Lindsay
— Lindsay! — ouço Mark me chamar e agitar meu corpo. — Acorda!
Abro os olhos e demoro alguns segundos para lembrar que estou na casa do meu pai e não na minha cama. Mark olha para mim na escuridão e me ajuda a levantar. Não tenho muito tempo para processar o que se passa, por isso apenas faço o que ele diz.
— O que aconteceu?
— Vou fazer algo que provavelmente irá fazer o seu pai me odiar. Vamos sair daqui, acabei de ouvir um carro sair, espero que seja o seu pai.
— O quê?
Suspira. — Eu não planejo ficar aqui por dias até o seu pai decidir que o aniversário dele terminou. Se não se lembra, temos trabalho e uma vida.
— Não sei se vamos conseguir sair. Você sequer estudou o terreno?
— Não, mas vamos ver o que acontece.
Ele se afasta de mim e eu levanto para vestir algo mais decente. Vou no closet procurar alguma coisa porque meu pai sempre tem roupas para mim e visto uma calça jeans e uma blusa rosa com ténis para poder correr melhor. Mark continua com a camisa branca e calça do seu smoking.
— Eu não acredito que temos que fazer isso. — Sussurro. — Mas você tem razão, eu não iria conseguir convencer o meu pai.
— Percebi. Agora me diga, o quão flexível você é?
— Por quê?
Ele sorri e dá de ombros. — Nunca se sabe!
Mark abre a janela com cuidado para não fazer barulho e passa para o outro lado sem qualquer dificuldade. Eu corro para pegar a minha bolsa e pulo pela janela também. Felizmente não é tão alto, estamos numa varanda e uma árvore pode servir de escadas, mas o problema é que a casa está cercada.
A noite está escura e o clima perfeito para uma noite de verão. Meus olhos procuram por movimentos ao redor, mas não preciso de procurar muito, dois homens podem ser vistos de longe numa das outras saídas da casa.
— O seu plano parece bom, mas não sei se irá resultar. Seremos pegos. — Digo.
— Podemos pelo menos tentar?
— Pode ser.
Ele sobe no parapeito para se agarrar à árvore e depois começa a deslizar para baixo, descendo até chegar ao chão, como se fosse simples. Mas o problema é que ele tem braços e pernas compridas e fica mais fácil.
Imito os seus movimentos, subindo no parapeito com cuidado e tento alcançar o ramo da árvore. Quando eu era criança gostava de trepar em árvores, não entendo como isso se tornou um problema agora. Estendo a mão e quase me jogo, mas não tenho muita coragem.
Mark continua à espera e não pode dizer nada para não chamar atenção para nós. Meu pai me coloca em cada tipo de situação complicada, que se eu recebesse uma moeda pelas vezes que aconteceu, eu estaria mais rica que o Dorian.
Consigo agarrar o ramo da árvore e trepar nele, mas descer se torna num trabalho difícil. Mark tenta me ajudar, subindo de novo, mas os homens do meu pai aparecem com lanternas e nos pegam em flagrante.
Eu já previ isso.
— Senhorita Ozu? — um deles pergunta. Eu nem conheço eles, mas meu pai se encarregou que eles soubessem tudo sobre mim.
— Eu disse que o plano não iria funcionar. — Desço com ajuda do Mark enquanto um dos homens vai chamar o meu pai.
— Eu tinha que tentar.
— O que é aquilo? — aponto para atrás do segurança, que vira para ver. — Corre! — empurro Mark.
Corremos até o portão agora sem vigilância, mas claro que o homem vem atrás de nós. Mark segura a minha mão e me puxa, então não tenho opção a não ser seguir o seu ritmo e já sinto meus pés doerem.
O homem é muito rápido, então ele nos impede, pulando para cima de Mark e todos caímos no chão. Eu não aguento e começo a gargalhar descontroladamente, enquanto os dois apenas olham para mim.
— Já pode sair de cima de mim. — Mark bate com a mão no chão.
— Desculpa! Eu estou rindo de toda essa situação. — Enxugo as lágrimas. — Não acredito!
