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Era início de uma manhã fresca, e o sol ainda nascia no horizonte, derramando uma luz suave sobre o campus onde Rosamaria, Carol e algumas colegas moravam e treinavam. Depois da vitória do jogo da noite anterior, Rosamaria estava exausta, mas o telefone em suas mãos exibia uma série de mensagens de Carol, como sempre, animada e insistente. Carol era a amiga que mais se aproximava de uma irmã. Havia algo naquela amizade que ia além do apoio e parceria no vôlei; as duas eram confidentes de vida, quase um equilíbrio perfeito entre o carisma de Carol e o jeito fechado de Rosamaria.
Rosamaria sorriu ao ler as mensagens, uma das poucas expressões genuínas que surgiam espontaneamente em seu rosto. Carol era a pessoa que a conhecia melhor do que qualquer outra. Naqueles momentos, era como se todo o peso que Rosamaria carregava fosse temporariamente suspenso, mas ela sabia que estava sempre lá, quieto, um segredo sombrio esperando para emergir.
Rosamaria caminhou até o refeitório onde Carol a aguardava. Assim que a viu, Carol a puxou para um abraço caloroso.
— Bom dia, Rosinha! Dormiu bem? — perguntou Carol, com aquele sorriso contagiante que iluminava qualquer lugar.
— Dormi… o suficiente, acho — respondeu Rosamaria, sem conseguir disfarçar o cansaço, mas também um pequeno alívio ao ver a amiga.
Elas pegaram o café da manhã e se sentaram juntas. Carol, como sempre, dominava a conversa com histórias e planos, e Rosamaria absorvia cada palavra, mantendo-se envolvida o suficiente para que a amiga nunca notasse o que escondia. Em muitos sentidos, Carol era uma âncora para ela, alguém que a mantinha centrada mesmo em meio aos próprios conflitos internos.
Enquanto conversavam, o assunto de Elizabeth acabou surgindo, quase como inevitável. Elizabeth era a caçula de Carol, e o carinho que Carol tinha pela irmã mais nova era evidente. Com a diferença de seis anos entre elas, Carol tinha uma visão quase maternal sobre Elizabeth, protegendo-a com cuidado, sempre de olho para garantir que a "irmãzinha inocente" estivesse bem.
— Ah, e Elizabeth está terminando as provas da faculdade essa semana. Finalmente! — comentou Carol, rolando os olhos, mas com um sorriso orgulhoso. — Ela estava tão nervosa… até me deu saudade de quando ela era mais nova e só me preocupava com ela não se machucar.
Rosamaria sentiu uma leve tensão ao ouvir o nome de Elizabeth, mas disfarçou rapidamente. A imagem de Elizabeth surgiu em sua mente, aquela garota de olhos grandes e sorriso leve que sempre parecia em paz consigo mesma, até mesmo durante as noites de celebração.
— Ela não muda, não é? — murmurou Rosamaria, tentando manter o tom casual.
— Nem um pouco — riu Carol. — Mesmo depois de ter completado dezenove, ela continua a mesma. E você sabe como é, Rosinha, ela é inocente demais para o próprio bem.
A palavra "inocente" ecoou na mente de Rosamaria, trazendo uma memória há muito enterrada. Era impossível para ela esquecer a noite do aniversário de dezoito anos de Elizabeth, o momento em que, de algum jeito inexplicável, cruzaram uma linha que jamais poderiam desfazer. As risadas, o cheiro do álcool no ar, os olhares trocados que, num instante, se transformaram em um momento inesperado e imprudente.
Foi rápido, mas para Rosamaria, aquela lembrança parecia gravada a fogo. Ela havia prometido a si mesma que esqueceria, que deixaria aquilo no passado, mas o arrependimento a assombrava. Elizabeth, por outro lado, parecia não carregar a mesma lembrança com o mesmo peso; ela havia seguido em frente, tratando Rosamaria como sempre, como se nada tivesse mudado. Essa era uma das coisas que mais a incomodavam, e ao mesmo tempo, a tranquilizavam — como Elizabeth conseguia agir com tanta naturalidade, como se aquele momento jamais tivesse existido?
Carol continuou falando sobre os planos da irmã, mencionando como Elizabeth era dedicada aos estudos e, ao mesmo tempo, buscava manter o equilíbrio, aproveitando os raros momentos de diversão. Rosamaria tentava se concentrar nas palavras da amiga, mas sua mente sempre voltava àquela noite. A sensação de culpa a consumia, mas, ao mesmo tempo, havia algo mais profundo: uma atração que ela não sabia como controlar.
