14 de Abril, 2024
Joaquim
Ansiedade.
A sensação de se perder em pensamentos ruins e de pensar nas possibilidades do que pode dar errado é tão sufocante quanto estar se afogando. É um vício que eu tenho, de se perder nesse mar. Ou melhor, está perdido. Não importa o quanto eu tente fugir, esse meu lado jamais irá sair de mim. Nunca irei me encontrar, sempre estarei perdido. Mas não precisa ser sempre assim.
Encaro os comprimidos à minha frente. Eu odeio eles. Eu odeio como eles me deixam bem. Eu levando a cabeça e os engulo. Finalmente, eu olho para o espelho.
Sou eu. Moreno, olheiras, cabelo crespo, barba por fazer, levemente gordo. Anos atrás isso me afetaria, ver meu corpo, ver meus erros e defeitos. Mas todos tem erros e defeitos, todos odeiam seus corpos, mesmo que neguem.
"Foda-se."
Eu jogo água no rosto e suspiro. Acho que os remédios fizeram efeito, minha mente está mais calma, então posso focar no agora. Saio do banheiro, me dirigindo para meu quarto e termino de arrumar minhas malas. Não gosto de viajar com muita mala, no máximo três. Nesse caso estou levando uma para roupas, outra para produtos de higiene e algumas coisas aleatórias e uma última para meu notebook.
"A viagem?"
Vou viajar com sete amigos meus para uma cidade, Santo Agostinho, não tem muita atração por lá, tirando um shopping pequeno e alguns parques, mas já é o suficiente. Iremos passar uma semana lá, num casarão em uma área mais afastada da cidade, que tem piscina e um espaço bem amplo onde iremos fazer a comemoração do aniversário da Naomi.
Foi um projeto que demorou bastante para acontecer, muitas discussões, muitas opiniões contrárias, quase desistências, dentre outros empecilhos. No fim, chegamos num consenso e tudo deu certo. Pelo menos isso.
O plano é nos encontrarmos na rodoviária da nossa cidade e de lá pegar o ônibus para Santo Agostinho, temos umas duas horas para tal. Com as malas prontas, eu as deixo perto da porta da minha casa e vou atrás do meu gato rajado, Benito, que após uns trinta segundos o procurando, o acho em cima do meu guarda-roupa.
— Já tô indo, Benito — Eu falo com ele enquanto aliso sua cabeça com um pouco de esforço por ele está em cima do móvel. — Mãe vai chegar mais tarde e dar uma olhada em você, cuide da casa viu? — Ele não esboça nenhuma reação e só continua dormindo.
"Um verdadeiro segurança..."
Passo pela cozinha, coloco ração na tigela do Benito e finalmente saio de casa, fecho a porta e desço para a recepção. Eu moro em um complexo de kitnets, simples porém aconchegante e calmo, coisas que fizeram eu vim para cá. Outras pessoas que, assim como eu, são mais reservadas moram por aqui também, apesar de que tem um ou outro de destoa essa harmonia. Eu tento não causar intriga com ninguém, não por medo, mas sim por falta de vontade. Não significa que eu deixe que se aproveitem de mim, muito pelo contrário, raramente eu deixo pessoas que não sejam meus pais e amigos me dizerem o que fazer.
Estou descendo as escadas do complexo olhando para o celular e percebo que preciso apressar meus passos para não me atrasar. Para minha infelicidade, sou barrado no meio do caminho para a recepção, Dona Rita.
"Uma das que destoa."
— Oi, Dona Rita — Falo com um pouco de desdém, já prevendo que se eu demorar muito com ela, vou acabar perdendo o ônibus.
— Olha aqui meu filho... — Ela aponta para um celular, mas por impulso eu só pego o meu e finjo que estou em uma ligação. Eu falo algumas coisas como "já estou indo", "eu sei que eu já devia está aí" e "foi mal" num tom meio alto e vou saindo de fininho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paralelos - Ponto Fraco
RandomJoaquim tenta fugir de si mesmo, dos seus próprios pensamentos, pois é como se ele perdesse o controle da situação e isso teria consequências que ele tenta não pensar. Ás vezes, para contornar não ficar sozinho com si próprio, ele acredita que está...