Prólogo

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Floresta Negra – Small Village
Warren

Cada passo que dávamos dentro da floresta parecia ecoar como um prenúncio de morte. O vento uivava entre as árvores, carregando um frio cortante como lâminas, e a névoa espessa envolvia o terreno, transformando tudo num mar pálido e sufocante. Eu segurava a espingarda com as mãos trêmulas, sentindo o peso esmagador do medo que se enroscava em meu peito. Estávamos caminhando pela Floresta Negra, um lugar onde a escuridão não era apenas a ausência de luz, mas uma entidade predatória, oculta e faminta.
Há dias recebíamos relatos de ataques brutais em Downtown e nas cidades vizinhas: Cidade dos Ossos, Alameda do Alvorecer, e as pequenas vilas ao redor. Todas mergulhadas em um terror que se aprofundava a cada noite. Sabíamos que, se cometêssemos o menor erro, nenhum de nós sairia vivo.
Um uivo longo e profundo cortou o ar, congelando o sangue em minhas veias. Pássaros alçaram voo desesperados, e a névoa ao nosso redor pareceu contrair-se, opressiva. Engoli em seco, tentando conter o pânico que invadia meus pensamentos.
— Devemos estar perto.
Murmurou Jefferson ao meu lado, sua voz trêmula e carregada de tensão, embora ele mantivesse a arma apontada para frente.
— Nervoso?
Perguntei, tentando mascarar a minha própria ansiedade com um sarcasmo forçado.
— Por que estaria? — retrucou, com uma falsa tentativa de confiança.
— Você está tremendo... medo de lobisomens?
Jefferson soltou uma risada quebradiça, como o som de vidro se estilhaçando.
— Caço essas criaturas desde que era jovem. Não tenho mais medo delas.
A voz baixa traía o contrário.
— Entendo... Pena que o resto do grupo não compartilha desse espírito. — Lancei um olhar para os outros atrás de nós. Eles tropeçavam em raízes e galhos, os rostos pálidos, os olhos arregalados como animais encurralados.
— Parecem mais amedrontados pela escuridão do que pela criatura que tem banhado essas terras em sangue.
Jefferson me encarou de soslaio, a expressão grave, refletida pelas sombras da noite.
— Você acha mesmo que essa coisa não é um deles? — Sua voz se tornou um sussurro afiado. — Oliver e Nick?
A memória daquela noite retornou com força, uma cena vívida de corpos despedaçados e um cheiro sufocante de sangue. Mas eu conhecia Oliver e Nick. Eles jamais fariam aquilo.
— Não... conheço-os há anos. Não poderiam ser eles.
Minhas palavras eram firmes, mas a dúvida mordia meu peito.
— Você confia demais neles, Warren.
— Claro que confio. Se não fosse por eles, o Lobo Negro ainda estaria à solta, dilacerando sem piedade. — Forcei um tom mais calmo. — As mortes diminuíram desde que o caçamos. Lobisomens são monstros imprevisíveis, mas essa criatura... algo é diferente.
Um ruído interrompeu nossa conversa. Um dos caçadores tropeçou e caiu de joelhos, a respiração acelerada. Seu companheiro o ajudou a levantar, mas todos os olhos agora estavam cravados em um ponto à frente, no meio da névoa. Algo se movia por entre o mato rasteiro.
Meu coração disparou. Apontamos nossas armas, o silêncio era tão denso que conseguia ouvir o pulsar acelerado do meu próprio sangue. O mato se agitou novamente. O suor escorria frio pela minha testa. O som rouco de grunhidos aumentou, e então, a criatura surgiu.
Do meio das sombras, um par de olhos castanhos brilhou como brasas acesas, e uma silhueta monstruosa emergiu entre as árvores. O pelo negro estava empapado de sangue fresco, que pingava no solo em grandes gotas. Um odor nauseante de ferro e carne apodrecida invadiu o ar, fazendo meu estômago se revirar.
— Atenção! — gritou Jefferson.
Antes que qualquer um de nós pudesse reagir, um dos caçadores gritou em desespero e correu, ignorando o perigo à frente. O lobo soltou um urro ensurdecedor, um som que fez meus ossos vibrarem. Ele avançou num salto mortal, e nos jogamos para os lados, mas a criatura foi atrás do homem em fuga. O som de ossos estalando ressoou pela floresta enquanto a cabeça do caçador era esmagada pelas mandíbulas da besta.
— Atirem! — gritei, lutando para manter o controle.
O caos explodiu. Tiros ecoaram na escuridão, o clarão das balas iluminando momentaneamente o inferno que nos cercava. A criatura se movia rápido demais, um borrão entre as sombras. Estávamos disparando no vazio, e cada bala perdida era mais uma sentença de morte para alguém do nosso grupo.
A névoa misturava-se ao sangue que jorrava, transformando tudo em uma cortina vermelha. Os rosnados ferozes do lobo ressoavam como trovões, ecoando nas árvores.
— Onde ele está? — gritei, a voz carregada de desespero.
— Eu não sei, Warren! Fique atento! — a voz de Jefferson mal passava de um sussurro em meio ao caos.
E então, do meio das sombras, o lobisomem surgiu novamente. A luz pálida da lua cheia iluminou sua forma monstruosa: músculos inchados, garras afiadas como lâminas e dentes gotejando sangue. Jefferson não hesitou. Jogou a arma de lado e, com movimentos rápidos, sacou kunais escondidas nas mangas de sua jaqueta.
Ele arremessou as lâminas com precisão, cravando-as nos olhos da criatura. O monstro urrou, cambaleando enquanto se debatia em agonia. Seus gritos ecoaram na floresta, cheios de uma fúria bestial.
Aproveitei a brecha. Recarreguei a espingarda, sentindo o metal gelado contra meus dedos trêmulos. Mirei e disparei contra o peito da criatura. O impacto a lançou para trás, sangue espirrando em todas as direções enquanto a besta caía no chão, ofegante.
Lentamente, o corpo começou a se contorcer e a encolher. O pelo escurecido desaparecia, os músculos monstruosos diminuindo. Em segundos, restava apenas um homem... um homem comum, com olhos arregalados de terror e o corpo coberto de sangue.
— Meu Deus... — murmurei, tentando recuperar o fôlego. — Isso foi... brutal.
— Algo o deixou assim — disse Jefferson, puxando suas kunais do cadáver.
— O que, exatamente? — perguntei, o medo ainda corroendo minhas entranhas.
Jefferson ficou em silêncio por um momento, antes de responder, sombrio:
— Não sei... mas seja o que for, ainda está nos observando.

Lua de Sangue: A Saga Lunar - Livro 2 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora