O salão do castelo estava coberto de velas, seda e tudo que fosse verde (ou melhor, tudo que fosse cor dos Hightower). A brisa de fim de tarde adentrava pelas janelas arqueadas, agitando as bandeiras dos Hightower e dos Tully que pendiam sobre a multidão de nobres reunidos para testemunhar a união que ninguém previra: Otto Hightower, a Mão do Rei, e Molinna Tully, a jovem e vibrante filha de Elmo Tully. O homem era recém viúvo, sua esposa tinha falecido há alguns meses e Molinna era apenas um ano mais velha que sua filha, Alicent.Linna vestia-se de forma impecável, com um vestido azul como os rios de Correrrio, o tecido delicado ornamentado com fios de prata, e um pequeno decote que mostrava apenas o necessário. O rosto delicado estava iluminado por um olhar quase insolente. Ela era uma Tully de espírito e essência, uma flor rara no meio da daquele lugar.
A princesa Rhaenyra, e Alicent, filha de seu futuro marido, estavam penteando seu cabelo. Elas haviam se tornado suas amigas no tempo em que passara em Porto Real, quando chegou ela ficou encantada com a princesa, Rhaenyra a mostrou Syrax e a convenceu de que quando a dragão crescesse colocaria uma sela a mais para Molinna voar junto dela, as duas se davam muito bem. E Alicent e ela eram quase grudadas, faziam tudo juntas, mas as vezes Alicent ficava um pouco sem jeito quando tocavam no assunto do casamento.
Molinna lembrava-se das risadas nos corredores, dos murmúrios sobre os pretendentes das meninas e como elas haviam se tornado amigas tão rapidamente.
Ao seu lado esquerdo estava como um pedestal parada Alicent, que vestia um vestido tom verde profundo com detalhes dourados na cintura, mangas cumpridas e nenhum decote, apenas subia para o pescoço. Ela permanecia em silêncio, os lábios cerrados em uma linha quase imperceptível.
Para todos ali, o casamento era um feito político extraordinário, consolidando poder e influência. Mas para Alicent, ele vinha carregando sentimentos contraditórios. Por mais que nutrisse um afeto genuíno pela amiga que Linna havia se tornado, a ideia de vê-la assumir o papel de sua madrasta era desconcertante, havia uma sensação amarga de invasão, como se a Tully estivesse cruzando uma linha invisível e ocupando um espaço que antes pertencia apenas a sua mãe.
Enquanto penteava os cabelos castanhos da menina um ano mais velha que ela, Alicent tentou esconder a inquietação que se enraizava em seu peito. Ela temia que, ao se casar com Otto, Molinna não apenas se tornasse parte de sua família, mas também ocupasse um papel que poderia bater de frente com o dela.A menina sentada estava imersa em seus próprios pensamentos quando sua amiga, a princesa Rhaenyra, parou a sua frente e a avisou que era hora de entrar. Então ela pegou sua mão com delicadeza e a levou até o salão, feliz por agora ter sua nova amiga por perto agora.
Molinna sorria, sentindo o coração bater com uma mistura de excitação e ansiedade. Ela sabia que ao final daquela noite, ao proferir seus votos diante de todos, estaria aceitando não apenas seu senhor, mas também uma vida nova. Ela teria que dançar no limite entre fidelidade e liberdade, entre dever e desejo.
Mas ela tinha certeza que conseguiria, seu pai sempre a disse que se casaria com alguem de valor, alguém importante, e assim sempre foi, enquanto a maioria das damas da corte sonhava com devaneios de amor, Linna sabia que o casamento tinha propósitos distintos, o olhar calculista de Otto Hightower ao final do salão lhe lembrava disso.
Esse não era o casamento que seus sonhos juvenis haviam tecido; era o casamento que a realidade demandava.A cerimônia começou, e ao entoar as palavras do juramento, Molinna ergueu o queixo e encarou Otto, cujos olhos frios e inabaláveis pareciam capturar cada pensamento que passava pela mente dela. Naquele instante, entrelaçada a ele por promessas ditas em voz alta e pela presença das suas amigas ao seu lado, Molinna disse a si mesma que usaria a posição ao seu favor, que não seria apenas uma esposa submissa.
Quando o juramento foi selado e os aplausos ecoaram pelo salão, Alicent manteve o sorriso no rosto, ainda que o sentimento de desconforto permanecesse. Porque ali, diante dos olhos de todos, uma nova aliança havia sido firmada, e Molinna Tully, —agora Hightower —era mais do que sua amiga, era um lembrete constante de que, em um jogo de poder, até as amizades mais próximas podiam se tornar desafios.
E assim, enquanto as vozes se elevavam em aplausos e o salão ressoava celebrações. A união de Otto e Molinna Hightower marcava o início de um novo capítulo – um capítulo em que alianças e amizades seriam testadas.
Naquela noite, enquanto os festejos tomavam conta do salão e o vinho corria em abundância, Alicent soube que teria de dividir muito mais do que apenas seu pai.~
Após a cerimônia, Molinna sabia que não tinha como fugir; ela teria que consumar o casamento com seu senhor.
Então quando Otto Hightower entrou no quarto, ela se manteve sentada calmamente na cama, observando-o com o olhar astuto e calculado que lhe era característico. No entanto, para sua surpresa, Otto não foi nada do que ela esperava.
Em vez de uma aproximação fria, ele se sentou ao seu lado, um gesto quase tímido. Com um leve sorriso, Otto quebrou o silêncio.
—Molinna, sei que este casamento é mais do que um simples laço de afeto ou escolha... mas desejo que possamos, ao menos, compartilhar respeito.
Linna, surpresa com sua suavidade, assentiu lentamente, sentindo-se, pela primeira vez em dias, um pouco menos acuada. Ele continuou a falar, sua voz baixa e tranquila.
—Sei que este é um novo mundo para você, assim como é para mim,— confessou. —O que quero dizer é que... não temos pressa. Nossa relacionamento não precisa ser construído no desconforto.Ele a olhou delicadamente, e Molinna se viu desarmada. Por um momento, as palavras que preparara para esse encontro – de resistência ou distanciamento – dissiparam-se. A jovem sentiu uma inesperada sensação de conforto diante da gentileza de Otto.
Após alguns momentos, ele se aproximou, tomando sua mão e segurando-a com leveza.
—Se você quiser, podemos dar tempo ao tempo, —disse, passando o polegar suavemente pelo dorso de sua mão, um gesto que, para Linna, pareceu mais intimista do que qualquer outra coisa que poderia ter acontecido naquela noite.

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Entre dragões e coroas
FanficMolinna Tully, filha de Elmo Tully, foi criada em Correrrio, longe das encrencas da Fortaleza Vermelha. Mas, ao se casar com Otto Hightower, ela se vê bem no meio de tudo. Ela se verá dividida entre seu dever, suas amizades e o desejo de manter seu...