A Noite do Sacrifício

O Chamado

A cidade de Eldergrove sempre teve um ar de mistério. Escondida entre florestas densas e colinas cobertas de névoa, era o tipo de lugar onde histórias antigas circulavam, sussuradas de geração em geração. Ana sempre se lembrava de suas visitas durante a infância, das tardes passadas explorando os campos e brincando à sombra das árvores. Mas agora, ao receber um telefonema de sua mãe, o tom nostálgico foi rapidamente substituído por uma sensação de urgência.

— Ana, você precisa voltar para casa. Sua avó... ela não está bem — a voz de sua mãe tremia ao outro lado da linha.

Ana sentiu um frio na barriga. Sua avó, uma mulher forte e cheia de vida, havia sido um pilar em sua infância. O coração de Ana apertou ao imaginar a matriarca debilitada. Depois de alguns segundos de silêncio, ela respondeu:

— O que aconteceu?

— É complicado, querida. Não posso explicar tudo por telefone. Apenas... você precisa vir.

Após desligar, Ana olhou pela janela de seu apartamento na cidade grande. As luzes da cidade piscavam como estrelas em um céu artificial, mas o brilho não conseguia ofuscar a escuridão que começava a se acumular dentro dela. Um pressentimento a incomodava, como se algo mais profundo a estivesse chamando de volta a Eldergrove.

Com um suspiro resignado, Ana pegou uma mala e começou  a embalar algumas roupas. Ela não sabia o que esperar ao retornar, mas havia uma sensação estranha no ar, como se um manto de sombras estivesse se espalhando sobre a cidade que uma vez amou. As histórias que sua avó contava sobre a cidade e suas lendas antigas, de rituais esquecidos e seres do além, vinham à mente, e Ana não podia deixar de sentir que esses contos estavam prestes a se tornar muito mais do que meras histórias.

Ao chegar em Eldergrove, Ana foi recebida por uma atmosfera opressiva. A cidade parecia ter mudado, mas não havia muitas mudanças físicas. As mesmas ruas de paralelepípedos, as mesmas casas de madeira com varandas rangentes, mas havia uma quietude inquietante. As janelas estavam fechadas, e poucos moradores se atreviam a sair para a rua. O sol se ponha atrás das montanhas, lançando sombras longas e escuras, como se a própria natureza estivesse guardando segredos.

Ana caminhou até à casa de sua mãe, que parecia mais velha do que se lembrava. Ao abrir a porta, o cheiro de ervas e remédios a envolveu. Sua mãe a recebeu com um abraço apertado, a Ana notou as olheiras profundas que marcavam seu rosto.

— O que está acontecendo? — perguntou Ana, após se afastar.

— É sua avó. Ela fala coisas estranhas... e muitos moradores estão desaparecendo.

A cada palavra que sua mãe pronunciava, o desespero de Ana aumentava.

— O que você quer dizer com "coisas estranhas"?

— Ela fala sobre a "Noite do Sacrifício", como se fosse algo que está prestes a acontecer novamente.

Ana franziu a testa. As histórias que sua avó contava sobre a seita que se reunia nas noites de lua cheia, buscando um sacrifício para apaziguar os deuses antigos, não eram meras lendas? Mas a maneira como sua mãe falava, como se estivesse vivenciando algo real e aterrador, faz o sangue de Ana gelar.

— Eu preciso ver a vovó — disse Ana, decidida.

Ao entrar no quarto da avó, Ana encontrou a mulher em sua cama, com o olhar perdido. O ambiente estava pesado, e uma sensação de presságio parecia pairar no ar.

— Ana... você voltou — a avó murmurou, um leve sorriso se formando em seus lábios.

— Vovó, o que está acontecendo? O que você sabe sobre a "Noite do Sacrifício"?

Os olhos da avó se arregalaram. Um medo profundo cintilou neles.

— Eles estão voltando... — ela sussurou. — O que foi enterrado há muito tempo está prestes a ressurgir.

Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que realmente estava acontecendo em Eldergrove? O chamado de sua avó a fazia sentir que ela estava prestes a ser arrastada para um mundo de sombras e segredos que nunca imaginou que poderia existir.

Enquanto o vento assobiava do lado de fora, sussurando através das árvores, Ana sabia que a noite estava apenas começando, e a verdade por trás da lenda estava prestes a ser revelada.

-------------------

CONTINUE NO CAPÍTULO 2