A claridade da manhã sempre era a mesma, entrando pela janela, filtrada pelas cortinas brancas e esterilizadas. Eu sabia que era outro dia porque a luz mudava de intensidade, nunca porque algo realmente mudava. Tudo aqui era igual, um ciclo que se repetia, pontuado pelos sons dos aparelhos ao meu redor e as conversas abafadas das enfermeiras. Mais um dia.
Eu sempre me perguntei como seria viver lá fora, no mundo além dessas paredes frias. Ver pessoas andando pelas ruas, correndo, rindo com amigos, comendo o que quisessem. Hambúrgueres, pizzas, doces. Já fazia tanto tempo que o gosto dessas coisas se apagou da minha memória. Tudo o que me resta são os pratos insossos e as sopas sem sal, como se meu corpo, já frágil, não pudesse suportar nada mais.
Quando era pequena, eu costumava sonhar. Não aqueles sonhos de dormir, mas os sonhos de desejo, de um futuro. Eu me imaginava em parques, correndo com meu cachorro, ou saindo para jantar com amigos. Coisas simples que a maioria das pessoas faz sem nem pensar. Coisas que, para mim, são tão distantes quanto as estrelas no céu.
Aqui, na cama, o tempo parece uma névoa densa. Um momento se mistura com o outro, e às vezes é difícil lembrar o que aconteceu no dia anterior. Mas uma coisa sempre é clara: a inveja. Não gosto de admitir isso, mas a inveja é minha companheira. Invejo os corpos saudáveis, invejo a liberdade. Eles podem andar, correr, comer o que quiserem. Eu os assisto pela televisão, aquelas vidas perfeitas que parecem quase irreais, enquanto o meu corpo se recusa a obedecer.
Me pergunto por que justo eu. Talvez todos se perguntem isso, não é? A diferença é que a maioria pode mudar alguma coisa. Eu, não. O hospital se tornou o meu mundo, e o que mais dói é que eu nem lembro de como era o mundo antes. Só restam sombras de lembranças, como um eco distante de algo que nunca mais vai voltar.
As horas se arrastam, os dias se fundem, e tudo o que me resta é assistir e sonhar com o que poderia ter sido.
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Prisioneira do Leito
Fanfiction"Uma jovem confinada a um hospital sonha com liberdade e vida além das paredes frias que a cercam. Uma jornada emocionante de esperança, resiliência e auto-descoberta."