Uma Mente Bem Diferente

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Alyson esfregou os olhos e virou-se para a janela. A noite começava a cair, e a jovem sentia um cansaço extremo e um sono arrebatador tomarem conta do seu corpo. Empurrou o caderno com a lição de álgebra para o lado e puxou para mais perto um livro de capa preta, com o titulo de Kit Black escrito em azul. Na escrivaninha em que ela estava debruçada dava pra notar uma desorganização total, e um porta-retrato em forma de lua crescente, onde se viam três garotas aparentemente na faixa dos 12 anos, abraçadas.

O quarto, de pintura lilás e aparência harmoniosa, parecia sumir da vista de Alyson cada vez mais. Ela abriu o livro, deparando-se com aquela bendita primeira página, sempre em branco, sempre lembrando a sua incompetência. Porque aquele livro era obra dela (seria, se ela tivesse escrito alguma coisa) e mostrava que a vida de uma garota de 17 anos pode ser chata, e sem nada de interessante que possa poder escrever num livro.

- Quem sabe um dia possa ter? -Questionou a jovem para si mesma. O toque do telefone a despertou para a realidade. De mau humor tirou o aparelho do gancho, e atendeu:

- Funerária "Vai Com Deus", a sua tristeza é a nossa alegria, em que posso ajudar?

- Parando com isso, que já está me deixando assustado. - Respondeu uma voz masculina e suave, que fez Alyson dar um pulo e quase cair da cadeira.

- É você?

- Céus, será possível que já esqueceu a voz de um amigo?

- Claro que não, Ken. Mas nessas horas eu não esperava um telefonema, quanto mais do meu vizinho, que poderia muito bem vir aqui em casa, se o assunto fosse urgente. - Alegou Alyson, abrindo a janela e procurando com o olhar na casa vizinha...

- Pode me ver?

- Ah... Posso! - Respondeu ela acenando com a mão para a janela da casa em frente, onde um rapaz de 20 anos, loiro de olhos verdes estava debruçado, com um telefone sem fio no ouvido. - Então, o que você quer falar comigo?

- Acho que você ia gostar de saber que mandaram uma carta pra você ontem, e o Edgar pediu para eu te entregar. Ele está meio ocupado no bar, sabe... Suponho que, como veio de Bevelly Hills, a carta pode ser da...

- Cloe! - Exclamou a garota, fazendo Kem dar um pulo e sair da janela.

- Desse jeito eu vou ficar surdo!

- Ah, me desculpa, foi sem querer. É que...

- Eu sei, eu sei, você não vê ela e a Sacha desde os 12 anos. - Ele comentou, deixando-se cair na cama e pensando: "Será que ela iria sentir minha falta se eu fosse embora também?".

- Sabe que eu sentiria a mesma coisa por você, não é?

- Sentiria?

Foi sorte Ken não estar na janela essa hora, senão teria visto Alyson enrubescer drasticamente. Ela recuperou o fôlego e respondeu se segurando para não gaguejar: - É, sentiria.

- Bom saber. Preciso ir. Vem pegar a carta amanhã?

- Vou. Boa noite.

- Pra você também. E bons sonhos.

Alyson não pode segurar um risinho. "Se eu sonhar com você pra mim já está ótimo". - Vejo você amanhã.

- Tchau.

Ken desligou, imaginando consigo mesmo se não seria perigoso (pra não falar de irresponsável), tentar se aproximar de Alyson quando um retardado mental e maníaco estava no pé dele. - É, assim não dá. Mas se eu esperar muito posso perder a oportunidade. - Sem mais delonga, deitou na cama e foi dormir.

Kit Black: Viajantes De MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora