O som do despertador ecoa pelas paredes da casa. Em prontidão, o garoto de cabelos cor de carvão levanta de sua cama esgueirando seu braço ao despertador para confirmar o horário. O rosto que transborda cansaço muda rapidamente. Confirmando mais uma vez o horário, o garoto boceja com as mãos no rosto e se apressa para se trocar.
São sete horas da manhã e na casa dos Bennet está como sempre: um caos. A casa é composta por dois andares e os quartos ficam no andar de cima. Abrindo a porta do seu quarto, o garoto é surpreendido por Nancy que dispara em descer as escadas e ir até a cozinha. O cheiro amanteigado de panquecas sobe pelos corredores da casa, a barriga do garoto faz um ruído imaginando o sabor das panquecas que sua tia faz todos os dias antes de ir trabalhar e às vezes é a melhor parte do seu dia.
Descendo até a cozinha, o garoto abre a geladeira e retira a jarra de suco de laranja. Observa os informes anotados em pedaços de papel colocados com fita crepe. "Levar Nancy até a escola e jogar o lixo fora" estava anotado com sinais de pressa em uma escrita mal alinhada e estranha, mal conseguia interpretar as sílabas.
— Bom dia, tio e tia! — Com um sorriso singelo, fala o garoto.
— Bom dia, Noisy — respondem em harmonia ambos os dois.
Seu tio segurava o seu celular em páginas de notícias e falava sobre como o mundo estava um lugar terrível para viver hoje em dia. Todos os dias a família ouvia um pouco desse discurso montado, conseguiam até mesmo montar previamente em suas cabeças as suas opiniões.
— Noisy, filho — disse seu tio com um ar de preocupação. — Por acaso a empresa que você está estagiando não te obriga a virar comunista, não é?
Noisy rebate tranquilamente e fala de forma arejada.
— Não, na verdade eles preferem que os funcionários não coloquem suas crenças ou personalidade no trabalho.
— Como deve ser feito — responde seu tio aliviado. — As marcas devem ter cuidado com essa influência de mau caráter e sua mãe não gostaria de...
Impedindo seu marido, Tia Carmen coloca sobre a mesa uma tábua cheia de panquecas. A calda brilhante reflete na mesa inteira, a manteiga e a fumaça de comida caseira recém feita invade os corações de todos na mesa.
— Não acho que seja assunto para puxar na mesa, querido. — Põe os talheres ao lado dos pulsos de seu marido e aponta com a cabeça para a Nancy. — Também não acho que seja da nossa conta sobre as preferências políticas de Noisy e da sua empresa.
—Não somos comunistas na empresa, tio e tia. — Responde de cabeça baixa e com os olhos fechados.
Nancy está bem inquieta hoje, pois é dia de levar brinquedos para a escola. Ela segura duas de suas bonecas e olha fixamente para ambas como se fossem as últimas bonecas do mundo.
— Não sei qual das bonecas levar, mãe. — Expressa uma cara engraçada entre raiva e confusão.
Em prontidão, sua mãe responde com uma voz doce e suave.
— Acho que deveria levar a Zoe e a Becca essa semana, querida. — Colocando as panquecas em seu prato.
Nancy põe as mãos sobre a mesa ajudando a segurar o copo que a mãe está enchendo com suco de laranja.
— Mãe, sabe que a Zoe está em expedição no zoológico hoje e Becca tem sido muito chata ultimamente, preciso que ela se comporte melhor para ver a minha amiga Christie.
Noisy faz uma cara confusa sobre a situação, refletindo consigo mesmo se ainda estão falando de bonecas ou de amigas adolescentes de um filme dos anos 2000.
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Observados
HorrorEm uma cidade pequena, Noisy trabalha como ilustrador na filial de uma empresa de figurinhas, onde quase sempre precisa passar do horário para repor demandas importantes. Um certo dia, no caminho de volta para casa, Noisy observa bem fundo no horiz...