— Estou um pouco frustrado com a tentativa falhada. — Mark senta ao meu lado.
— Veja pelo lado positivo, eu descobri que você é rápido. — Digo.
— Não o suficiente.
Ele levanta e depois me ajuda a fazer o mesmo. Caminhamos de volta para casa, com os seguranças atrás de nós. Meu pai está na sala com um robe preto e os braços cruzados. Quando ele nos vê, aplaude de forma dramática.
— Quem diria!
Mark dá um passo para frente. — Não deveria estar surpreso. Isso é o que os prisioneiros fazem.
— Eu achei que era bom para a minha filha. É triste. Mas saibam que não iam conseguir fugir. Os portões abrem através de um sistema que é comandado pela minha equipe de segurança. Além disso duvido que iriam conseguir escalar os muros de seis metros.
— Eu disse que não iria funcionar. — Sussurro para Mark.
— Isso significa que estamos presos aqui? O que temos que fazer para sair? — Mark sacode a relva da roupa.
Kazuya sorri. — Por que querem tanto ir embora? Aqui tem tudo o que a minha filha precisa.
— Minha mãe não está aqui.
— Bem, isso não será um problema. — Meu pai boceja.
— Se eu der um abraço o senhor me deixa ir? — pergunto. Meu pai gosta de abraços e eu dificilmente abraço ele. Eu sequer olho para ele quando faz essas merdas.
— Vamos chegar a um acordo. Eu deixo vocês irem, mas amanhã à tarde e meus homens vão te levar para casa, princesa.
— Sim, combinado.
— E vai me ligar mais vezes.
— Eu até poderia fazer isso, mas não sei se é seguro. Se a polícia me rastrear? Ou pior, seus inimigos. — Brinco.
— Eu não tenho medo de ninguém. Agora vão para cama, está tarde e eu estou cansado. E Mark, perdeu pontos comigo.
— Imagino que sim. — Mark parece nem se importar.
— O senhor também deveria dormir, afinal, doentes precisam descansar. — Digo.
Meu pai tosse, mas dá para perceber que é uma tosse falsa. — Obrigado pela preocupação, querida.
Não vejo meu pai ir para o seu quarto porque Mark segura a minha mão e me leva para o nosso quarto no mesmo segundo. Ele está um pouco estranho desde que fomos sequestrados, mas sinceramente isso é compreensível.
Quando ele fecha a porta, olha para mim como um lobo faminto e não entendo nada. Não entendo como ele está tão atraente nesse momento, não entendo porquê minha pele está toda arrepiada e principalmente não entendo porquê não consigo parar de olhar para os seus lábios.
Ele se aproxima devagar e toca a minha cabeça, tirando alguma coisa presa no meu cabelo, mas esses segundos eu desejei outra coisa. Eu não devia, mas não posso evitar.
— É um galho de árvore. — Ele mostra. — Agora podemos dormir.
Por que ele está tão sexy agora?
— A sua roupa está suja por causa da queda, vai dormir assim?
Seu sorriso é tão diferente do que alguma vez ele me mostrou, que não fico simplesmente encantada, mas também completamente afetada. Esse não é o Mark amigável, ele vestiu uma personalidade mais sensual. Nem sabia que ele podia sorrir assim.
A culpa é do meu pai.
— Tem razão. Além disso, está calor aqui. — Ele tira a camisa, botão a botão, fixando os meus olhos.
A culpa é do meu pai!
A camisa desliza para fora dos seus braços, revelando seus músculos, os braços fortes e musculosos, seus peitorais e abdômen definido, depois ele tira a calça e fica apenas de cueca, mostrando aquele V perfeito.
A culpa é do meu pai.
— Vai dormir ou vai assistir o espetáculo?
Desvio o olhar. — Eu vou dormir.
Tiro os ténis e vou trocar de roupa mais uma vez porque odeio dormir de jeans. Deito na cama e dou as costas para ele, lembrando que eu tenho um namorado e que devo estar desse jeito por causa do sono.
Mark apaga as luzes e depois vem deitar na cama e beija o meu ombro, arrepiando o meu corpo todo novamente, principalmente quando sussurra no meu ouvido:
— Boa noite!
