Quando os Olhos se Encontram

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Novamente o dia começou, e começou como todos os dias, minha mãe deveria estar no hospital mais uma vez cumprindo horas extras para ajudar alguma colega que bebeu muito em alguma festa boba e agora não consegue ir para o trabalho, ela sempre fazia isso, não que fastasse dinheiro ou estivéssemos precisando de algo novo, ela apenas se preocupava muito com os pacientes, afinal ela é enfermeira há 13 anos. Mas e eu?

Desde que me lembro da vida ela nunca estava lá, nunca tinha tempo, os pacientes precisavam dela, e eu tentei entender e aceitar, ela faz algo que muitos têm orgulho e admiração, minha mãe é uma humanitária desde sempre, ela ama todos os seres humanos e ama ajudá-los, mas esse amor dela me deixou de lado e afastou meu pai. O que posso falar sobre meu pai, eu o conheci pouco tempo, nem sequer me lembro dele, sei que nos abandonou quando eu estava com 6 anos, um dia minha mãe voltou do hospital e me encontro sozinha na sala assistindo desenhos animados. Nunca mais tivemos notícia dele, apenas sei que ele hoje em dia tem outra casa e uma nova família, uma família que pode dar atenção a ele. 

Sempre fiquei sozinha em casa, minha mãe falava que garotas fortes não tinham medo, que nos conhecemos os bichos papões e viramos amigos deles, ela fazia isso no hospital e eu deveria fazer em casa. Viver sozinha me ensinou coisas que jamais pude compreender, uma delas é como eu deveria lidar com meus sentimentos, eu olhava as outras crianças que choravam para os pais e me perguntava, por que fazem isso? Será que eu deveria fazer também? Mas nunca ouve uma pessoa para eu chorar, ela sempre estava no hospital e quando estava em casa, estava dormindo. Aprendi a viver sozinha.

Mas tudo mudou quando passei em primeiro lugar no Colégio Profissional Saber e Inovação, agora passava metade do meu dia fazendo ensino médio com técnico em matemática empresarial, aprendi a lidar com números mas também descobri uma paixão, o direito. Aprendi a colocar todos meus medos e frustrações em provas, sempre me esforçando para ser a melhor, me dedicando cada dia mais para me destacar. Pela primeira vez na minha vida, minha mãe me notou, ela estava orgulhosa e disse:

"Clara, você sempre foi minha garotinha inteligente, você pode ser incrível quando quer, então jamais cometa um erro de ter um filho, seja grande e estude, jamais acabe com seus sonhos"

Mas naquele momento eu entendi, eu sempre fui esse filho. Minha mãe se dedicou a vida para ser uma médica, mas com a descoberta da gravidez seus sonhos acabaram e ela se conteve com a enfermagem. 

Para mostrar ainda mais meu potencial, comecei outro técnico junto ao 2°ano do ensino médio, contabilidade, e me apaixonei novamente. Era incrível, como tudo devia ser organizado e feito da maneira correta, como os números dançavam no papel e se encontravam no final, como tudo fazia sentido. 

Mas algo a mais me chamou atenção neste técnico de 2 anos de duração, meu professor que também era meu coordenador. Ele sempre foi tão gentil e carinhosos com os alunos, sempre dando risada com seu sorriso perfeito e alinhado, mostrando as covinhas disfarçadas pela barba curta e bem cuidada, e quando precisássemos era um bom ouvinte e conselheiro. Era tudo que um professor deveria ser, mas para mim tinha algo a mais, ele nunca me tratou diferente dos outros, mais eu sempre chamei sua atenção, talvez pela escola nunca ter conhecido minha família ou por eu sempre demostrar tristeza em dias comemorativos. O fato era que ele sempre olhava para mim, ele sempre estava ali por mim e sempre me ouvia chorar, depois de tantos anos eu entendi o porquê as crianças choravam para seus pais, porque elas amavam eles e eu amava o Pascui, mesmo que ele nunca fosse me amar. 

O amor que eu tinha por ele mudou tão repentinamente, no começo era puro, eu sentia como se ele fosse o pai que eu nunca havia tido. Mas com o tempo eu reparei nele, como suas blusas sociais marcavam seu corpo magro, como seu cabelo estava perfeitamente alinhado, ou cheiro masculino que ele exalava. No entanto, reparando nele, pude ver as marcas de sua esposa, como beijos que foram depositados algum tempo atrás em seu pescoço, pois ainda estava marcado por um batom vermelho cereja, como também, ranhuras feitas no dorso de sua mão, ranhuras finas, feitas por uma unha delicada, provavelmente foram feitas no ato de amor na noite passada.

Eu sabia que estava ficando doida, provavelmente desenvolvido alguma doença mental, mas eu não consegui não olhar para ele, a cada dia, durante um ano e sete meses, eu amei ele, amei cada momento e criei coragem para hoje. 

* Não corrigido *

Pode conter muitos erros, quando puder, irei corrigi-los e lançar a história com a gramática correta.


Os Ecos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora