obs: capítulo reescrito.
24 de Janeiro de 2024
Melanie Mendez Lacerda
- SE ENCOSTAR EM MIM, EU TE MATO! - Gritei, colocando minha esperança no velho taco de beisebol que estou segurando, ele é tudo o que eu tenho para conseguir me defender das agressões de meu pai, que me batia como nunca tinha feito antes. E por sorte ele exitou, ficando parado. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, o meu corpo podia estar doendo, mas não se compara ao quanto meu coração queima. - NÃO FOI CULPA MINHA, ME DEIXA EM PAZ!
- E DE QUEM É A CULPA, MELANIE? A HELENA PODERIA TER SIDO MORTA - Ele apontou para a minha madrasta que está sentada no sofá, assistindo aquela discussão com um sorriso nos lábios, mas quando percebia o olhar do meu pai sob ela, voltava a chorar, fingindo estar magoada
Quando eu tinha treze anos o crime cresceu drasticamente na cidade em que moramos, todos os dias os jornais anunciavam a morte de civis atingidos por tiros em brigas de gangues e em uma tentativa falha de reduzir o número de mortes, aumentaram a ronda de policiais, mas nada parecia ser o suficiente para trazer a paz de volta. Lucian Mendez, meu pai e chefe de polícia, decidiu tomar a pior decisão que ele poderia ter em toda a sua vida, se aliar aos Hellhounds
O acordo que fizeram, consistia em nossa família ser protegida e em troca, o caminho seria aberto para que eles pudessem conquistar a cidade, nenhum policial os impediria. Era uma jogada de mestre que beneficiaria ambas as partes, mas meu pai sempre foi muito ganancioso e em um jantar, ele me apresentou para Matthew Castillo, o filho do chefe da gangue Hellhounds e como se o destino pudesse ouvir as suas súplicas, nós nos apaixonamos perdidamente um pelo outro
Matthew era perfeito. Sempre se importou com os meus sentimentos, medos e em meus piores dias fazia de tudo para que eu me alegrasse, era o responsável por minhas melhores risadas, não havia nenhuma outra pessoa que eu quisesse perto de mim e eu o amei com tudo o que eu pude, mas ele mudou quando assumiu a liderança da gangue. Começou com as idas a boates, bebidas, drogas, não se lembrava mais das nossas datas comemorativas, gritos, brigas, idas e vindas, até que começou a me perguntar, se eu não o amava por nós nunca termos transado e eu comecei a sentir que não era mais a garota que ele amava, era apenas a namorada virgem e por isso, terminamos
- QUER SABER DE UMA COISA? A HELENA NÃO FOI ASSALTADA PORQUE O MATTHEW DEIXOU DE PROTEGER A NOSSA FAMÍLIA, ISSO ACONTECEU PORQUE ELA ESTAVA NO BAIRRO INIMIGO, COLOCANDO UM PAR DE CHIFRES EM VOCÊ! - Respondi em defensiva, a raiva fervendo dentro de mim e eu pude sentir em seu olhar o ódio que sente por mim aumentar, em um movimento rápido ele se aproximou e eu o atingi com toda a minha força com o taco de beisebol que bateu em suas costas, partindo ao meio. - SOCORRO!
Grito por ajuda, alguém deve estar acordado e se me escutasse implorando por ajuda, poderia ligar para a polícia ou poderia bater na porta de casa, perguntando se tem algo errado. Eu não me importo quem seja, só quero que meu pai pare de me machucar, está doendo muito, não aguento mais. Sou jogada no chão com um empurrão, minhas costas se chocam contra o chão, me fazendo gritar de dor
- ISSO É PRA VOCÊ APRENDER A ME RESPEITAR - Esbravejou, me arrasto para longe e ele me puxa pela perna, ficando por cima de mim. Posso ser forte mas meu pai ainda é o dobro do meu tamanho e foi treinado a vida inteira para pegar bandidos. - VAGABUNDA
Meu rosto queima quando o primeiro tapa atinge o meu rosto, choro enquanto me debato para tentar escapar de suas mãos, isso só o incentivou a continuar, me acertando com socos na barriga
- AGORA VOCÊ SABE CHORAR, CARALHO! - Disse quando eu comecei a implorar para que ele parasse, mesmo não sendo minha culpa, estou desesperada, por favor, pare. Ninguém deveria viver desta forma, a minha vida não pode ser assim, meus sentimentos também são importantes, não são? - ESTOU CANSADO DE TER QUE OUVIR TODOS OS DIAS DA FAMÍLIA CASTILLO QUE VOCÊ NUNCA PASSOU UMA NOITE SEQUER COM O FILHO DELES, SABE O QUE SIGNIFICA ESSE COMENTÁRIO? QUE ELES TE ACHAM UMA VADIA MENTIROSA E QUE A SUA VIRGINDADE, NÃO EXISTE! - Ele se levanta, atingindo com toda força um chute nas minhas costas. - SE ELE QUER TE COMER, VOCÊ VAI ABRIR AS PERNAS PELO BEM DESTA FAMÍLIA, ENTENDEU?
Fecho os olhos quando sinto minha força indo embora, me fazendo ficar deitada, imovél. O meu pai gritava algo sobre eu respeitar a Helena mas não consigo escutar direito, a voz dele foi cada vez mais ficando abafada, se misturando aos zumbidos que atingiram os meus ouvidos. Alguém que te ama não faria isso, não importa quão irritado esteja, isso me faz pensar, se o dinheiro é capaz de comprar até mesmo o seu caráter ou se no fundo, o meu pai sempre foi assim, ele nunca me amou de verdade? Nunca se importou comigo?
A campainha toca e o silêncio se instalou naquela casa, finalmente, alguém veio me resgatar
- Abram a porta IMEDIATAMENTE, aqui é a polícia - Forcei um sorriso me sentindo aliviada, se ninguém abrir a porta, eles certamente irão arrombar. Esta é a minha única chance de escapar, não importa o quanto esteja doendo, se eu me esforçar vou conseguir ficar de pé, vou embora daqui. Apoiei as minhas mãos no chão tentando tomar impulso para levantar. - EU NÃO VOU REPETIR!
Respiro ofegante quando consigo me sentar, falta pouco
- Me d-desculpa chefe, eu não sabia que essa era a sua casa! - O policial estremece quando meu pai abriu a porta e quando seus olhos encontraram os meus, consigo sentir o seu medo e pena. Não eu não quero sua pena, quero que me leve embora daqui, por que ele continua parado? - Senhor, nós recebemos algumas ligações informando que ouviram gritos... A sua filha está bem?
- Me tira daqui, por favor - Peço chorando e ele me ignora
- Ela está ótima, não consegue ver? - Meu pai diz irritado - Escutem, a educação dela é minha responsabilidade e se eu não educar, quem vai? O mundo e eu tenho certeza que vai ser muito pior
- Não... Por favor não vai embora, não me deixa aqui - Soluço de tanto chorar
- Você não vai querer arrumar problema comigo por causa dela, vai? - Aquilo não soava como uma pergunta para mim, era uma ameaça - Melanie é uma garota de dezessete anos, irresponsável e não sabe o que faz da própria vida e você vai colocar a sua carreira em jogo por causa disto?
É a minha vida também,
Não me deixe morrer aqui.