Eu não consigo responder. Começo a torcer para não acontecer nada, para não cometer uma loucura e penso no George também. Meu pai consegue sempre me colocar nas situações mais complicadas.
****Abro os olhos e Mark está bem na minha frente. Ele dorme tranquilamente, virado para mim, completamente coberto e o rosto bonito. Seu cabelo desarrumado o deixa ainda mais charmoso, sem contar com a barba por fazer, eu nunca tinha reparado em como ele é atraente.
Desço da cama para não tornar as coisas estranhas. Ele pode acordar e interpretar a situação de um jeito errado. Eu tenho me sentido um pouco sozinha ultimamente, mas não devia passar tanto tempo com Mark, muito menos dormir na mesma cama que ele, mesmo que não tivesse escolha.
A culpa é do meu pai.
Verifico as minhas mensagens e tem uma de George, mas eu não tenho vontade de responder. O que vou dizer a ele? Que estou na cama com um amigo? Ele nunca vai acreditar que o meu pai me sequestrou.
Respiro fundo e vou tomar um banho, sabendo que meu pai sempre prepara tudo para mim quando me sequestra. A nossa relação é estranha, mas não podemos escolher a nossa família.
Deixo a água jorrar em minha pele, cantando para afastar os pensamentos do meu namorado. Eu não devia me sentir estranha porque foi uma situação que não previ, além disso não aconteceu nada entre mim e Mark. Ele é tão certinho que acho que nem sequer tocou um fio do meu cabelo.
Terminado o banho, amarro uma toalha ao redor do meu corpo e saio do banheiro, direto para o closet para escolher alguma coisa para vestir, mas fico arrepiada quando sinto a sua presença atrás de mim.
Mas por quê?
— Bom dia. Se importa se eu usar o banheiro agora? — pergunta.
Viro para vê-lo só de cueca e com os pés descalços. Se eu não o conhecesse diria que quer tentar transar comigo mesmo sabendo que tenho namorado. Mas ele não faria isso.
— Sim. — Volto a virar para escolher a minha roupa.
Parece um final de semana relaxante com o namorado e o meu pai e não um sequestro. Gostaria de saber quando as coisas com meu pai passarão a ser normais.
Felizmente, termina e depois da manhã chata com o meu pai e Mark olhando para mim o tempo todo, finalmente vamos para casa. Meu pai nos deixa ir, e penso se devo contar para a minha mãe tudo o que aconteceu. Às vezes me pergunto o que ela viu no meu pai, ele é atraente sim, mas só mostra sinais vermelhos.
— Então, gostou do final de semana? — pergunto para quebrar o silêncio.
— Foi interessante. E o que você achou?
Encaro as sacolas com as nossas roupas. — Não foi tão horrível, mas eu sinto muito. O meu pai não é normal.
— A culpa não é sua.
O carro para e desço rápido demais, como se precisasse de oxigênio. Mark vem atrás de mim e pega nas chaves do seu carro que foram devolvidas pelos homens do meu pai. Ele veste as mesmas roupas sujas e amassadas, mas continua atraente.
— Eu posso te acompanhar...
— Não precisa. Você deve estar morto para trocar de roupa, não é?
— Eu não me importo. — Ele toca o meu rosto. Seu toque é suave e tão carinhoso, tão certo, mas tão errado ao mesmo tempo.
Dou um passo para trás. — Depois nos vemos.
— Claro.
Caminho na direção do meu prédio, mas paro ao ver o carro do meu namorado estacionar. Seguro as sacolas com firmeza e fico congelada, me perguntando se ele viu Mark, se viu a cena toda.
Mais uma vez:
A.
Culpa.
É.
Do.
Meu.
Pai.

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DESASTRE [COMPLETO NA AMAZON]
RomanceMark Rosberg era amável e agradável, uma pessoa muito boa, mas isso era tudo o que as pessoas viam. Após perder os pais no início da adolescência, seu coração estava com sede de vingança e estava disposto a tudo para recuperar tudo o que é seu. ...