Cantingas tristes

O velhinho que morreu

Em um certo dia, como todos os outros. O velhinho da cidade sentava sozinho na calçada, triste por não ter nenhuma companhia. Até que em uma bela tarde, ele escutou uma garota lhe direcionando uma palavra.
   Mal acreditou, não havia recebido visitas há muito tempo, só percebeu que era para si quando ela estendeu a mão toda sorridente para cumprimentá-lo. Ninguém descreveria com perfeição a felicidade que o velhinho exalava. A garota meiga lhe desejou uma boa tarde, surpreso. só a encarou com brilho nos olhos.

   Na manhã seguinte, bem cedo, o velhinho preparou seu café com bastante adoçante e se sentou na calçada. A garota de ontem, passava com a mochila nas costas com o sorriso de orelha a orelha.
"Bom dia, velhinho" ela falava.
"Bom dia, garota" ele retribuía.
   Nos dias que se passaram, O velhinho que era solitário e melancólico, ganhou uma companhia para conversar, ele e a garota tomavam café quase todas as tardes. Para ele, ela era como um anjo que caiu do céu. Considerava como uma filha.
   Foi assim por meses, até que a jovem ficou...
   Uma.
   Duas.
   Três semanas sem passar em frente a casa do idoso.

   O velhinho ficou preocupado com o sumiço repentino então abordou sua vizinha para perguntar se sabia de alguma coisa.
"Oi, posso te fazer uma pergunta?" o velhinho começou.
A mulher, que varria sua calçada, parou assim que notou a presença dele.
"Pode sim." respondeu.
"Uma garota tinha o costume de tomar café comigo todas as tardes. Sabe o paradeiro dela? perguntou com preocupação.
"Desculpe velhinho, mas nunca vi uma garota tomando café com o senhor." a mulher voltou a varrer, ignorando ele.
  Inconformado com essa resposta, ele perguntou para todos os seus vizinhos. Os vizinhos, confirmaram o que a vizinha alegou.

   Semanas depois ele se encontrava triste. Não tomava seus cafés e muito menos tinha vontade de comer. Se sentia excluido e sozinho novamente. Desejava intensamente que a garota voltasse para lhe fazer companhia.
   Poderia dizer que ele ficou em depressão, não tinha mais nenhuma vontade de viver. Não queria estar neste mundo sendo deixado de lado por todos, só esperando sua morte. Então, fez uma decisão que mudaria tudo.
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   A vizinha, varrendo sua calçada, sentiu um mal cheiro. Encomodada com aquilo, foi seguindo as moscas no rumo da catinga. A porta do velhinho estava encostada, e, ao longe ela avistou seu corpo sem vida no chão da cozinha.
   Horrorizada, chamou a polícia imediatamente. Quando eles chegaram e investigaram a causa da morte, confirmaram que foi suicídio. O velhinho teria atirado em seu coração.
"Ele tinha algum problema psicológico?" o policial perguntou.
"Seu policial, o velhinho perdeu sua filha em um acidente há muitos anos. Desde então, ele começou a alucinar." fez uma pausa, começando a chorar. "Todas as tardes, víamos o conversar sozinho na calçada."

   O policial, que escutava atentamente perguntou. "Este episódio aconteceu mais de uma vez?"
"Sim, ao todo foram duas vezes, na primeira ele brigou com todo mundo. Disse que não queria falar com ninguém, somente com sua falecida filha."
   O policial fez outra pergunta. "Como ela morreu?". A mulher disse por fim "Segurava em suas mãos a pistola do pai, que estava carregada. Sem querer, ela tocou no gatilho e a bala foi bem em seu coração."

O velhinho carregou esta culpa por anos, criou a imagem de Margot --- sua filha --- na mente para suprir a saudade da verdadeira. Afastou todos de se na primeira crise mental. O coitado morreu de tristeza. Triste por não ter sua garota de volta, por pensar que tudo aquilo teria sido sua culpa.

O velhinho que morreu, merreu cansado de viver.

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Cantigas são conhecidas como "histórias antes de dormir", pensando nisso, não planejo fazer capítulos com mais de 1500 palavras. É a primeira vez que tento fazer alguma coisa parecida, e achei isso ótimo para não deixar que meus enredos — que são muitos — caiam no esquecido.