De repente, Carol a cutucou, interrompendo seus pensamentos.
— Você tá muito quieta, Rosa. Tá pensando em quê?
Rosamaria forçou um sorriso e balançou a cabeça, tentando afastar qualquer traço de desconforto.
— Em nada. Só estava aqui… ouvindo você falar sobre Elizabeth. Ela deve estar aproveitando agora que as provas acabaram.
Carol riu e assentiu.
— Ah, com certeza. Você sabe como ela fica depois das provas: sai por aí como se tivesse sido libertada de uma prisão.
Rosamaria riu, concordando, lembrando de como Elizabeth costumava surgir com um brilho nos olhos, pronta para qualquer diversão. Era exatamente o que a fazia tão encantadora e ao mesmo tempo tão perturbadora para ela: a leveza e despreocupação que contrastavam tanto com sua própria seriedade.
Enquanto continuavam conversando, Carol mencionou que estava planejando uma pequena celebração para Elizabeth no fim de semana. A ideia era reunir apenas alguns amigos mais próximos para relaxar, já que Elizabeth finalmente teria um pouco de tempo livre. Rosamaria sentiu um frio na espinha ao ouvir isso; por mais que tentasse evitar, a presença de Elizabeth parecia sempre arrastá-la para um mar de emoções contraditórias.
— Você vem, não é? Vai ser só uma coisa simples — disse Carol, olhando para Rosamaria com expectativa.
Rosamaria hesitou, sentindo a pressão da resposta. Claro que ela queria ver Elizabeth, mas a ideia de estar no mesmo espaço que ela, em um momento tão íntimo, a deixava nervosa.
— É claro, Carol. Não perderia por nada — respondeu, com uma confiança que ela não sentia.
Ao longo do dia, Rosamaria tentava se convencer de que podia lidar com aquilo. Afinal, Elizabeth era a "irmã mais nova inocente", a garota pela qual ela não deveria ter qualquer tipo de sentimento além de uma simpatia amigável. E ainda assim, aquela lembrança, aquele beijo, a puxava como uma maré invisível, transformando qualquer contato com Elizabeth em uma batalha interna. Era como se o desejo e a culpa fossem rivais dentro dela, cada um tentando dominá-la.
Naquela noite, ao se deitar, Rosamaria deixou os pensamentos fluírem sem resistência. Tentou imaginar como teria sido sua vida se aquele beijo não tivesse acontecido, se tivesse sido mais racional e cuidadosa. Mas, como uma ferida aberta, a memória da expressão de Elizabeth, do toque leve e dos olhos surpresos e doces, parecia viva demais para ser ignorada.
No entanto, a maior dor talvez fosse perceber que, para Elizabeth, aquele momento parecia irrelevante. Elizabeth nunca tocava no assunto, nunca dava sinais de que se lembrava. Parecia uma página que apenas Rosamaria carregava consigo, enquanto Elizabeth seguia em frente, despreocupada.
Ao mesmo tempo, Rosamaria não podia se dar ao luxo de arriscar o que construíra com Carol. Por mais que a proximidade de Elizabeth a afetasse, a amizade com Carol era uma âncora. Ela não podia deixar que seus próprios sentimentos colocassem em risco aquela amizade, mas manter a fachada era uma luta constante, algo que a desgastava mais a cada dia.
Com o coração pesado e a mente sobrecarregada, Rosamaria decidiu que faria o possível para enterrar qualquer sentimento ou desejo. Afinal, Elizabeth era só a "irmãzinha inocente" de sua melhor amiga. Ela precisava manter essa visão, precisava acreditar que ainda tinha o controle de seus próprios sentimentos, mesmo que a realidade dissesse o contrário.
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𝐃𝐄 𝐎𝐋𝐇𝐎𝐒 𝐄𝐌 𝐕𝐎𝐂Ê.| 𝓡𝐎𝐒𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈𝐀 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐈𝐁𝐄𝐋𝐋𝐄𝐑
Fanfiction𝓡𝐎𝐒𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈𝐀| "Eu queria que ela fosse minha, apenas minha. era algo que eu não conseguia parar de ansiar por aquilo, e agora....ela será minha querendo ou não." Onde Rosamaria ansiava por Ellie, e Era capaz de matar quem ousasse tocar Ou me...