À Beira da Confissão

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A semana havia passado tão rápido, a sexta-feira chegou e junto dela eu tive coragem de tomar minha primeira decisão ruim na vida. Durante a semana pensei e repensei nisso, afinal, ser adolescente só acontece uma vez na vida, errar é humano e se apaixonar também. A diferença da minha realidade para essas fases é que as pessoas que falaram elas já estavam mortos, enquanto eu estou viva. 

Criar coragem é um próprio ato da coragem, é enfrentar suas próprias crenças e renunciar a possibilidades futuras, ou pelo menos é o que eu acredito. Durante esse dia inteiro eu planejei o que iria acontecer, tentei pensar em algo para me defender ou correr casso ele fique muito bravo, mas acho que isso não vá ocorrer, afinal nunca vi o Pascui nervoso, ele sempre está feliz e calmo, ele fala como se estivesse conversando com anjos, a voz serena e clara. 

O dia ocorreu como sempre, o ensino médio foi tedioso e longo, como se todos ali estivessem mortos. Era sexta-feira de uma semana cheia de simulados e alguns diziam que nos consideravam zumbis. Mas algo atrapalhou a rotina: uma chuva intensa me manteve na escola até o próximo horário. Fiquei sentada nas mesas perto da secretaria enquanto estudava a matéria de custos contábeis que teríamos prova no mesmo dia. Incrivelmente, quem lecionava era Pascui, ele como sempre fazia as piores provas, nas quais tive o privilégio de ser a única a gabaritar.  Eu me esforçava muito para impressioná-lo, assim talvez ele se lembraria de mim.  

Já fazia algum tempo que eu estava ali, me concentrei tanto no material que perdi a noção do tempo e junto dele foi minha audição, às vezes quando me concentro em algo fico por fora da nossa dimensão, como se o mundo não tivesse som algum. Foi quando senti uma mão firme em meu ombro, dei um pequeno pulo e me virei rapidamente:

— Mais que porr— Fiquei em silêncio, quem estava me tocando era ele, o dono de todos meus pensamentos cotidianos.

— Clara, olá, me perdoe por te dar um susto — Disse, olhei para seu rosto, estava calmo, então olhei para sua mão, a aliança de ouro brilhava.

— Está tudo bem, eu apenas não te ouvi chegar — falo e dou um pequeno sorriso, ele retira sua mão quente de mim — O senhor precisa de alguma coisa? 

Ela aprecia sem jeito de dizer e olhou para frente como se estivesse procurando por alguém.

— Preciso, sim, meu material ficou no carro, esta chovendo muito e não consigo pegar tudo, trancar o carro e proteger meu notebook da chuva, poderia me ajudar? — Ele diz, estava claramente envergonhado em me pedir isso, afinal ficaríamos ensopados pela chuva.

Me levanto e fecho o material. 

— Claro que posso te ajudar — Olho para ele após guardar tudo — Mas não tenho uniforme para colocar depois, terei que ficar molhada durante o período de aula.  

— A Clara me desculpe por isso, mas não vejo mais ninguém aqui que tenho intimidade de pedir isso — Diz olhando para os lados procurando novamente por alguém.

Meus batimentos aceleram, sinto como se fosse desmaiar, então temos intimidades? Afinal, somos amigos?

— Pascui está tudo bem, posso ajudar o senhor sim — Falo sorrindo alegremente e começando a andar junto a ele para o estacionamento dos professores — É isso que amigos fazem, não é? — Olho para ele esperando uma resposta para meus devaneios.

Ele olha para mim e sorri também, coloca seu braço por cima dos meus ombros como se estivesse me abraçando.

— Sim, é isso que fazemos, tomamos banho de chuva — Ele estava tão lindo, sua fala foi cheia de alegria, esse era meu Pascui, um homem sempre cheio de felicidade, um homem que faria tudo para ser feliz, e eu queria sentir essa felicidade também. — Espero poder te recompensar por hoje.

— Aa Para!, está tudo bem, vai ser divertido afinal — Ele me abraça ainda mais quando entramos na chuva, sinto o calor do seu corpo, por um momento me esqueço completamente da chuva gelada que escorre por meus cabelos e pinga em meu rosto, como se só existisse aquele cheiro magnifico de seu corpo, e seu calor, me abrangendo como chamas, consumindo meu interior. 

Você me recompensou, me deu o privilégio de sentir seu cheiro. 

Foi quando a coisa mais vergonhosa do mundo aconteceu, em um ato de desatenção fui ao chão, cai como uma criança preste a andar, a chuva havia enchido um pequeno buraco e eu pisei dentro dele indo de cara ao chão, o pior de tudo, Pascui caiu comigo. Eu quebrei o nariz, foi a primeira coisa que pensei, a dor lasciva em meu rosto, não tive coragem de abris os olhos, eu senti ele se sentar ao meu lado.

— Clara! Ai meu deus, eu sinto muito — ele me ajuda a levantar, foi quando finalmente abro os olhos, ele está perto, olhava para mim com preocupação e isso piora ao me analisar de perto.

Ele coloca sua mão em meu rosto, mas a tira rapidamente, eu pude ver sangue na palma. Acho que realmente quebrei o nariz, queria me enfiar dentro daquela pequena poça e morrer afogada, ele estava ali me vendo da pior forma possível, sendo uma tonta.

— Clara, você está bem? — Pergunta novamente pela terceira vez, eu imagino, estou área, sou péssima em sentir dor — Irei te levantar e te colocar no carro, acho que você ira precisar de pontos, tem muito sangue no seu rosto.

A céus, agradeço por aquele buraco. Pascui me pega no colo, seu corpo está molhado, continua tão quente, pude sentir seu halito doce em meu rosto, a dor nem parece ruim agora, era como um lembrete que eu estava viva e não no paraíso. Fui colocada no carona do carro, ele fecha a porta e sai correndo novamente para a escola, afinal teria que avisar que está se retirando com uma aluna. A dor volta com tudo, me sinto tonta e encosto meu rosto na janela, estava ali sozinha, o silêncio faz o pequeno intervalo de tempo parecerem horas, o frio também me incomoda, tento me abraçar, mas toda minha roupa estava molhada. 

Depois de um tempo ele retorna para o carro, segurava um pano branco, assim que entra me entrega ele. 

— Por favor, coloque este pano em seu nariz — Seu rosto não combinava com o medo, eu não gostei — Clara você esta vermelha, apenas fique acordada. 

Eu não iria desmaiar, apenas estava com muita vergonha, me sentia uma criança desatenta.

— Me desculpa Pascui, acabei com sua noite. 

Ele continua dirigindo e não me responde, seu semblante continua preocupado. Depois de um tempo vejo o hospital Casa da paz.

— Pascui quando chegar pede um parecer da enfermeira Luzia Santos, ela é minha mãe.

Ele me olha com pena.

— Não sabia que sua mãe era enfermeira, mas isso explica muita coisa — ele fala estacionando em uma vaga próxima da entrada.

— Você nunca me perguntou sobre ela — Respondo tentando não soar amargurada, mas pelo seu olhar imagino que falhei miseravelmente.

* Não revisado *

Uma coisa importante que quero destacar, Pascui jamais vai ser um abusador, ele ira tentar lidar com essa relação da melhor forma possível, sempre apoiando os sentimentos dela e nunca a abandonando, mas com o passar do tempo algo ira mudar nele também. Mas enquanto a Clara for uma adolescente, ele nunca vai ceder aos desejos dela. 




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⏰ Última atualização: Oct 27 ⏰

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