PRÓLOGO

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Anália estava pronta para fugir de novo. Agarrada em seu pequeno diário e com o vestido sempre dobrado para dentro do cós do espartilho que a sufocava, xingava aos quatro cantos as vestimentas que eram feitas para as mulheres de sua época. O lado desleixado do vestido exibia parte da sua perna esquerda onde uma calçava uma bota vermelha totalmente fora do convencional, se a freira Marta a visse sem os delicados saltos novamente, o castigo da semana seria certo. Ela já podia ouvir a voz da velha no seu juízo soltando os cachorros sobre delicadeza e bons modos de uma mulher para a sociedade, seus sermões vinham acompanhados de um discurso que Anália já sabia de cor
“Senhorita Lima, acredita que isso são modos e formas de se portar? Se continuar agindo como uma selvagem, como irá arrumar um marido? Que futuro espera ter sendo indisciplinada desse jeito? O padre Antônio vai perder as estribeiras se lhe ver dando mal exemplo para as outras meninas do convento de novo, vá para o quarto da penitência, agora refletir sobre os seus pecados, ficará sem as próximas refeições do dia, veremos se o jejum a fará mudar.”
Anália fazia caretas sapateando em cima da mesa do café da manhã ao imitar a freira para as outras cinquenta e sete meninas que se contorciam na gargalhada ao ver o seu teatro. Ela andava sobre a mesa com um lenço de beata na cabeça e seu caderno embaixo do braço enquanto com uma colher imitava a freira gesticulando com a palmatória na mão. Ela sabia o que estava fazendo, mas não se importava em ser castigada, para ela, nenhum castigo no mundo seria suficiente para livrá-la dos pecados que julgava ter cometido e este pecado tinha nome e sobrenome, Pedro Alencar.

Pulando a Janela (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora