Capítulo 1- Seis anos atrás.

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O céu está carregado, refletindo exatamente como eu me sinto por dentro: uma mistura de expectativa e apreensão. Respiro fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. O ar frio da manhã entra nos meus pulmões, mas não consegue aliviar o peso no estômago. É o meu primeiro dia na faculdade de perícia criminal, e, por mais que eu tenha esperado por isso, o nervosismo me envolve como uma nuvem pesada.

Ao atravessar o portão principal da universidade, os prédios enormes me intimidam. Sinto o barulho dos alunos ao redor, mas tudo parece abafado, distante. Meus olhos procuram o número da sala repetidamente – 32B. Quando finalmente encontro a placa prateada ao lado da porta, paro por um instante. Minhas mãos estão úmidas, e eu as limpo discretamente na calça jeans antes de entrar.

A sala é fria, e o cheiro de ar-condicionado misturado com o de papel novo me envolve. O professor já está lá, em pé na frente de uma pilha de documentos. Seus olhos são focados e sérios. Tento passar despercebida enquanto me desloco para o fundo da sala, onde posso observar sem ser notada. Nunca gostei de chamar atenção. Prefiro ficar na minha, estudando as pessoas em silêncio.

Mas não hoje. O professor levanta a cabeça e me chama.

—Scott, Amelia?

Meu coração dá um salto, e todos os olhares da sala se voltam para mim.

—Sim?

—Por que você quer ser perita criminal? ele pergunta, com um olhar que parece me avaliar profundamente.

Engulo seco. O passado volta à tona com força – as lembranças que tento evitar. A morte de meu querido pai, as perguntas sem respostas. Ninguém nunca soube o que realmente aconteceu naquela noite. É por isso que estou aqui, porque não suporto a ideia de alguém passar pelo que eu passei.

—Eu quero descobrir a verdade, quero dar às pessoas o que eu nunca tive.

Ele me encara por mais alguns segundos, talvez tentando decifrar algo em mim. Finalmente, assente e volta a explicar o cronograma do semestre. Minhas mãos ainda estão trêmulas, mas sinto que passei por um teste importante. Um primeiro teste.

Os primeiros dias passam como um borrão. As aulas são intensas, mas eu me perco nelas, absorvendo cada detalhe. O que os outros veem como simples ciência, eu vejo como uma forma de devolver algo às pessoas. Verdade. Justiça. Mas as noites... As noites são piores. O silêncio traz de volta o passado, as dúvidas, o vazio.

Na sexta-feira, o professor nos surpreende com um desafio. Ele coloca uma pasta grossa sobre a mesa, como se estivesse prestes a entregar o destino de todos ali.

—Chegou a hora de provar que vocês estão prontos. -diz, abrindo a pasta para que todos vejam o conteúdo. "Este é o primeiro caso fictício de vocês. Quero um relatório completo em uma semana. Tratem-no como se fosse real, porque um dia será."

Quando pego o arquivo, sinto meu coração acelerar de novo. Fotografias de uma cena de crime, depoimentos, descrições de provas. Tudo é tão detalhado, tão real. Passo as páginas com cuidado, sentindo o peso do que isso representa. O que para alguns é apenas um exercício, para mim, é um passo mais perto do que estou buscando.

Em casa, espalho os papéis sobre a cama, analisando cada um deles. Meus olhos percorrem cada detalhe. As dúvidas tentam se infiltrar, mas empurro todas elas para o fundo da mente. Sei que estou no caminho certo. Sei que posso fazer isso.

Eu tenho que fazer isso.

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