se coloca no seu lugar. — Ele intensifica a pressão das mãos no meu corpo, me causando certa dor.

Esse idiota realmente acha que manda em alguma coisa.

— Vou te mandar o papo só uma vez, Henrique. — Puxo meus braços com força para sair do seu aperto e olho bem para os olhos castanhos a minha frente. — Eu tô cansada de como você acha que tem poder sobre mim! Não é porque minha mãe aceita, e você acha certo ela aceitar as merdas do meu pai, que eu também vou. Acaba aqui qualquer caralho que um dia a gente teve.

Começo a andar e ignoro seus chamados, olho para trás de relance e percebo que ele começa a vir atrás de mim, o que me faz tentar andar mais rápido. A cinco metros de mim, um ônibus para no ponto, não tenho noção pra onde ele vai mas, qualquer lugar é melhor do que aqui, então entro rapidamente e apresso o motorista, falando que Henrique era um abusador que estava me perseguindo — o que não era deveras uma mentira. O senhor de idade que dirigia aquele automóvel parece entender a gravidade da situação e acelera rapidamente, sem questionar muito ele me deixa passar pela catraca e eu me sento no primeiro banco que vejo.

Ao lado de fora observo Henrique ficando para trás e quando o ônibus vira a esquina vejo meus antigos vizinhos indiscretos assistindo tudo de camarote. Porém, a cena que mais me doeu for ver mamãe sentada na porta de casa com metade do rosto roxo e sangrando, sangue que se misturava com as lágrimas e escorriam para seu pescoço, ao lado dela com a postura dominante de sempre, meu pai, que tinha um olhar mortal para mim. Ele deve ter percebido que eu sumi porque, logo depois de deixar minha mãe naquele estado ele ia até mim, mostrar para ela que poderia fazer o mesmo comigo também, já que ela me ama e o maior objetivo dele é destruir ela e tudo que é importante para ela. Era assim o amor dos dois, diferente do convencional, mas o amor que eu escutei minha mãe muitas vezes dizendo que é verdadeiro. Olhei bem nos olhos do meu genitor e logo depois para os lábios, consegui ler "eu vou te matar", bem calmamente, mas aquilo não me atingiu, ele nunca mais me veria.

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⏰ Última atualização: 5 hours ago ⏰

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